Depois de dois episódios modorrentos, com preparação de terreno acompanhada de poucas recompensas para o espectador, a temporada de Os Anéis de Poder se recupera com este episódio 6, intitulado “Udûn” – a palavra élfica para inferno. Não é um segmento perfeito, mas tem ação, um pouco de drama e ele acaba ganhando uns pontos a mais por apresentar um final forte e, até certo ponto, inesperado. É seguro dizer que a série não será mais a mesma depois deste ponto.

Diferente dos episódios anteriores, neste acompanhamos somente duas linhas narrativas: a iminente batalha dos orcs liderados por Adar contra os homens do sul em Ostirith, e a chegada dos númenorianos. Nada de Pés-Peludos ou Elrond neste episódio. Na minha crítica da semana passada, temi que essa batalha virasse um “abismo de Helm light”, em referência ao clímax de O Senhor dos Anéis: As Duas Torres (2002), de Peter Jackson. Bem, este segmento até tem umas similaridades com a batalha do abismo – mais sobre isso à frente. Mas também tem seus ingredientes próprios, capazes de lhe trazer um pouco de personalidade.

A diretora Charlotte Brändstörm encena bem a ação: Uma sequência logo no início mostra Arondil derrubando uma torre em cima dos orcs – será que algum dia cansaremos de ver orcs feios sendo trucidados na tela? Talvez não. Enfim, este é apenas o primeiro passo da resistência dos homens, e o episódio realmente funciona melhor quando a pancadaria está rolando. Algumas cenas mais dramáticas depois desse momento não funcionam tão bem, em parte porque alguns atores da série ainda precisam crescer um pouco mais como intérpretes – como os atores que fazem o Theo e o Isildur – ou em parte porque alguns dos personagens ainda precisam evoluir mais. Arondil, por enquanto, é só o herói atlético.

Porém, um ator (e personagem) que está funcionando muito bem é Joseph Mawle como Adar. Seu vilão só fica mais interessante com o tempo, e a atuação sutil do ator contribui muito para o impacto do personagem. Além disso, nesse episódio finalmente temos respostas sobre ele: Adar é um Uruk, um dos elfos que foram escravizados e torturados por Morgoth. E de fato, essa revelação e as atitudes dele trazem um pouco de profundidade a essa raça da Terra-média, que geralmente só serve como bucha de canhão do Mal nas histórias de Tolkien e nos filmes – como até eu mesmo celebrei há pouco. Enfim, é bem interessante o que a série vem fazendo com os orcs e com Adar em particular. No momento, ele é o personagem mais interessante da série, até mais do que Galadriel.

Falando nela… Nossa elfa favorita não faz muito no episódio, mas quando faz é para deixar o espectador impressionado. Claro, a chegada dos númenorianos com Galadriel na hora H é um pouco conveniente – a salvação de Gandalf no abismo de Helm era melhor construída – mas a cena do exército se aproximando a cavalo ao som da trilha de Bear McCreary, e entrando em ação, é um dos grandes momentos visuais da série até aqui. E como todo bom guerreiro elfo, dá vontade de jogar com Galadriel se isso aqui fosse um game, pelos movimentos que ela é capaz de fazer…

No fim de tudo, os heróis resolvem o problema apesar de alguns momentos de suspense envolvendo Bronwyn. Fica-se até com a impressão de que o episódio ia terminar dez minutos mais cedo… Mas então nos lembramos que isso aqui veio de Tolkien, e nos escritos dele objetos de grande poder sempre provocam corrupção e destruição, ao menos por um tempo. É quando o punho dos orcs volta a entrar em cena e o título do episódio se justifica.

Realmente, esse final é poderoso e leva a série para um território novo. E isso é uma coisa boa, ainda mais a essa altura da temporada. Os Anéis de Poder, apesar do começo forte, estava começando a se perder, dando voltas em suas narrativas e sentindo um pouco o peso de ter que construí-las, e ao mundo em que elas se passam. Agora, parece que o jogo mudou. Justo quando a série começava a ficar estagnada, os roteiristas sacodem o tabuleiro para promover um rearranjo. Os próximos episódios – 2 para encerrar a temporada – serão o indicativo de para onde o seriado irá, então ainda é cedo para comemorar inteiramente essa decisão.

Mas, depois de tantos anos assistindo seriados, é bom observar quando um deles tem a coragem de dar uma sacudida como essa. Quando Os Anéis de Poder começava a dar sono, veio um choque para despertar, e ao menos por enquanto, fica a vontade de ver para onde isso vai.