É inegável o sucesso da Disney em seus projetos envolvendo filmes de animação, porém quando o assunto é live-action o estúdio ainda avança com certos tropeços pelo caminho. Os sintomas disto podem ser vistos com a aquisição de grandes produtoras como a Lucasfilm e Marvel, que atraem um grande público jovem e até mesmo adulto, mas se distancia do entretenimento infantil sempre priorizado pela Disney.

Um grande recurso para a continuidade desta proposta é a perfeita mistura entre realidade e fantasia. Até 2010, o estúdio realizava produções memoráveis como As Crônicas de Nárnia (2005) e Ponte Para Terabítia (2007). Seus trabalhos mais recentes, entretanto, incluem grandes alvos de críticas negativas como Alice no País das Maravilhas (2010) e Caminhos da Floresta (2015).

Assim, ‘Uma Dobra no Tempo’ se torna mais uma tentativa de emplacar o estilo tão conhecido por seu público. O filme apresenta Meg Murry (Storm Reid) e seu irmão adotivo Charles Wallace (Deric McCabe)  lidando com o sumiço de seu pai, Alex Murry (Chris Pine), que está desaparecido há quatro anos. Com a possibilidade de reencontrá-lo, ambos embarcam em diversas aventuras e desafios sobre si mesmos.

Um dos pontos mais interessantes do filme é a apresentação do fator fantasioso a partir de conceitos da física. Desde o título até a citação de grandes cientistas, o longa aborda todo potencial educativo dessa inserção, tornando o extraordinário facilmente relacionável com seu público. Desta forma, o conhecimento aparece diversas vezes na trama como solução e crescimento para seus personagens.

Meg é bem sucedida como protagonista, sua construção passa longe da superficialidade, sendo capaz de se renovar a cada novo conflito e, ao mesmo tempo, ser fiel à personalidade inicial. A interação da personagem com Charles Wallace e o amigo Calvin (Levi Miller), são determinantes para que estes aspectos sejam bem compreendidos pelo espectador.

Quando se tratando da realidade, os cenários são extremamente comuns, trazendo à tona o meio escolar e bullying como pontos de dissidência. Neste sentido, a história começa a ficar interessante à medida que conhecemos melhor os personagens e vislumbramos Charles Wallace em uma cena de subversão, questionando qual tipo de conhecimento vindo de figuras adultas é relevante.

No meio fantasioso, pequenas colocações científicas são realizadas conforme a história avança. O primeiro contato é realizado a partir de três viajantes com nomes relacionados a indagações: O que é (Reese Witherspoon), Quem (Mindy Kaling) e Qual (Oprah Winfrey). Assim, para compreender a relatividade do tempo/espaço na qual estão mergulhando, Meg, Charles e Calvin precisam se relacionar com questionamentos, também evitando o senso comum ligado ao vilão Aquilo.

Todos estes conceitos referem-se de forma eficaz à ameaças como preconceito e o discurso de ódio. A representatividade colocada por Ava DuVernay até mesmo na escolha do elenco se confirma em momentos propícios do filme, mostrando como sentimentos mal direcionados podem desencadear problemas decorrentes para qualquer um.

Com diversos aspectos positivos e importantes, ‘Uma Dobra no Tempo’ se torna refém de erros comuns de seu gênero. Os perigos são apresentados apenas para incitar obstáculos, principalmente após a missão central de encontrar Alex Murry ser realizada, isto se reforça com um vilão ausente mesmo quando está em cena.

Sim, por mais confuso que pareça, quando Aquilo realmente tem oportunidade de mostrar seu poder, a atuação de Deric McCabe se torna responsável pelo momento. A utilização de Charles Wallace para representar o antagonista não entretém e ainda insere pretensões que ficam sem resposta (como a escolha de Alex por salvar apenas Meg). Desta maneira, o último ato do filme quebra grande parte da imersão construída anteriormente.

De modo geral, o longa de DuVernay é eficaz para seu público, levando grandes méritos ao inserir lições correlatas à realidade. Os valores e conhecimentos apresentados pela história também retratam a necessária busca por representatividade em Hollywood. Com esta nova abordagem aliada à emoção e sensibilidade presente nos filmes Disney, coisas boas devem vir pela frente.