Star Wars já foi um sonho visionário de um diretor. Já foi uma grande máquina para vender brinquedos. Foi um grande marco na cultura pop. Foi também o objeto de um infame retorno há quase vinte anos. Em 2017, em que a nostalgia leva cada vez mais pessoas aos cinemas, é certo dizer que, quando o público lê “Há muito tempo, numa galáxia tão, tão distante…”, letreiro sempre presente no início dos filmes da série, o foco está tanto na parte do “há muito tempo” quanto na da galáxia.

Star Wars: Os Últimos Jedi, o segundo a ser escrito e dirigido sob a batuta da Disney e sem o envolvimento do criador original dos personagens, George Lucas, é um filme que busca, em meio a toda a sua ação e narrativa, encontrar o cerne do que a série é hoje em dia. Claro, com tanto dinheiro envolvido, Rian Johnson, realizador independente de primeira categoria, tenta fazer agradando a gregos e troianos, dando às massas todas as lutas e batalhas intergalácticas esperadas da série ao mesmo tempo em que dá bastante tempo de cena a diálogos bastante focados em temas expostos na trilogia original.

A questão do tempo é importante: com duas horas e meia, esse é o filme mais longo da franquia até agora. Enquanto é fato que ele poderia ser mais enxuto, os altos e baixos do roteiro se complementam, de modo que sempre temos uma grande sequência frenética intercalada com duas ou três de desenvolvimento narrativo. Esse balanço é o maior trunfo do filme.

Os Últimos Jedi é a primeira produção da série desde a década de 80 a se debruçar fortemente sobre o conceito da Força e todos os desdobramentos filosóficos e religiosos (sim, os Jedi são descritos como uma religião) do uso de uma energia que conecta tudo o que existe no universo. O tema clássico de bem contra mal, tanto reforçado por Lucas no desenvolvimento dos três primeiros filmes, aparece claro na interação acertada entre a protagonista Rey (Daisy Ridley) e o vilão Kylo Ren (Adam Driver).

A despeito de todo o som e fúria, o que está em primeiro plano no longa é uma história de sedução. Separados fisicamente, os personagens conseguem se comunicar telepaticamente através da Força e discutem suas visões conflitantes sobre ela em conversas habilmente editadas. Rey, isolada numa ilha e ignorada pelo Mestre Jedi Luke Skywalker (Mark Hamill), é tentada pelo conhecimento da Força que Kylo aparenta ter, não muito distante de uma versão sci-fi de A Última Tentação de Cristo. Ele, por sua vez, vê nela um ser semelhante com quem uma união seria possível.

Nesse sentido, o vilão não está exatamente errado. Ambos são jovens distantes de seus pais e que têm problemas com o conceito de legado. A abordagem do roteiro retoma a ideia de Lucas de que, no fundo, Star Wars é uma saga familiar, em que a maneira como as gerações interagem umas com as outras tem grande papel.

Ao redor disso, há humor de sobra (o personagem de Domhnall Gleeson está um espetáculo), vários bichinhos fofinhos que viraram uma presença garantida na saga, planetas mirabolantes porém totalmente críveis (com destaque para o que serve de sede para um luxuoso cassino intergalático) e cenas incrivelmente fotografadas. Destas, destaco a batalha que ocorre nos aposentos do Líder Snoke (Andy Serkis) – provavelmente a mais bela e coreografada de toda a franquia.

Os Últimos Jedi não vai ser considerado o melhor da franquia pois utiliza demais referências de filmes anteriores para dar certo – ainda que o faça de maneira menos gritante que o anterior O Despertar da Força. Porém, de todos os filmes a chegar na telona desde que os créditos rolaram em O Retorno de Jedi, é o que melhor se posiciona para esse posto. Com farta história e delírios visuais, o novo Star Wars é feito do mesmo material que nos faz sonhar com galáxias distantes há exatos 40 anos – uma pura demonstração da Força.