A longa experiência de Jimmy Christian como repórter fotográfico lhe permitiu elaborar um olhar diferenciado em relação às belezas da Amazônia. Na sua exposição de fotografias Amazônia da Terra, da Água e do Ar, lançada ano passado, já dá para observar o carinho dele pela natureza amazônica, como também pelos elementos paisagísticos sempre presentes em seus registros dentro das excursões.

“Bodó com Farinha” é sua estreia atrás das câmeras, um documentário de aproximadamente 20 minutos. Nele, os três elementos que compõem o título da sua exposição fotográfica são observados já nos segundos iniciais do documentário, atuando como imagens que constituem a beleza da nossa região e que, de certa forma, são elementos para ajudar a compreender o fascínio do cineasta por uma das iguarias mais conhecidas da nossa cultura amazônica: o bodó.

Peixe típico do Amazonas, o bodó é marcado por um olhar ambivalente entre aqueles que o detestam e aqueles que o amam. Sua aparência estranha e o fato de habitarem locais enlameados contribuíram muito para a visão distorcida – quase preconceituosa – das pessoas em relação a ele. Christian, por sinal, desconstrói esta visão no seu documentário, mostrando a importância do peixe na vida ribeirinha, apresentando cada etapa do seu aproveitamento, da pesca até a sua transformação em um prato culinário.

Aproveitando-se da tecnologia moderna, todo o conteúdo do documentário foi gravado por meio de um celular. Logo, é um trabalho econômico, dinâmico à sua própria maneira, principalmente por mostrar de forma objetiva as etapas do processo de captura e transformação, ainda que fique apenas no nível do olhar superficial – no caso das imagens –, não discorrendo mais sobre os aspectos culturais, sociais e econômicos existentes em relação ao bodó.

Algumas situações propostas pelo documentário são ao mesmo tempo interessantes e curiosas, como é o caso do extenuante (e minucioso) trabalho de caça ao peixe realizado pelos ribeirinhos e os momentos descontraídos, onde a câmera-celular de Christian mostra a realidade regional através do festival gastronômico que acontece no município de Iranduba (que, por sinal, leva o mesmo título do documentário) onde a variedade de pratos possíveis de fazer o bodó é enorme, com direito às atividades culturais como danças e a escolha da rainha do festival. Tudo isso dá um toque folclórico charmoso em torno da lenda do peixe.

“Bodó com Farinha” é um documentário essencialmente descritivo e de imagens interessantes. Mostra o carinho que o seu realizador tem pela cultura cabocla e o quanto está interessado em celebrar a existência do peixe mais exótico da Amazônia. Há, de certa forma, um interesse por parte dele de mostrar a espécie Amazônia no contexto da vida ribeirinha e da culinária. Pena que não aprofunde as imagens de uma forma mais ampla, dentro da realidade social e cultural. Com certeza isso daria uma mistura mais farta e interessante ao seu resultado final, cujo peso do prato não seria apenas em decorrência da farinha.