Quando assistimos a um filme interessante, é inevitável não ficar curioso para saber como uma obra dessas foi feita. Os making ofs espalhados por DVDs e canais do Youtube mundo afora exercem bem esse papel. No entanto, os relatos em terceira pessoa também dão uma dimensão da magia que é ver um Spielberg ou um Von Trier atrás das câmeras e um Brando ou uma Ullmann na frente delas.

Todo mundo sabe que “Psicose”, de Hitchcock é uma das obras essenciais da carreira do diretor. Para saber o motivo, basta assistir ao filme e ver a criatividade com a qual “Hitch” comanda o suspense, seja na tensão a cada quilômetro rodado por Marion Crane (Janet Leigh) ou pela derradeira morte da pseudo-protagonista, naquela cena que todo mundo conhece.

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O que talvez nem todo mundo saiba é que a tensão transposta na tela por Hitchcock acontecia também nos bastidores. Essas histórias vieram à tona algumas vezes após a explosão do britânico como “auteur” (valeu aí, Truffaut!) mas foi em 2012 que o perfeccionismo do diretor e a sua face linha-dura – especialmente com as suas loiras gélidas – ganhou nova repercussão, com os lançamentos dos filmes “The Girl” e “Hitchcock”.

alfred hitchcock e os bastidores de psicose stephen rebelloO primeiro é bem menos conhecido que o segundo, mas vale mais a pena. Mas é de “Hitchcock” que vamos falar. Na verdade, não do filme, e sim do livro no qual foi baseado.

De autoria do escritor e roteirista Stephen Rebello, “Alfred Hitchcock e os Bastidores de Psicose” tem como foco todo o processo de produção do maior sucesso do diretor.

É interessante ver que algumas interpretações comuns ao filme refletem o que Hitchcock queria passar – as cores das roupas íntimas de Marion no início e em outro momento do filme, por exemplo. A obsessão do diretor com suas protagonistas e a subsequente rejeição a Vera Miles também é bem desenvolvida.

Não deixa de ser bacana ver como sequências como a morte do detetive foram filmadas (e essa ganha algumas páginas), mas, no mais, parece que Rebello juntou as curiosidades do filme pelo IMDb e transformou em livro.

Infelizmente, a obra acaba por deixar pouco esclarecida aquela que talvez seja a maior dúvida. Explico: ele cita que Hitch odiava a (agora icônica) música composta por Bernard Herrmann e diz que depois o diretor mudou de ideia, mas não há muito desenvolvimento nisso. Protagonista na versão cinematográfica da obra, a esposa de Hitchcock é menos que uma coadjuvante aqui, o que não deixa de ser curioso, já que era notória a influência de Alma nos filmes do marido.

A obra de Stephen Rebello decepciona por parecer mais um amontoado de matérias jornalísticas da época e por não trazer nada de muito novo. No fim das contas, parece mais com o filme que inspirou do que aquele pelo qual foi inspirado.  Apesar disso, tem leitura fácil e rápida e vale para uma tarde de tédio.