Você já parou para pensar nas histórias dos bastidores dos seus filmes, séries e livros favoritos? Algumas delas são tão interessantes que rendem novas produções ou, pelo menos, conteúdo para internet. Olivier Assayas (“Wasp Network”) parte do primeiro ponto, adaptando, para a série homônima, seu longa-metragem “Irma Vep”, este inspirado no seriado da era do cinema mudo “Les Vampires”, de Louis Feuillade.

Estrelado pela sueca Alicia Vikander (vencedora do Oscar por “A Garota Dinamarquesa”), a minissérie de oito episódios acompanha os dramas nos bastidores do remake de “Les Vampires” e como isso influencia nas gravações da produção. Assayas explora a narrativa de maneira metalinguística, o que pode ser visto na forma como mostra o processo de criação dos intérpretes, as dúvidas que perseguem o diretor de set e nas inserções dos trechos do projeto de 1915.

ALTOS E BAIXOS NOS BASTIDORES

Assayas contextualiza a trama na Paris do século XXI: agitada, cosmopolita e tecnológica. A protagonista torna-se uma extensão dessa urbanidade, Vikander oferece um ar mais moderno à narrativa acentuado pela sua elegância e mistério.

Os sentimentos e percepções de Mira nunca estão totalmente claros: ela parece encarar com leveza o desafio de estar numa produção diferente de tudo que já fez e, ao mesmo tempo, sofre em silêncio por não ser a primeira escolha de seus ex-parceiros.

O drama emocional se estende aos outros atores: Gottfried (Lars Eidinger) abusa de drogas para esquecer o quanto é sozinho; Edmond (Vincent Lacoste) quer mais tempo de tela e adicionar camadas ao seu personagem enquanto ignora as opiniões da esposa e busca uma amante; Eamonn (Tom Sturridge) ainda pensa em Mira apesar de estar grávido. Todos esses dilemas particulares influenciam no set de filmagem, contudo, nenhum deles impacta tanto quanto os altos e baixos do diretor.

DILEMA MODERNO Do CINEMA/SÉRIES

René Vidal (Vincent Macaigne) é um cineasta prestigiado, porém volátil e problemático. Sua insegurança e desejo de emular o passado estão diretamente relacionadas à maneira confusa com que os envolvidos no set de filmagem enxergam o remake de “Les Vampires”. Isso é interessante e mostra mais uma vez a sagacidade de Assayas ao abordar a classificação métrica do projeto. Enquanto para René se trata de um filme de oito horas, para a estilosa assistente de Mira, Regina (Devon Ross), tratava-se de uma minissérie para streaming.

Neste sentido, “Irma Vep” adere a discussão em Hollywood (e na Film Twitter) sobre séries limitadas serem minisséries ou um filme de oito horas dividido em oito partes. Obviamente que o formato escolhido pelo diretor dentro da ficção é uma série de televisão, ainda que com uma pegada cult, de autor. Salientando o olhar que se tem ao procurar atualizar os clássicos. Como diria a maior parte do elenco liderado por Mira, as pessoas envolvidas neste trabalho estão rendidas a indústria do entretenimento; para eles, o projeto é comercial e um incremento ao seu portfólio. Longe de mim, duvidar que, na vida real, possa-se mesclar o gosto pela arte com a boa bilheteria da produção.

“Irma Vep” é uma série tímida dentro do catálogo de produções da HBO, mas consegue mostrar de forma implacável os bastidores de um set, além de ironicamente discutir questões bobas presentes na indústria cinematográfica, só por isso vale a pena dar esse voto de confiança a Olivier Assayas.