É curioso que este sétimo episódio de “House of the Dragon” com tantos eventos marcantes para a dança dos dragões seja calcado em diálogos francos. Mais curioso ainda é que tantas situações resulte em um capítulo que, sendo honesta, pouco me empolgou. “Derivamarca” é a última participação de Miguel Sapochnik à frente de um projeto do universo de “Game of Thrones” e traz as marcas latentes de sua direção, vistas em “A Batalha dos Bastardos” (6×09), “A longa noite” (8×03) e “Os herdeiros do dragão”: muitos eventos, baixa iluminação e viradas estratégicas e pouco esperadas. 

Estamos no funeral de Laena Velaryon, mesmo assim todos os olhos estão voltados para Rhaenyra e sua prole. O roteiro parte da discussão que atormenta Jacaerys Velaryon: paternidade. Tal escolha é interessante visto que, mais uma vez, se debruça em abordar a liberdade sexual que a Princesa de Pedra do Dragão se permite, algo que incomoda toda a ala conservadora de Westeros, mas não aqueles que tem estima por Rhaenyra e o orgulho de sua casa acima de qualquer suspeita: Corlys e Viserys. 

Conversas sinceras

Os cochichos, conluios e conversas reveladoras estão presentes por “Derivamarca”. Às vezes com palavras claras, outras por meio de ações. São vários os momentos em que os pensamentos que rondam os personagens são nos revelados: Corlys e Rhaenys, Daemon e Rhaenyra, Laenor e Rhaenyra, Alicent e Rhaenyra, Aegon e Aemond. Mas em alguns instantes são os pequenos atos que revelam o interior como na falta de afeto entre Rhaenys e os filhos de Laenor, a obsessão de Cole e Pé Torto por Alicent e Corlys e sua tentativa de se aproximar de Lucerys. 

Este é um episódio verborrágico, no qual intenções, anseios e ojerizas são trazidos à tona; no entanto, a troco de nada. O diálogo entre Corlys e Rhaenys, por exemplo, evidencia o orgulho e patriarcalismo da Serpente do Mar; entre Daemon e Rhaenyra, o desejo e a carência da princesa que viveu todos esses anos sem partidários na corte; e assim cada conversa atesta coisas que já sabemos por termos visto em cena, a grande questão são os passos a partir dessas trocas, não vistos até o momento. 

Os sacrifícios da rainha

Entre os sincericídios mais recorrentes de “Derivamarca”, a confissão de Alicent Hightower seja o mais relembrável – não memorável. A rainha verde expõe o quanto se sente incomodada por todos os sacrifícios feitos para proteger o reino, a família e a lei; enquanto assistia a princesa fazer o que ansiava sem sacrifícios, aos olhos da ex-amiga. Nessa hora, deve ter passado um filme na cabeça de Alicent incluindo cada momento perdido da sua juventude pelo casamento e, embora haja traços de rancor, inveja e ressentimento para com a enteada, houve uma construção para mostrar o quanto Viserys é responsável por isso. 

Sem cair nas mesmas repetições da série nesse texto, o rei deixou claro o quanto não se importa com Alicent e seus filhos. Ele não foi o melhor pai para Rhaenyra, porém há traços de afeto entre eles que inexiste na relação com seus filhos mais novos, na verdade o capítulo escancara que não há relação, não há trocas. Viserys é o rei e os trata de forma distante e política, não é à toa que estes usam as cores Hightower e nunca as Targaryen. 

A sensação que tive é que Alicent foi um passatempo, um receptáculo para gerir filhos que garantissem a estabilidade da linhagem e nada mais. Se no episódio anterior, ela ignorava seu posicionamento enquanto monarca e chefe de estado, aqui ele a rejeita enquanto rainha e esposa. 

O que me chama atenção é que Alicent parece tão isolada na corte quanto Rhaenyra, com a diferença de possuir dois aliados capazes de cometer crimes para que ela não suje as mãos ou a moral. Talvez a aproximação do Deleite do Reino e o Príncipe da Cidade equilibre os lados. 

Entre lutos e mudanças

Nesse ínterim, um dos temas superficiais que a trama aborda é o luto vivido por crianças. De um lado, Baela e Rhaena sofrem pela partida da mãe e veem em Vhagar o legado deixado por ela. Porém também acompanhamos o quanto a partida de Harwin Strong foi dolorosa para Jace. Os roteiristas usam essa dor para aproximar e justificar o arco das crianças Velaryon-Targaryen, é interessante observar nesses escombros ainda como o isolamento de Rhaenyra na corte também incide sobre suas crianças, mais um elemento para dar liga ao relacionamento de seus filhos com os de Daemon. 

Algumas coisas, no entanto, me incomodaram no decorrer do episódio: as mudanças. Não sei se porque gostei da interação entre as crianças verdes e negras, contudo achei estranho o distanciamento e o ataque a elas nesse episódio. Aegon parecia gostar dos sobrinhos para soltar palavras tão ferinas a eles, assim como seu irmão pouco reagente ter partido pra cima dos quatro Velaryon-Targaryen – isso condiz com o Aemond dos livros, mas não com aquele que chorou por seu dragão porco, enfim. 

Outro ponto que me chamou atenção foi o retrocesso da maturidade de Rhaenyra vista no episódio anterior. Foi só ver o tio que ela parece ter recobrado os ímpetos da adolescência fazendo propostas egocêntricas, sem sentido e rasas para alguém que pretende governar os sete reinos sem ser tirânica. Gostaria de dizer a ela que se não existe amor em SP, o que dirá em Westeros que tem tragédia em todo casamento televisionado.

Gostaria de fazer um adendo a Rhaenys, a rainha que nunca foi. Os passos dela merecem atenção nesse episódio e mostram o quanto certas alterações na adaptação seriam mais ricas se não existissem. Explico: nos livros, Rhaenys é Baratheon por parte de mãe e por isso seus cabelos são negros, herança genética que facilmente poderia pular uma geração (dado que sua avó materna era Velaryon) e deixar a paternidade dos filhos de Laenor e Rhaenyra como mais um ponto dúbio da série. A não ocorrência, além de suscitar a discussão em círculo sobre a linha de sucessão, ainda optou-se por torná-la distante e indiferente aos netos. Penso em como a série continuará moldando tendo em vista seu papel no conselho negro.

Por fim, a que serve a reviravolta final do episódio? Não me surpreenderia se Laenor realmente morresse nos minutos iniciais do próximo episódio, mas isso me faz pensar o quanto Condall está criando um cânone distante de George Martin e como isso se reflete na perca de tridimensionalidade da sua narrativa.

Nos preparemos para as cenas dos próximos episódios.