Deve-se valorizar a ousadia de Leandro Hassum de enveredar pelo humor físico, um terreno complicadíssimo onde poucos comediantes acertam. Só mesmo gênios como Jerry Lee Lewis, Buster Keaton, Peter Sellers e Jim Carrey caminharam com desenvoltura por ele. Antes que me critiquem, não coloco o comediante brasileiro no mesmo patamar das estrelas citadas, mas reconheço a sua coragem de arriscar-se neste subgênero da comédia, talvez porque ele evidencia o seu carisma em agradar aos fãs principalmente no ato de improvisar todo o seu repertório exagerado de caretas e histrionismo.

Esta empatia com certeza explica o grande sucesso de Hassum junto ao público que a cada novo trabalho em parceria com o diretor Roberto Santucci (já são quatro ao todo), resulta em fartas bilheterias. A dupla pode se vangloriar de serem responsáveis pela primeira trilogia de sucesso do cinema nacional – em quesitos de qualidade, ela é muito discutível – que chega ao seu capítulo final com Até que a Sorte Nos Separe 3 – A Falência Final.

Com mais um fiapo de história – Tino, personagem de Hassum, depois de desperdiçar a sua herança e da família nos filmes anteriores, arranja mais uma confusão que desta vez causará estrago na economia do país – o terceiro e último filme da franquia, conforme informado (é claro se a bilheteria robusta não persuadir os envolvidos de abandonarem tal ideia) traz dois pontos evidentes ainda que contraditórios: 1) Hassum está mais magro, mas o seu jeito overacting continua o mesmo, abusando da gritaria e das expressões caricaturais no âmbito do seu humor histriônico. Por isso este terceiro capítulo apresenta o mesmo estilo novelesco dos anteriores; 2) Depois de dois filmes desprezíveis, esta terceira sequência surpreende um pouco pela ousadia principalmente quando investe na sátira sociopolítica-econômica, o que a coloca, em um degrau acima dos filmes anteriores.

É este contraponto que faz com que o novo trabalho oscile bastante assim como seus antecessores. Hassum e Santucci juntamente com os roteiristas Paulo Cursino e Leo Luz preferem apostar naquele velho círculo vicioso das comédias nacionais de piadas grosseiras e vulgares, disfarçadas de humor popular para angariar o riso e conquistar a plateia. É um tipo de olhar que reflete a mentalidade da sociedade brasileira, mas se a intenção era fazer uma crítica a esta visão, os diversos argumentos preconceituosos do roteiro afastam qualquer ideia do tipo.

Logo, as pitadas interessantes de ousadia do argumento encontram-se em apenas 20% da totalidade do filme. Elas são frutos do roteirista Leo Luz, responsável pelo estilo anárquico da série Parafernalha. Essa veia mais política do filme é responsável pelos seus momentos raros de inteligência que utiliza a crise econômica nacional como paródia política, o que rende uma tiração de sarro divertida na sequência em Brasília com as sósias da presidente Dilma e Nestor Cerveró (vivido pelo comediante Bemvindo Siqueira), além das brincadeiras politicamente incorretas em relação ao empresário Eike Batista e sua ex-esposa Luma de Oliveira que serviram de inspiração – ainda que negada pelos realizadores –  aos personagens Rique e Malu do Carmo.

Do ponto de vista técnico, a direção de Santucci até arrisca alguns planos bem encenados – algo raro na franquia – ainda que cometa deslizes graves principalmente na cenografia – a cena onde os personagens Tino e Amauri (Kiko Mascarenhas) vão a Brasília é tão malfeita que você nota o fundo falso da paisagem do planalto. As participações especiais dão uma certa “dignidade” ao filme, com destaque para Daniel Filho que em apenas três minutos de cena, funciona como o porta voz do tom político sobre a atual geração de jovens do país, cujo discurso o próprio filme desperdiça na subtrama envolvendo o namoro da filha de Tino, Téte (Julia Dalavia) com Tom (Bruno Gissoni). O retorno de Ailton Graça como Adelson, em uma divertidíssima participação especial, é outro destaque.

Talvez se os envolvidos não ficassem presos ao formato time que está vencendo, não se mexe, Até que a Sorte Nos Separe 3 – A Falência Final poderia ser mais vibrante. Como sátira sociopolítica é divertido, mas quando assume a fórmula batida dos filmes anteriores é enfadonho. É o melhor trabalho de Hassum e Santucci juntos, mesmo que isso não diga muita coisa em razão da qualidade da “filmografia” de ambos.