O lançamento de Os Vingadores em 2012 pode ser comparado a um terremoto que sacudiu Hollywood. Certamente, todos os estúdios e os grandes executivos da indústria do cinema prestaram atenção no filme que reunia os heróis Marvel, especialmente no fato dele ter se tornado a terceira maior bilheteria mundial, atrás de Avatar (2009) e Titanic (1997).

E ninguém sentiu mais esse impacto do que o estúdio Warner Bros. Lá é a casa cinematográfica do Superman, do Batman e de todos os personagens da editora DC Comics. De repente, esse terremoto acordou o estúdio, que percebeu estar sentado numa proverbial “mina de ouro” pouco aproveitada, e o resultado desse despertar nós conheceremos ano que vem, quando Batman vs. Superman: A Origem da Justiça estrear.

marvel studios

Marvel vs. DC: Universos paralelos

Diferente da DC, a Marvel nunca teve uma casa cinematográfica até poucos anos atrás. Na verdade, a história da Marvel no cinema foi muito complicada no começo e, por muito tempo, eles estiveram atrás da rival. No início da década de 1990, enquanto a Warner faturava milhões com os filmes do Batman dirigidos por Tim Burton, a Marvel via seus heróis passarem vexame com filmes vergonhosos. Foi então que o pessoal da Casa das Ideias (o apelido pelo qual a Marvel é conhecida) resolveu botar a cabeça no lugar e esperar: pelo projeto certo e pelo desenvolvimento tecnológico do cinema, que poderia mostrar os poderes fantásticos dos seus personagens de forma adequada.

E esperar se mostrou a estratégia ideal. Essa foi a principal diferença entre a Marvel e a DC na sua caminhada no cinema: a primeira demonstrou uma visão de longo prazo. A Marvel licenciou alguns dos seus principais heróis para outros estúdios e viu cineastas talentosos como Bryan Singer e Sam Raimi assumirem as rédeas dos projetos com esses heróis, e, em seguida, viu os lucros astronômicos desses filmes entrando no cofre, se fortalecendo cada vez mais como marca e como potência cinematográfica.

Já a Warner/DC nunca teve essa visão de longo prazo e, por décadas, viveu só de Superman e Batman, vendo as franquias desses respectivos heróis definharem com continuações cada vez piores. Como os personagens humanos que vemos nas histórias de super-heróis, o estúdio ficou à espera de um salvador, um visionário capaz de injetar vida nova aos seus projetos. Essa figura enfim apareceu na forma de Christopher Nolan, que reinventou Batman após o personagem ter atingido o fundo do poço no cinema. A figura de Nolan foi tão dominante que se tornou o verdadeiro superpoder dentro do estúdio, e no fim das contas, sua visão acabou sendo o maior diferencial entre os projetos Warner/DC e os da Marvel. Talvez até mesmo sem que Nolan esperasse ou quisesse isso.

Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge

DC: Por que tão sério?

Alguns anos depois a Marvel inaugura seu próprio estúdio, apenas usando outros gigantes de Hollywood para distribuir seus filmes – primeiro a Paramount na “Fase 1” do estúdio, e agora a Disney. Lá nunca apareceu nenhum salvador: os filmes do estúdio foram feitos por gente competente, embora sem muita personalidade. Os filmes da Fase 1 estabeleceram os alicerces para Os Vingadores, num trabalho que foi construído ao longo de alguns anos.

Na Fase 1 não houve muita ousadia: os filmes nos apresentavam aos heróis, aos seus conflitos e características básicas, e, às vezes, até pareciam que se preocupavam mais em preparar o terreno para Os Vingadores do que em contar suas próprias histórias. Enquanto os filmes da Fase 1 da Marvel eram lançados, Nolan e seu Batman sério e sombrio dominavam o estúdio rival. Eram abordagens quase que opostas: os filmes da Marvel eram vistos apenas como divertidos, enquanto os de Nolan “reinventavam o gênero” e representavam a visão de um cineasta.

capitão américa 2 o soldado invernal

Fase 2: O momento de ousadia da Marvel

Porém, a história fica mais interessante quando a Marvel partiu para fazer os filmes da Fase 2. Eles puderam relaxar graças ao sucesso e se permitiram ousar mais. Tivemos então filmes estilisticamente diversos e com tons variados. Thor: O Mundo Sombrio (2013) era uma fantasia; Capitão América 2: O Soldado Invernal (2014) foi um thriller de ação e suspense e bem sério, para os padrões do estúdio; e Guardiões da Galáxia (2014) uma divertida ópera espacial. Ao mostrar ousadia e lançar filmes com qualidade – exceto por Homem de Ferro 3 (2013) – a Marvel se tornou a maior força do entretenimento hoje em dia, deixando sua rival comendo poeira.

Enquanto isso a Warner/DC, sentindo que precisava ganhar terreno frente à invasão dos heróis Marvel nas telas, resolveu pisar no acelerador relançando o Superman e depois partindo de cara para o início da Liga da Justiça. O Homem de Aço (2013), dirigido por Zack Snyder, segue a cartilha Christopher Nolan, que foi produtor do filme. O tom é sério e a narrativa possui tons épicos e momentos dramáticos. E o filme parece uma resposta à concorrência, exibindo ação vertiginosa e mais destruição que em Os Vingadores.

O Homem de Aço é um filme polêmico e não convenceu inteiramente o público. E a estratégia da Warner/DC é arriscada: enquanto a Marvel passou alguns anos e cinco filmes estabelecendo os personagens que se reuniriam no seu supergrupo em 2012, a Warner/DC quer dar os primeiros passos na direção da Liga da Justiça já em Batman vs. Superman – além dos dois heróis, também já estão confirmados na história o Aquaman e a Mulher Maravilha.

Batman vs. Superman: A Origem da Justiça trailer

Vingadores: A Era de Ultron tem influência sobre Batman vs. Superman?

Bem, a Warner/DC brinca com a ideia de reunir o Homem Morcego e o Homem de Aço há anos: até o pôster do suposto filme apareceu de relance e em tom de brincadeira em Eu Sou a Lenda, de 2007… Mas a mera existência de Batman vs. Superman em 2016 demonstra o impacto de Os Vingadores. Aquele filme provou que, para o grande público, só há uma coisa melhor que um herói: vários deles. A Era de Ultron, a sequência, não tem o mesmo impacto do filme de 2012 e parece mais do mesmo – honestamente, nunca sentiremos numa continuação a mesma emoção que tivemos quando a câmera rodeou os seis Vingadores no meio da batalha de Nova York. Essa sequência repete clichês, não aprofunda os personagens (embora, verdade seja dita, até tente) e parece superlotada às vezes – com tanta gente, é difícil desenvolver adequadamente tantos personagens, e vários parecem rasos.

Se A Era de Ultron terá alguma influência no vindouro Batman vs. Superman, provavelmente se dará por meio da “psicologia reversa”: pelo recente teaser divulgado pela Warner Bros., parece que o filme de Zack Snyder é o completo oposto de um filme dos Vingadores. Tudo é sombrio e dramático, o Super e o Bats se encaram na chuva num visual parecido com o Watchmen (2009) de Snyder, e o público de Metrópolis parece odiar o Homem de Aço.

Não se pode dizer que uma abordagem é melhor ou pior que a outra. O que importa é o fato de termos bons filmes, não importa se sérios ou descontraídos: no fim das contas o publico só tem a ganhar com diferentes visões e estilos, e é uma coisa boa o fato da Warner/DC não querer imitar o estilo da rival. Agora, só esperamos que Batman vs. Superman faça jus ao tão aguardado encontro entre esses icônicos personagens. Talvez o fato de o público esperar algo diferente ajude a tirar um pouco da pressão sobre o projeto. Heróis aguentam pressão, já os cineastas que criam seus filmes podem sucumbir a ela, e quanto menos eles a sentirem, melhor.

Uma coisa é certa: ninguém nunca deverá confundir um filme dos Vingadores com um da Liga da Justiça. E isso é uma coisa positiva.