Christian Bale é um dos nomes mais respeitados da indústria do cinema.

Ator britânico, com trânsito fácil em Hollywood, Bale começou a carreira aos treze (!) anos, como protagonista do primeiro épico de Steven Spielberg sobre a Segunda Guerra Mundial, Império do Sol (1987). O sucesso prematuro poderia ser um fardo para o jovem, mas Bale logo encontrou refúgio no trabalho duro.

Sua característica mais famosa como ator é a entrega absurda aos papéis. Entre outras coisas, Bale já emagreceu 29 kg para viver um homem atormentado e paranoico (em O Operário), estudou swing (a dança, não a troca de casais) por dez semanas para interpretar um dançarino em Os Últimos Rebeldes, e aprendeu a dominar com perfeição o sotaque americano, para poder trabalhar em Hollywood. Mas são seu talento e versatilidade, não as transformações físicas (o ator emagreceu novamente para fazer O Vencedor, e agora, em Trapaça, engordou) que fazem Bale ser tão admirado no meio.

CINCO MELHORES ATUAÇÕES DA CARREIRA DE CHRISTIAN BALE

5) Império do Sol (1987)

Christian Bale deu a primeira mostra de seu talento neste filme, para o qual foi escolhido pessoalmente por Steven Spielberg entre outros 400 garotos.

Inspirado na biografia do romancista inglês J. G. Ballard (os cinéfilos costumam adorar outra adaptação de um livro seu, Crash – Estranhos Prazeres, de David Cronenberg), o filme conta a história de uma criança que é separada de seus pais e vai parar em um campo de concentração japonês durante a Segunda Guerra. Império do Sol marcou a transição de Spielberg para o período maduro de A Cor Púrpura, A Lista de Schindler e outros, e deu a Bale o melhor start possível em sua carreira.

4) Batman Begins (2005)

Os filmes posteriores da fantástica trilogia de Christopher Nolan põem o ator em segundo plano, mas o início da saga de Batman só emplacou por causa do carisma e seriedade de Bale.

Batman Begins é um filme cheio de elementos promissores, mas o que fica claro, aqui, é que ter um ator do porte de Bale elevou muito a qualidade do que, até então, se entendia por adaptações de quadrinhos – lição que as duas séries de maior sucesso desde então, Homem de Ferro (com Robert Downey Jr.) e Thor (com o surpreendente Chris Hemsworth), seguiram à risca.

3) Psicopata Americano (2000)

Christian Bale fez várias pontas de prestígio na década após Império do Sol, mas parecia destinado a ser um grande coadjuvante, um Stanley Tucci da vida (com quem, aliás, contracenou em uma versão de Sonho de uma Noite de Verão, de Shakespeare). Entretanto, a intensidade e disciplina do ator impressionaram a diretora Mary Harron em sua bem-sucedida adaptação do romance que é o epitáfio e a elegia da era yuppie: Psicopata Americano.

Na pele de Patrick Bateman, um dos serial killers mais sinistros e charmosos da telona, Bale teve uma das atuações mais memoráveis de sua carreira, provando que havia superado o estigma de astro teen. Provou também que havia chegado a hora de levarem-no a sério, e toda a sua carreira daí em diante seria pautada por papéis desafiadores, ousados e não raro excêntricos.

2) O Operário (2004)

Aqui Bale revela sua faceta mais famosa: a capacidade de “viver” um papel de forma tão intensa que até seu físico é alterado. O Operário é o exemplo mais extremo: como um – hmm – operário assombrado por uma culpa que ele não é capaz de lembrar, mas que o impede de dormir há mais de um ano, Bale ganhou um aspecto impressionante, cadavérico.

Para tanto, o ator encarou uma dieta radical durante quatro meses, que o deixou com inacreditáveis 54 quilos – para efeito de comparação, seu peso na trilogia Batman é de 110 kg, ou seja, mais que o dobro!

O resultado, se não é um grande filme, é um exemplo fantástico de atuação: Bale dá vida à paranoia e à perturbação extrema de seu personagem como nunca antes no cinema. O filme também marcou o “retorno” artístico do ator, após o período fraco que sucedeu a Psicopata Americano (saiba mais no nosso Pior Filme).

1) O Vencedor (2010)

Decidido a não mais deixar a peteca cair, Bale conseguiu se tornar um nome popular com Batman Begins e conciliar projetos mais ambiciosos e artísticos: O Novo Mundo, com Terrence Malick, O Sobrevivente, com Werner Herzog, Não Estou Lá, com Todd Haynes, etc.

Mas foi em um filme não tão popular quanto os Batmans nem tão artístico quanto os outros que Bale deu talvez o melhor de si: uma história simples, de dois irmãos boxeadores, um em declínio, mas que já foi uma lenda, e outro em ascensão, mas com medo do fracasso.

O diferencial que fez O Vencedor ser mais do quem um filme modesto e interessante foi a atuação maníaca de Christian Bale como o irmão mais velho, Dicky Eklund, o ex-campeão de boxe reduzido à ruína pelo vício em crack. Às vezes terno, às vezes repugnante, no mais delas comovente, Bale empresta uma complexidade insuspeita ao que deveria ser uma típica história de superação. E, como eu costumo lembrar aqui de vez em quando emprestar grandeza a projetos medianos é a marca de um grande ator. Oscar de Melhor Coadjuvante, claro.

P.S.: o diretor deste filme, David O. Russell, é o mesmo do trabalho que acaba de dar a Bale a sua segunda indicação ao prêmio da Academia, desta vez na categoria Melhor Ator: Trapaça. Eu e você não vamos deixar de conferir, certo?

A PIOR:

Shaft (2000)

Tá certo, é difícil escolher a pior atuação de Bale, porque o nível de exigência do ator é alto e até filmes menores costumam ser salvos pela intensidade de suas interpretações (O Vencedor é o exemplo mais óbvio). Mas, neste fracasso de 2000, Bale, assim como o protagonista Samuel L. Jackson e os demais envolvidos, tem uma atuação óbvia e indulgente como o vilão Walter Wade. Reprisando a cara de mau de Psicopata Americano, o ator, por uma vez, soa preguiçoso e até arrogante, ao confundir caretas com intensidade. Após o sucesso e a exposição de Psicopata, o filme marcou um período de trabalhos fracos, do qual Bale só emergiu com O Operário (2004).

Como Shaft também não tem outros encantos (é um filme de ação apenas decente, que se ampara demais no carisma de Jackson), o ideal é não assistir.