A protagonista de “Ninjababy” provavelmente levará menos de 15 minutos para conquistar você. Ela é uma ilustradora de 20 e poucos anos, amante de sexo, drogas e RPGs, que vive la vida loca como se não houvesse amanhã. Porém, quando se vê inesperadamente grávida, toda a sua vida sai do eixo. A comédia exibida na mostra Generation do Festival de Berlim deste ano habita o limiar entre acidez e ternura e tem tudo para ser um sucesso de público.
O segundo longa de Yngvild Sve Flikke – que vem de uma longa carreira na TV norueguesa – aposta no humor de constrangimento e acompanha Rakel (Kristine Thorp) num momento particularmente estressante de sua vida: a descoberta de uma gravidez indesejada aos 6 meses de gestação.
Com o aborto fora de questão, ela se lança à missão de passar o bebê pra frente, envolvendo a melhor amiga Ingrid (Tora Christine Dietrichson), seu novo flerte Mos (Nader Khademi) e o pai da criança, de quem ela nem sabe o nome apenas como Jesus Pauzudo (Arthur Berning). Como se a situação não fosse desconcertante por si só, o personagem-título (Herman Tømmeraas) – um desenho animado inspirado na criança indesejada de Rakel – surge, aparecendo para ela em todos os lugares e tornando sua vida um inferno.
COMING-OF-AGE confuso e doloroso
A graça do filme de Flikke está em saber que essa situação poderia ser apresentada como uma tragédia, mas abraçar a comicidade inerente às trapalhadas de um crescimento forçado. O roteiro de Joham Fasting, escrito em colaboração com Flikke e Inga H Sætre, transborda um humor empático com suas personagens, resultando em um dos filmes mais divertidos da Berlinale deste ano.
Aproveitando o fato da protagonista ser uma ilustradora e do filme ser baseado numa graphic novel escrita por Sætre, o longa incorpora várias animações (da própria Sætre, inclusive) que se tornam parte intrínseca da narrativa. O Ninjababy do título, de certa forma, nada mais é do que uma forma do subconsciente de Rakel de dar vazão a todos os pensamentos autodepreciativos que a levam à beira do abismo.
À sua maneira, o filme parece um primo anárquico de “Juno”, com o qual pode fazer uma excelente sessão dupla. Mesmo começando em um ponto de partida similar, a produção de Flikke vai por um caminho muito mais cáustico e politicamente incorreto do que o hit de Jason Reitman.
A guinada que a produção dá em seu terceiro ato expõe a busca do amor próprio como um grande ponto de “Ninjababy”. Mais do que gravidez, o filme quer mostrar as reviravoltas de personagens que erram, caem e crescem – e precisam lutar contra os próprios demônios para sair do outro lado dos apuros. O amadurecimento é um processo confuso e doloroso, cheio de bolas fora. Mas a resiliência que vem com ele, como Rakel descobre, é reconfortante.