Alguns documentários parecem determinados a provar aquele ditado de que a vida real pode ser muito mais absurda do que a ficção: Três Estranhos Idênticos é um desses casos. A estreia na direção de Tim Wardle, que quase ocupou uma das vagas para disputar ao Oscar da categoria, parte de um caso insólito que poderia ser apenas um “causo” curioso, mas cujas implicações revelam um cenário maior, misterioso e complexo, digno de thriller de teoria da conspiração.

Tudo começa em 1980, quando um rapaz de 19 anos chega a sua nova universidade e é recepcionado com alegria por pessoas que parecem conhecê-lo, mas a quem ele nunca viu na vida. Esse é o ponto de partida para três gêmeos idênticos que, até então, nem sabiam da existência um do outro, se conhecerem e descobrirem que foram separados no nascimento e adotados por diferentes famílias. São esses os Três Estranhos Idênticos do título, Edward Galland, David Kellman e Robert Shafran.

Assim, intercalando fotos e trechos de reportagens da época, entrevistas com os gêmeos e outros envolvidos e breves simulações dignas de telefilme do Discovery Channel, Wardle vai desenrolando a história dos irmãos, a relação entre eles e o circo midiático criado em torno do caso, com direito até a – pausa para trívia importante – aparição dos protagonistas em Procura-se Susan Desesperadamente.

Não que o caso dos trigêmeos separados seja exatamente novo, o que até torna surpreendente que tenha levado tanto tempo para surgir um documentário. Porém, é justamente esse o grande truque de Três Estranhos Idênticos: revelar aos poucos os desdobramentos da história até chegar aos pontos mais tenebrosos do caso, em uma montagem que assume sem vergonha alguma o recurso de um plot twist atrás do outro para criar tensão. Se, por um lado, alguns momentos podem parecer simplesmente manipulativos e beirarem o sensacionalismo, na maior parte do tempo, o recurso funciona tão bem que explicitar aqui quais são as revelações do caso pode estragar a experiência de quem não está familiarizado com a história.

Nesse sentido, a montagem de Michael Harte é eficiente ao continuamente retomar elementos já vistos anteriormente no filme, dessa vez com o objetivo de chamar a atenção para detalhes que potencialmente passaram despercebidos pelo espectador. A partir disso, revelam-se novas fontes e entrevistas e, em seu último ato, principalmente, o filme passa a tecer uma importante reflexão sobre ética, livre arbítrio e determinismo genético que enriquece a narrativa contada até então.

Assim, embora em meio a recursos e acesso limitados a elementos-chave que poderiam apresentar maiores desdobramentos, Três Estranhos Idênticos faz um trabalho competente ao montar o panorama da história dos trigêmeos separados e apresentar os dilemas em torno do caso, culminando em um questionamento final que parece estar bem longe de ser resolvido.