O senso comum nos diz que o que há de melhor na produção cinematográfica nos países da América do Sul vem, primordialmente, do que é produzido no Brasil e Argentina. Sem dúvida nenhuma os dois países são fortes produtores, e tem chegada cada vez maior em festivais de grande prestígio por todo mundo, mas os últimos anos vêm mostrando que tal afirmação é incompleta.

É interessante ver, como nós, brasileiros, possuímos um tom de superioridade perante nossos colegas de continente, já colocando como “natural” o pensamento de que o Brasil, por ser o país mais forte economicamente do grupo, vai ter a produção mais destacada, seguida da Argentina (que é colocada assim muito pelo prestígio dos filmes argentinos no Oscar). Mas acho que isso é discussão pra outro texto.

Desta maneira, trago aqui alguns exemplos recentes que comprovam que o cinema da América do Sul tem mais a oferecer do que apenas o que vem dos seus dois países de maior dimensão geográfica.


CHILE

Passou do tempo em que o cinema chileno era visto apenas como promissor, que no futuro poderia fazer frente a Brasil e Argentina na produção cinematográfica. Este momento já chegou, e o Chile há alguns anos vem com uma produção bastante destacada, apresentando filmes que realizam carreiras internacionais interessantes ano após ano.

Um dos grandes responsáveis por isso é o cineasta Pablo Larrain, que em 2013 alcançou grande repercussão no mundo inteiro ao conseguir uma indicação ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, com No (2012). O filme, que conta a história de um publicitário que trabalhou contra o ditador Augusto Pinochet no referendo de 1988, teve uma recepção muito boa por público e crítica, e colocou o cineasta como um dos grandes nomes do cinema sul-americano na atualidade.

O seu filme seguinte, O Clube (2015), um drama pesado sobre um grupo de padres que ficam reclusos em uma casa afastada por conta de atos criminosos que cometeram enquanto exerciam essa função, também teve grande repercussão internacional fazendo parte da mostra competitiva do Festival de Berlim, e conseguiu uma indicação ao Globo de Ouro de Melhor Filme Estrangeiro, ambos em 2016.

O seu próximo filme, Neruda, foi o escolhido do país para a disputa do Oscar 2017, e possui chances de emplacar mais uma indicação.

Dentre outras produções de destaque da produção audiovisual chilena recente, estão Gloria (2013), de Sebastian Lelio, vencedor do Urso de Prata de Melhor Atriz, para Paulina Garcia, no Festival de Berlim de 2013; A Criada (2009), de Sebastián Silva, vencedor do Grande Prêmio do Júri e Prêmio Especial de Atuação, para Catalina Saavedra, no Festival de Sundance em 2009 e indicado ao Globo de Ouro de Melhor Filme Estrangeiro em 2010; e O Botão de Pérola (2015), do experiente Patricio Guzmán, vencedor do Urso de Prata de Melhor Roteiro no Festival de Berlim em 2015.


VENEZUELA

A Venezuela tem chances reais de emplacar a sua primeira indicação ao Oscar em 2017, e isso através de um filme dirigido por um estreante em longas. De Longe Te Observo (2016), de Lorenzo Vigas, conta a história de um homem rico que atrai garotos jovens para sua casa, não para fazer sexo com eles, mas apenas para observá-los, até que se relaciona com um garoto líder de uma gangue de rua. O filme venceu o festival de Veneza de 2015, e conta com uma boa aceitação da crítica internacional.

Outro filme venezuelano recente de destaque é o belo Pelo Malo (2014), de Mariana Rondón. Exibido no finado Amazonas Film Festival, o longa acumulou mais de 15 festivais internacionais durante a sua carreira.

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URUGUAI

Os destaques uruguaios podem não ser considerados tão recentes quantos os do Chile e Venezuela, mas representam, ainda assim, uma nova fase do cinema uruguaio.

Exibido na mostra Un Certain Regard do Festival de Cannes em 2007, O Banheiro do Papa (2007), de César Charlone e Enrique Fernández é um belo exemplar de um cinema humanista, com personalidade e coerência. O filme conta a história, baseada em fatos reais, de um evento ocorrido na cidade de Melo, um lugar muito pobre que fica na fronteira do Uruguai com o Brasil, que em 1988 soube da notícia da visita do Papa João Paulo II ao local, acontecimento que mobilizou a cidade.

Outro filme uruguaio de destaque é Gigante (2009), de Adrián Biniez, vencedor do Grande Prêmio do Júri no Festival de Berlim de 2009.

O Abraço da Serpente, filme ambientado na AmazôniaCOLÔMBIA

Ao contrário da produção do Uruguai, a da Colômbia parece prestes a emplacar uma sequência interessante de trabalhos, e em pouco tempo teremos mais nomes para preencher esta lista. Sem dúvida nenhuma o maior destaque vai para O Abraço da Serpente (2016), de Ciro Guerra, indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro neste ano, e somou participação em mais de 30 festivais internacionais. Além disso, sem dúvida nenhuma é um dos melhores filmes do ano.


PARAGUAI

Finalizando a lista, temos o filme paraguaio 7 Caixas (2014), de Juan Carlos Maneglia e Tana Schembori. O longa conta a história de um garoto que trabalha em uma feira e recebe uma encomenda misteriosa, tendo que transportar o material para o outro lado do estabelecimento, mas no decorrer do acontecido é perseguido por várias forças interessadas em interceptar a entrega. Com um ritmo publicitário, ágil e divertido, o filme foi bastante comparado à Cidade de Deus (2002) durante a sua trajetória comercial. Mesmo que não seja para tanto, vale a pena a conferida, afinal, qual foi a última vez que você assistiu a um filme produzido no Paraguai?