Liberdade, autonomia, diversão e conhecimento sobre si mesmo. Esses parecem ser um dos ingredientes perfeitos na construção de (quase) todos pré-adolescentes/jovens que em determinada época da vida – uma fase bem complicada, diga-se – se vê como um estranho no ninho, não se identifica mais com a família e enxerga nos amigos os aliados perfeitos. Estes também estão em fase de transição e, para o bem e para o mal, também estão em busca do seu eu, ainda que essa busca seja na marra, obedecendo à lei da sobrevivência em uma selva de pedra cosmopolita.

Mas esse encontro com o seu eu desencadeia uma série de problemáticas alheias a si mesmo e maior que o seu próprio conhecimento de vida e vontades. É neste sentido que o diretor alemão Uli Edel consolida “Christine F., 13 anos, Drogada e Prostituída” como retrato fiel, quase documental, de uma juventude que busca se encontrar no mundo e encontra nas drogas sintéticas o refúgio e justificativa para estar sob aquelas circunstâncias. Passados 40 anos do lançamento, o filme baseado no livro homônimo volta aos cinemas remasterizado e com a mesma brutalidade de antes. Ainda é difícil digerir e acompanhar a trajetória de Christine e seus amigos em uma Berlim do final dos anos 1970 sob efeitos do submundo do sexo, drogas e muito David Bowie.

UMA NOVA JUVENTUDE TRANSVIADA

Edel se aprofunda naquele mundo dominado pela droga, pelas seringas, pelo sangue, pelas trocas, pelo sexo para manter o vício. Em uma época em que a pedofilia sequer era discutida, chama a atenção aquelas crianças e jovens de, no máximo, 18 anos, nos pontos para prostituição e com uma freguesia vasta. E aí nos voltamos para a questão dos domínios do corpo de sujeitos indefesos que não sabem o que fazem, porém, há aquelas mentes maduras, sedentas pela juventude e em dominar a situação. Mas isso é conversa para depois, todavia, fica aí a provocação. Reflitam.

Assistir a “Christine F., 13 anos, Drogada e Prostituída” é como quase voltar no tempo de um período que não se viveu, mas você consegue identificar aquelas situações, pois elas estão presentes em tempos atuais. A juventude transviada “inaugurada” por James Dean no longa homônimo dos anos 1950 acompanha os tempos e segue as tendências impostas nesse interim social e caótico.

David Bowie, a entidade David Bowie, representa todos estes rockstars de uma vida desregrada sendo suas músicas as trilhas sonoras perfeitas neste estado de emergência da vida, de viver em emergência por como estar se vivendo, como um zumbi em busca de sangue e este sangue são as drogas. Cenas pesadas de abstinência soam muito mais como um alerta do que a representação de um momento delicado.

ATUALIDADE MANTIDA

A questão familiar de Christine é também algo que merece atenção, como essa mãe não percebe a mudança de comportamento da filha? Compreendendo o filme mais profundamente, percebe-se que a essa resolução de família e rotina como escola e afins não são destacados por conta da real intenção do filme: chocar. Mas não é um choque para entreter, sim, para estabelecer um diálogo e um alerta. Vamos olhar com mais atenção para os nossos jovens?

O elenco principal composto primordialmente por amadores dão o tom assustador dessa rotina desviada, destaque total para Natja Brunckhorst, a Christine que, à época, também tinha apenas 13 anos e sua segurança e vulnerabilidade em cena protagonizando cenas pesadas são angustiantes.

“Eu, Christine F., 13 anos, Drogada e Prostituída” é uma representação triste de uma juventude perdida em meio às drogas, sexo e querer estar inserido no meio social dos possíveis, amigos e amores. Quarenta anos se passaram, mas o filme continua atual e, nessa luta incessante contra as drogas em várias partes do mundo, certamente, a história tem se repetido ontem, hoje e neste exato momento.