Há de se ter boa vontade para ver um filme como “Divã a 2”.

Afinal de contas, tudo indica que será uma bomba se você precisar analisar de forma crítica: continuação de uma comédia nada memorável sem o principal ponto forte do original (leia-se, Lília Cabral), atores para lá de questionáveis nos papéis principais (Vanessa Giácomo nunca fez nada memorável, enquanto Rafael Infante é um coadjuvante da turma do Porta dos Fundos e Marcelo Serrado é um ator competente), uma história nenhum pouco original (triângulo amoroso envolvendo um casal em crise) e o histórico da produção nacional no gênero (“Até Que a Sorte nos Separe”, “Loucas pra Casar”, “De Pernas pro Ar” passam longe de ser um primor).

Por isso tudo, “Divã a 2” até deixa uma ponta de satisfação por não abraçar o estereótipo por completo (ênfase nesse ‘por completo’, por favor) e buscar ser um projeto com uma pegada mais adulta que seus colegas de gênero. A sequência inicial com Giácomo e Infante discutindo a crise no casamento de 10 anos em um cenário escuro e fechado em frases intercaladas de forma melancólica surpreende por deixar o espectador levemente desconfortável com o universo pesado daquelas figuras. Quando o humor aparece, surge em momentos bem aproveitados pelo jovem George Sauma sem soarem bobos. Isso transmite um tom de realidade para o filme capaz de trazer o espectador, ajudando a se envolver com aqueles personagens.

O filme, entretanto, não consegue segurar por muito tempo essa linha mais ‘madura’. Percebe-se o medo tanto do diretor Paulo Fontenelle quanto dos executivos em tornar tudo didático para o público. E para tanto, “Divã a 2” capricha nos artifícios. A caracterização dos personagens já diz tudo sobre eles: Vanessa Giácomo para mostrar ser uma mulher à procura do príncipe encantado precisa estar de franja para aparentar certa inocência ou com um laço rosa na cabeça e uma cara de garota ingênua, enquanto Rafael Infante é o garotão da parada, descolado, de bermuda, pegador e enrolado a ponto de engolir uma lente de contato gelatinosa por engano. De todos, nenhum sai pior do que Marcelo Serrado, o verdadeiro pamonha travestido de príncipe de araque sempre bonzinho e com cara de cachorro abandonado por ser viúvo com uma filha para cuidar (sim, já não basta a expressão; o roteiro precisa reforçar isso). Dessa forma, a personalidade de cada um está posta sem ter para onde correr.

A suavidade inicial perde-se ainda mais com a inserção de Fernanda Paes Leme com uma personagem copiada de Samantha de “Sex and The City” e chega a níveis gritantes quando Fontenelle escolhe uma trilha sonora óbvia ao extremo (jura que alguém ainda usa “Você é Linda” hoje em dia?). Já o realismo desaparece quando os comerciais se sucedem a cada dez minutos, sendo o do Seda o mais mal feito por não haver o menor disfarce. Quando as coisas chegam nesse ponto, claro que o roteiro já foi para o espaço e você fica sem entender nada sobre como aquela sessão de terapia se encaixa na história ou a reviravolta sem sentido envolvendo o personagem de Marcelo Serrado, forçando a barra ao extremo e o final apressado.

Mesmo com todos esses problemas, “Divã a 2” não chega a ser um desastre. Talvez seja boa vontade, não nego. Porém, para quem já assistiu “Totalmente Inocentes”, “O Concurso” e “Copa de Elite”, essa comédia romântica tem méritos por uma ideia solta lá no começo de tratar os personagens como adultos. Não é bem-sucedido, é verdade, mas quando, nos raros momentos, aposta na inteligência do público até tem seu valor.

Ok, é muito boa vontade da minha parte.

P.S: Fê, apesar de ter criticado sua atuação no filme, não me risca da sua lista de pretendentes. Beijos!