Líder da bilheteria americana em seu final de semana de estreia, “Godzilla II: O Rei dos Monstros” se torna mais um capítulo na franquia que apresenta monstros mitológicos ganhando vida e destruindo parte do mundo. Desta vez, o diferencial da produção é adicionar novos monstros, resultando no duelos entre gigantes – parte que se torna o principal acerto da obra, entregando exatamente o prometido. Para além disso, o filme não apresenta nada realmente novo, apenas uma trama familiar mal desenvolvida, personagens superficiais e a total americanização da história sobre o antigo Gojira.

“Godzilla II: O Rei dos Monstros” começa logo após aos acontecimentos do filme de 2014, em São Francisco, onde o monstro radioativo destruiu parte da cidade e matou o filho de Emma (Vera Farmiga) e Mark Russell (Kyle Chandler), os separando após o ocorrido. Anos depois do desaparecimento de Godzilla, Emma continua estudando a existência de monstros ao lado da filha Madison Russell (Millie Bobby Brown). Entretanto, os planos de Emma em unir os gigantes e humanos em uma convivência harmoniosa dão errado, colocando a vida de todos em perigo.

Mesmo com o foco principal destinado aos monstros, é curioso ver como a trama familiar se desenrola, considerando que se tratam de personagens superficiais ao extremo: Emma fica restrita a uma cientista idealista e quase ingênua, Madison simboliza o filho dividido entre os pais durante a separação até realmente tomar uma decisão própria e Mark é o herói para qualquer momento do longa – independente se existem pessoas mais qualificadas, ele sempre é o personagem a salvar a trama em diversas oportunidades.

Somente neste núcleo já temos três atores mal aproveitados, o que se prolonga para Sally Hawkins e Charles Dance, ambos com participações bem restritas. Também não podemos esquecer a cota asiática do longa: Ziyi Zhang e Ken Watanabe, os quais são destinados a relembrar as origens japonesas da história, com direito, inclusive, a um ‘Gojira’ em sotaque carregadissímo.

O descaso com a história de Godzilla é resultado da total americanização da trama. Apesar da origem simbólica ligada ao reflexo do caos criado por seres humanos, o antigo Gojira é esquecido de vez em razão de uma trama com explosões e batalhas épicas. Mesmo a inserção de atores asiáticos no elenco é mais um resultado da popularização de filmes na bilheteria chinesa do que uma preocupação com a representação da história original.

Um duelo de gigantes

Com poucos atrativos e uma grande superficialidade no roteiro, os bons momentos do filme ficam restritos aos conflitos entre monstros gigantes. Inicialmente é bem interessante a forma como o diretor e roteirista do filme Michael Dougherty (“Krampus: O Terror do Natal”) dá vida ao imaginário popular sobre a existência de monstros invencíveis e destruidores: as cenas escuras, geralmente em meio à tempestades, revelam pouco a pouco detalhes dos monstros em diferentes cenários, sempre de forma grandiosa.

Apesar da história focar em alguns monstros principais como Ghidorah, o dragão com três cabeças e Mothra, a mariposa aliada de Godzilla, é notória a preocupação em criar apresentações diferentes para cada gigante, influência do universo compartilhado de monstros.

Um fator que também colabora muito para o engrandecimento dos monstros na narrativa é a escolha por criar pequenos conflitos no decorrer da história, sem restringi-los ao confronto final. Desta forma, o filme cria uma ótima preparação para seu desfecho, sem entregar todo o potencial dos oponentes.

O que promete o universo compartilhado?

Desde “Kong: A Ilha da Caveira”, um crossover entre King Kong e Godzilla está prometido para acontecer. Neste sentido, “Godzilla II” foi um importante capítulo deste universo compartilhado ao apresentar personagens em potencial para a batalha entre os dois monstros. Algumas cenas durante os créditos do longa reforçam bastante esta ideia: o suposto ovo de Mothra e a cabeça resgatada de Ghidorah são os potenciais ajudantes de Godzilla e Kong, respectivamente. Além disso, o filme também destrói a fonte que renova os poderes de Godzilla, podendo ser uma previsão sobre seu fim.

Para o bem ou para o mal, o segundo longa do monstro radioativo fica limitado a sua proposta e segue à risca a fórmula do blockbuster americano. Assim, ótimas oportunidades apresentadas pela origem do Godzilla e por seu grande elenco são deixadas de lado, sem qualquer engajamento maior com o público ou tentativa de alçar uma relevância temática. Apesar de não ser o filme mais forte da franquia, “Godzilla II” consegue atingir seu objetivo principal: entregar o duelo entre gigantes que prometeu e nada mais.