Experimental, intrigante e sinistro podem ser palavras que resumem bem o primeiro longa-metragem de Bruna Carvalho Almeida. “Os Jovens Baumann” mistura documentário com ficção e envolve o espectador ao apresentar fragmentos de um mistério até hoje sem solução: o desaparecimento de oito primos em uma fazenda no interior de Minas Gerais, em 1992.

O longa de estreia da cineasta deixa claro as suas pretensões e expectativas nesta história interessante. É uma pena, porém, que “Os Jovens Baumann” se perca em suas ambições, tornando o filme confuso, um emaranhado de imagens e sons que pouco contribuem para experiência de imersão do público.

A história, construída pela roteirista Larissa Kurata, em parceria com Bruna, é intrigante. Há uma aura enigmática que nos leva a perguntar: qual o destino desses jovens ricos que só aproveitavam a calmaria e os momentos felizes da vida na fazenda de seus pais?

No estilo found footage, o filme mostra os jovens Jota, Ana Paula, Caio, Fred, Tito, Bia, Debby e Isadora Baumann aproveitando um dia de praia, andando pela floresta, conversando amenidades, jogando bola, praticando tiro. O uso dos vídeos em VHS como artifício para dar o toque experimental e verdadeiro para história funciona até certo ponto. As sombrias cores borradas, principalmente o verde – digno de vídeos íntimos de família –, constroem uma narrativa que envolve o espectador e atiça a curiosidade em descobrir mais sobre os caminhos que levaram ao desaparecimento.

GOSTO AMARGO

Após apresentar os jovens, suas conversas e experiências na fazenda, “Os Jovens Baumann” salta 26 anos. Então, o roteiro utiliza a filha de um caseiro da fazenda como narradora. É ela que vai refletir sobre as dúvidas que pairam sobre o caso, sendo esta narração um dos poucos pontos altos da obra.

Mas, como se bastasse apenas misturar as técnicas e um roteiro minimamente interessante, “Os Jovens Baumann” ignora complemente o efeito de uma boa montagem. A impressão é que a estrutura narrativa se perde na tentativa de ser um filme alternativo ao usar artifícios do suspense e tentar um terror atmosférico.

Com isso, a obra de Bruna Carvalho torna-se monótona, e se perde em seu primeiro ato. O uso de imagens estáticas da fazenda dos Baumann nos dias de hoje, assim como a narração, quebra o envolvimento do espectador.

Os diálogos, que poderiam nos fazer entender mais sobre os protagonistas, são aleatórios, pouco inteligentes e nada contribuem para a compreensão da trama ou, ao menos, criar qualquer empatia pelos personagens. Enquanto você assiste, percebe que os jovens ricos dos anos 1990 só querem privacidade, liberdade e licença poética para criar memórias.

Ao final, o filme de Bruna Carvalho Almeida deixa um gosto amargo, pois, apesar de ser uma obra promissora em criar o mistério, finaliza como um filme raso, cansativo: uma verdadeira confusão. 

‘Donzela’: mitologia rasa sabota boas ideias de conto de fadas

Se a Netflix fosse um canal de televisão brasileira, Millie Bobby Brown seria o que Maisa Silva e Larissa Manoela foram para o SBT durante a infância de ambas. A atriz, que alcançou o estrelato por seu papel em “Stranger Things”, emendou ainda outros universos...

‘O Astronauta’: versão ‘Solaris’ sem brilho de Adam Sandler

Recentemente a revista Forbes publicou uma lista com os maiores salários recebidos por atores e atrizes de Hollywood em 2023. O N.1 é Adam Sandler: o astro recebeu no ano passado nada menos que US$ 73 milhões líquidos a partir de um contrato milionário com a Netflix...

‘Imaginário: Brinquedo Diabólico’: tudo errado em terror sem sustos

Em uma segunda à tarde, esgueirei-me sala adentro em Niterói para assistir a este "Imaginário: Brinquedo Diabólico". Devia haver umas outras cinco pessoas espalhadas pela sala 7 do multiplex. O número diminuiria gradativamente pela próxima hora até sobrar apenas um...

‘Duna – Parte 2’: Denis Villeneuve, enfim, acerta no tom épico

Abro esta crítica para assumir, que diferente da grande maioria do público e da crítica, não sou fã de carteirinha da primeira parte de “Duna”. Uma das minhas maiores críticas a Denis Villeneuve em relação a adaptação cinematográfica do clássico romance de Frank...

‘To Kill a Tiger’: a sobrevivência das vítimas do patriarcado

“Às vezes a vida te obriga a matar um tigre”.  De forma geral, “To Kill a Tiger” é uma história dolorosa com imagens poeticamente interessantes. Um olhar mais aprofundado, no entanto, mostra que se trata do relato de busca de justiça e amor de um pai para com uma...

‘O Homem dos Sonhos’: criativa sátira sobre fenômenos midiáticos

Quando li esse título a primeira vez, pensei que deveria se tratar de mais uma história patriarcal romântica e eu não poderia estar mais enganada. Dirigido por Kristoffer Borgli e protagonizado por Nicolas Cage, “O Homem dos Sonhos” aborda de forma discreta o fenômeno...

Como ‘Madame Teia’ consegue ser um fiasco completo?

Se os filmes de heróis da Marvel vêm passando por um período de ócio criativo, indicando uma possível saturação do público em relação às histórias, a Sony tem utilizado os “pseudos projetos cinematográficos” do universo baseado em propriedades do Homem-Aranha para...

‘Bob Marley: One Love’: a vulnerabilidade de uma lenda

Acredito que qualquer pessoa no planeta Terra sabe quem é Bob Marley ou já escutou alguma vez as suas canções. Se duvidar, até mesmo um alienígena de passagem por aqui já se desembestou a cantarolar um dos sucessos do cantor jamaicano, símbolo do reggae, subgênero...

‘Ferrari’: Michael Mann contido em drama sobre herói fora de seu tempo

Coisa estranha: a silhueta de um homem grisalho, a linha do cabelo recuando, adorna um balde de pipoca. É Adam Driver como Enzo Ferrari, em uma ação de marketing curiosa: vender o novo filme de Michael Mann como um grande blockbuster para a garotada. Jogada inusitada,...

‘Garra de Ferro’: um drama que não sai do quase

Garra de Ferro, o novo filme do diretor Sean Durkin, o mesmo dos bons Martha Marcy May Marlene (2011) e O Refúgio (2020), é decepcionante. Mas tinha ingredientes para ser marcante: um ótimo elenco e a base de uma história real e bastante dramática. No fim das contas,...