Em um apartamento, quatro personagens se revezam em uma corda-bamba entre o real e a encenação. Mas, não seria a encenação também real? Afinal, todo mundo tem um mundo de personas em si. No filme realizado pelo Ateliê 23, os talentos de Júlia Kahane, Taciano Soares, Dinne Leão e Dimas Mendonça convidam o espectador a pensar na claustrofobia das relações.  

Estava achando curioso o quanto “Ensaio de Despedida” me lembrava outro filme igualmente teatral e deliciosamente caótico, “Quem Tem Medo de Virginia Woolf?”, dirigido por Mike Nichols, até que alguém cita um discurso de outro filme do diretor germano-americano, “Closer – Perto Demais” 

No curta dirigido por Eric Lima baseado na peça homônima do próprio Ateliê 23, a personagem de Julia Kahane parafraseia a de Natalie Portman na produção hollywoodiana lançada há quase 20 anos. Assim como em “Closer” e “Virginia Woolf?”, o desespero e a angústia não se resumem aos diálogos. Esses sentimentos se estendem ao que não se vê em cena: planos fechados e longos sufocam tanto quem vive ali quanto nós, que estamos de fora como os voyeurs que o cinema tanto reinventa.  

ELEMENTOS DE VIDEOCLIPE E TEATRO 

“Ensaio de Despedida é uma provocação em forma de montagem que dança junto com os atores e com as atrizes. Ao final depois do final, os personagens também se voltam para o mundo externo. E, assim como o sol que nasce e o doce que vira farelo, as relações ali mostradas se transformam.  

Parece obrigatório, mas não tem como continuar este texto sem dizer que a energia e a entrega do quarteto em cena remetem ao recente fenômeno que o Ateliê 23 proporcionou no teatro em Manaus, com “Cabaré Chinelo”, que traz Kahane, Soares e também Eric Lima em seu elenco.  

Mas, para além de quatro grandes atores e um diretor seguro da história que quer contar, a linguagem de “Ensaio de Despedida” é de um cinema que usa de elementos videoclípticos e, é claro, teatrais, sem nunca perder de vista o que é: um grande filme sobre relações e encenação. O Mike Nichols que citei ali no início do texto com certeza aplaudiria de pé essa torta de climão cheia de glacê.