MELHOR SÉRIE DE 2017 – “THE HANDMAID´S TALE” E “TWIN PEAKS”
EMPATE – 3 VOTOS

Arthur Charles – “The Handmaid´s Tale”

Sem dúvidas, 2017 foi um ano muito bom para a indústria televisiva e as produções de séries. Podemos dizer que o balanço foi positivo, pois tivemos produções que fizeram um burburinho muito grande, fazendo as séries se proclamarem (mais uma vez) como obras de criatividade, inovação e qualidade em meio à indústria cinematográfica, que parece viver num ciclo ininterrupto de remakes e filmes comerciais com a mesma fórmula de dez anos atrás. Sem sombra de dúvidas, o maior destaque do ano foi uma das grandes vencedoras do Emmy 2017: ‘The Handmaid’s Tale”.

A série criada por Bruce Miller é sobre tudo o que a gente já vive nos dias atuais e sobre os nossos medos de como o mundo pode vir a se tornar. Pode-se dizer que essa série é um dos maiores acertos de toda a história da indústria das séries. E, se um dia a produção televisiva perdeu o brilhantismo, “The Handmaid’s Tale” trouxe ele de volta, juntamente com a era de ouro da TV! Estrelada por Elisabeth Moss, a produção trata sobre assuntos muito atuais, como o papel da mulher na sociedade, mundo político e situações emergenciais em um mundo assolado pela crise e guerra. Tudo isso, revelado de maneira explícita, crítica e muito reflexiva.

Melhor Momento: Em um dos momentos mais marcantes da série e do episódio final da primeira temporada, vemos as servas ficarem atônitas ao ver Ofdaniel/Janine trazidas para o círculo delas enquanto a tia Lydia ordena que façam seu dever e a matem até a morte. Surpreendentemente, a nova Ofglen dá um passo e se recusa a matar Janine, pedindo às outras servas que façam o mesmo. Ela foi atacada por um dos guardas e arrastada para longe. Há um momento de silêncio enquanto as servas mantêm suas pedras, esperando que a primeira pessoa ataque, mas nenhuma ataca. Então, diante de uma tia Lydia gritante, Offred larga sua pedra. As outras meninas seguem o exemplo, deixando a tia Lydia impotente, ordenando-lhes que voltem para casa e se preparem para a punição.

Eu adoro o simbolismo nesta cena, que remete à sororidade das mulheres em um momento tão difícil em que o mundo está passando. Para melhorar, a cena é acompanhada de uma sequência brilhante: à medida que as servas caminham lentamente pela rua, indo para suas casas, “Feeling Good” de Nina Simone toca como trilha sonora. À distância, suas roupas vermelhas as fazem parecer um rio de sangue –  a primeira praga que Moisés trouxe ao Egito para libertar os escravos hebreus. Dessa forma, essa simples rebelião das servas faz parecer que essa é apenas a primeira de muitas pragas que irão infectar as ruas de Gileade.


Caio Pimenta – “Feud”

“Feud” parecia antecipar o que viria a acontecer nos meses seguintes. O abuso contra as mulheres em Hollywood está evidente em cada minuto da melhor série lançada no Brasil em 2017. Estrelas como Betty Davis e Joan Crawford eram feitas de marionetes em uma briga de egos alimentada por chefes de estúdios, diretores e a própria imprensa, além de tratadas como material descartável a partir de uma certa idade. Os shows de Susan Sarandon e Jessica Lange (vítima deste sistema nos dias atuais) com elenco de coadjuvantes do naipe de Alfred Molina e Stanley Tucci criou uma produção imperdível. O melhor episódio de “Feud” acontece no quinto episódio sobre a disputa do Oscar de 1963 e a conversa fictícia entre as duas tentando fazer as pazes é um sonho que todos os cinéfilos gostaríamos de ter visto acontecer na vida real.


Camila Henriques – “Big Little Lies”

Bem, 2017 foi um ano em que as séries protagonizadas por mulheres tomaram a frente. Infelizmente não consegui ver “Handmaid´s Tale”, mas, se o livro já é algum aperitivo – foi minha leitura preferida do ano -, o trabalho de Elisabeth Moss é certamente promissor. “Feud” foi minha queridinha emocional de 2017, e se mostrou necessária em uma era onde finalmente parecemos abrir os olhos para os abusos cometidos em Hollywood desde sempre. Mas, difícil não reconhecer o encontro mágico de estrelas em “Big Little Lies”, série que também colocou em pauta sororidade e abuso, tudo com um ritmo, trilha sonora e atuações impecáveis.

Melhor momento da série: Laura Dern. Difícil escolher uma cena, mas “Big Little Lies” coroou um ano sensacional na carreira da atriz, que teve ainda “Star Wars – Os Últimos Jedi”, o ainda inédito no Brasil “Pequena Grande Vida” e outra série elogiada neste ano com o retorno de “Twin Peaks” e da parceria com David Lynch – mais uma mea culpa, porque deixei passar essa.

Melhor episódio: caso eu tivesse escolhido “Feud”, a escolha seria mais fácil (o episódio do Oscar). “Big Little Lies” é mais complicada nesse sentido porque a série toda se complementa e não parece ter nenhum momento menor em sua curta trajetória. Mas, já que é para escolher um, vou com o season finale, “You Get What You Need”. Concebido como uma minissérie, o projeto consegue encerrar todos os questionamentos e amarrar todas as histórias, mas deixa ainda um gostinho de quero mais, fundamental para que a HBO garantisse uma segunda temporada.


Danilo Areosa – “Mindhunter”

Nem Twin Peaks, nem Stranger Things, a série do ano é “Mindhunter”, o grande exercício psicológico da mente criminosa. Criada por Joe Penhall e com a assinatura de David Fincher, a série não carrega o slogan do programa que “revolucionou a TV em 2017”, contudo é um estudo psicológico imprevisível, intrigante e sombrio da natureza humana. Os dois primeiros episódios dirigidos por Fincher são os melhores, com destaque para o primeiro encontro entre os agentes Holden e Bill com o serial-killer Kemper. “Mindhunter” é um baita seriado que nos leva a pensar sobre a complexa mente perturbada, sombria e destrutiva do ser humano. É compreender os “porquês” das ações assustadoras da subjetividade humana e transformar o insano em algo “palpável” e objetivo.


Henrique Filho – “Narcos – Terceira Temporada”

Eu preciso admitir uma coisa, esse ano eu não assisti a muitas novidades no mundo das séries, assisti apenas as novas temporadas das séries que já acompanho e vi algumas novidades apenas. A melhor série que vi esse ano foi a terceira temporada da série Narcos, ao se livrar de Pablo Escobar muitos esperavam que a série iria cair, mas não foi o que aconteceu. Ao trocar o foco de Medelín para o Cartel de Cali, a série só não mostrou a guerra das drogas por um novo prisma, como ainda escancarou que o problema vai além dos entorpecentes, mas envolve também políticos e empresários. Uma série que merece muito ser acompanhada, e que nos leva a diversas reflexões, as cenas de ação são tensas, excelentes e muito bem construídas, mas aqui o que realmente impressiona é a força das palavras e diálogos dos personagens.

Melhor cena: Javier descobre que a guerra ao tráfico não é um simples maniqueísmo. Em certo momento Javier acompanha uma “missão” de rotina com alguns políticos. No local ele descobre que não existem “mocinhos”, mas uma guerra de influências e interesses, e que a guerra as drogas do jeito que é travada, não passa de murro em ponta de faca.

Menções Honrosas: American Vandal e American Gods


Ivanildo Pereira – “Twin Peaks – O Retorno”

Depois de uma década longe da direção, David Lynch volta chutando vários baldes ao retomar a sua icônica criação. Ele deu algumas coisas que os fãs queriam ver, mas na maioria das vezes o espectador é quem teve de correr atrás dele, pois nostalgia boboca não é com Lynch. Surpreendente, assustadora e, às vezes, até frustrante, a volta de Twin Peaks seguiu suas próprias regras. Ao debater se é TV ou cinema, posso até oferecer a minha opinião: É um pouco dos dois e nenhum deles, é Twin Peaks, esse objeto inclassificável que ainda deverá ser visto e debatido por muitos anos. E o grito… Aquele grito… Eu ainda não deixei de ouvi-lo.

Melhor episódio: Parte 8.
Melhor Momento: Cena final (Parte 18).


Lucas Jardim – “Twin Peaks – O Retorno”

Fazendo uma menção honrosa a “The Handmaiden’s Tale”, uma série tópica e política que tem muito a dizer à sociedade de 2017, fato é que o retorno de “Twin Peaks” foi um cataclisma televisivo espetacular. Como sua prévia encarnação no início dos anos 90, a terceira temporada do seriado capitaneado por David Lynch e Mark Frost mudou as regras do que poderia ser feito na televisão. Nenhum momento encapsula mais essa ruptura do que o “Episódio 8”, em que Lynch faz uma revisão dos acontecimentos do meio do século passado para recompor a história do mal nos EUA e a criação de toda a mitologia do programa – tudo isso em uma longa sequência sem diálogos e não narrativa. Genial.

Melhor momento da série: Episódio 8



Natasha Moura – The Handmaid´s Tale

Talvez nenhuma outra série tenha abordado temas tão atuais. Mesmo com o retorno de grandes séries e tantos outros lançamentos relevantes, “The Handmaid’s Tale” convenceu e foi uma escolha fácil como a melhor do ano. A representatividade feminina, a condição da mulher para tudo aquilo que afeta a população feminina em pauta na tela é o ponto alto da produção. O quinto episódio “Faithful” foi o mais marcante, em especial pelo melhor momento da temporada, quando a personagem da Alexis Bledel rouba um carro na frente de outras aias e “olhos”. Aqui a premiada atriz deixou de ser a eterna Rory Gilmore e deu vida à Emily.


Rebeca Almeida – “The Handmaid´s Tale”

Cercada de discussões importantes e necessárias, é preciso deixar minhas favoritas de lado e dar o mérito para The Handmaid’s Tale. A série consegue dar importância para cada minuto em tela, aproveitando ao máximo seus recursos visuais e seu roteiro. Mesmo reconhecendo a trajetória da protagonista Offred, a melhor e mais memorável cena da temporada envolve a coadjuvante Ofglean, o momento de despedida entre ela e sua parceira é extremamente forte e sensorial, sem presença de diálogo, deixando por conta da trilha sonora, direção de arte e fotografia se juntarem com a ótima atuação de Alexis Bedlel. Dentre os capítulos, o décimo “Night” encerra a temporada finalizando narrativas, colocando respostas de forma competente sem deixar faltando conteúdo para seu próximo ano.


Susy Freitas – “Twin Peaks – O Retorno”

Ao bagunçar as fronteiras entre televisão e cinema, “Twin Peaks – The Return” entrou não apenas para minha lista de melhor série de 2017, mas também na de obras audiovisuais mais instigantes em muito, muito tempo. O apuro visual em constante evolução de David Lynch, a rebeldia de um roteiro que expandiu as possibilidades da narrativa na tela pequena e a evolução de personagens como Dale Cooper/Bad Coop/Dougie Jones, Laura Palmer, Bobby Briggs e Audrey Horne, além da fatídica Parte 8 que apresenta a origem de Bob, provaram que as séries estão longe de ter como estagnada a tal “Era de Ouro” da televisão norte-americana.