LMBrasileiros - A Luneta do Tempo. DivulgaçãoA Luneta do Tempo

A realização de “A Luneta do Tempo” não poderia vir de outra pessoa se não de Alceu Valença. Estreia do cantor pernambucano como diretor de cinema, o projeto traz a consagrada marca nordestina do artista com o toque de rebeldia característico dele.

Como não poderia deixar de ser, a música se torna elemento essencial do filme e as composições próprias de Valença fazem com que a trilha seja um personagem fundamental e até mesmo protagonista. A mistura de rock com maracatu mais baião aliadas às letras de contestação social vão além da criação de atmosfera para sintetizar o espírito de luta do povo nordestino contra a opressão de um Estado pouco interessado em servir à população. O roteiro elaborado em falas com ritmo de cordel amplia ainda mais a beleza do longa ao casar todos esses elementos de forma harmônica.

Com os sempre excelentes Irandhir Santos e Hermila Guedes, além da participação especial divertida do próprio Alceu Valença, “A Luneta do Tempo” mostra a força do Nordeste brasileiro na sua luta através da perseverança e da arte contra as injustiças dos homens e do clima árido.

NOTA;8,0

Apneia3Apnéia

Não duvido que o primeiro comentário de muita gente sobre “Apnéia” seja o clichê: “classe média sofre”. Verdade seja dita que a frase se aplica com ressalvas até quase boa parte do filme dirigido pelo estreante Maurício Eça. Porém, a parte final faz com que o público engula as palavras.

“Apnéia” sofre com a falta de uma história de impacto e uma abordagem mais complexa ao optar por escolher a ausência dos pais como o principal problema do trio de protagonistas. Isso faz com que acompanhemos triângulos amorosos pouco interessantes com um destino óbvio digno de novela das 9. O grande acerto do filme, entretanto, acaba surgindo da própria falha, pois o marasmo que, por vezes, ressoa das telas serve para compreender a vida sufocante pela pouca pretensão daquelas jovens.

Com um final impactante capaz de compensar a monotonia do miolo da história e boas atuações do trio de protagonista (não é que a Thaila Ayala vai além da beleza?), “Apnéia” pode não ser um filme indispensável, porém, consegue distrair o público durante os 105 minutos de projeção.

NOTA:6,0

JoaosinhoTrinta_Trinta_MatheusNachtergaeleTrinta

Assistir uma cinebiografia é estar preparado para um mar de obviedades: momentos de superação em abundância, atores muito bem escalados para criar figuras complexas e fugir da caricatura, trabalhos bem executados de maquiagem e penteado, trilha sonora grandiosa, sequência de fatos contados sem maior aprofundamento para dar dinamismo à trama. E claro: a cena do aplauso consagrador ao retratado.

O diretor Paulo Machline e equipe seguem com precisão essas dicas e tornam “Trinta” uma obra agradável de se ver. O grande acerto do filme está em ser sucinto no período de abordagem do filme ao se deter na preparação do desfile do Salgueiro de 1974 que rendeu o primeiro título da carreira de Joãozinho Trinta. Isso faz com que as passagens da história sejam mais bem trabalhados do que, por exemplo, ocorreu em “Tim Maia”.

Depois de um tempo sem grandes papéis de destaque, Matheus Nachtergaele encarna Joãozinho Trinta com perfeição seja nos momentos mais dramáticos ou nos cômicos. O auge fica para a sequência do esporro desajeitado para os trabalhadores no barracão. Fabrício Boliveira, Paulo Tiefenthaler, Mariana Nunes e, acima de tudo, Milhem Cortaz também vão muito bem.

NOTA: 7,0

Ventos-de-Agosto_09Ventos de Agosto

Sucesso no documentário brasileiro, Gabriel Mascaro se lança na ficção com “Ventos de Agosto”. E a experiência é das mais curiosas.

A parte inicial traz uma história do romance com tons naturalistas entre a jovem Shirley (a bela e talentosa Dandara de Morais) e Jeison (o competente Geová Manoel dos Santos). O respeito ao tempo daquela região com momentos de pura contemplação da paisagem e da rotina daquelas pessoas através do excelente trabalho de fotografia do próprio Mascaro faz com que a história siga sem grandes avanços, o que não significa algo desinteressante.

Eis, então, que o próprio Mascaro invade a cena e começa a interpretar um cientista que pesquisa a trajetória dos ventos da região. A interação com os moradores da comunidade traz o lado documentarista do cineasta e mostra um Brasil longe da velocidade e do excesso de informações das grandes metrópoles. Depois de um determinado acontecimento, o aspecto social apresentado em “Doméstica”, trabalho anterior do diretor pernambucano, retorna com força ao mostrar um Estado ausente em todos os sentidos.

Apesar de não apresentar uma unidade satisfatória entre as duas partes, “Ventos de Agosto” se mostra uma das obras mais interessantes e experimentais do cinema brasileiro em 2014, reforçando ainda mais o nome do talentoso Gabriel Mascaro.

NOTA: 7,0