O segundo episódio de “House of the Dragon” me incomodou um pouco, porque narrativamente pareceu uma ponte para acontecimentos que virão; o que o tornou mediano e sem toda a empolgação que o capítulo de estreia proporcionou. 

A começar pela tão sonhada abertura da série

Comentei na crítica do episódio inicial que as mudanças visuais e cenográficas também precisavam se estender a sonorização, e reitero isso. O tema de “Game of Thrones” se eternizou em nossas mentes (e corações), mas se nem mesmo Porto Real é semelhante a da produção de D&D, por que o tema da casa do dragão precisa ser?  

É um novo ciclo e deveria ter novos acordes, também. Estamos diante da história da Casa Targaryen e da antiga Valiria, por que não investir em uma música que faça parte dessa construção de identidade? 

Desconstrução de personas

“O Príncipe Rebelde” se debruça em desconstruir a imagem que o primeiro episódio nos deu dos personagens e oferecer tridimensionalidade a eles. Neste percurso, são poucos – ou quase nenhum – aqueles que conseguem nutrir a afeição do público. Acompanhamos como as três principais casas lutam politicamente para manter-se no poder, o que os torna mais odiáveis do que dignos de afeto – como tínhamos os Starks – o que enriquece a trama. Dessa forma, as sementes para a guerra civil seguem sendo pavimentadas e bem delineadas para o espectador. 

Seis meses se passaram desde que a rainha Aemma (Sian Brooke) faleceu no parto e Rhaenyra (Milly Alcock) foi nomeada como a princesa de Pedra do Dragão, no entanto, as dores do luto e a perspectiva social sobre as mulheres não fizeram com que o título melhorasse a vida da princesa, muito pelo contrário, a isolou. Embora seja a primeira na linha de sucessão, Rhaenyra não é tratada como tal, o que pode ser comprovado com a pressão pelo casamento de seu pai (Paddy Considine) e a forma como o pequeno conselho, na figura do intragável Otto Hightower (Rhys Ifans), a silencia.

Mais uma vez, o roteiro de “House of the Dragon” usa a condição da princesa para debater questões femininas. O diálogo entre ela e Rhaenys (Eve Best), sua firmeza em relação a Daemon (Matt Smith), a tentativa de aproximação do pai e o choque da traição de Alicent (Emily Carey) demonstram os variados desafios e nuances que a mulher precisa enfrentar – e não precisa nem ser membro da realeza para isso. Fica nítido, contudo, o quanto as funções que lhe oferecem são menores do que as que seriam destinadas a um herdeiro homem, em contrapartida, ela cria suas próprias oportunidades e aproveita o que lhe é destinado para seguir o que acredita. Neste sentido, ela está mais próxima a Daenerys (Emilia Clarke) do que um dia esteve de seu pai. O que, para mim, é uma desmistificação da relação paternal, já que minha interpretação dos livros levava a crer num Viserys próximo a filha. 

E por falar no rei de Westeros, é sintomático que nem o trono o queira mais, já que vive se cortando nele. Sua jornada continua sendo uma bola de neve de equívocos e fraqueza. A opinião de Daemon sobre o mesmo permanece sendo o veredito de sua personalidade. Fraco e altamente manipulável, sua escolha de pedir opiniões frequentes de seus conselheiros sanguessugas o torna cada vez mais intolerável. Pena que ainda não conheçamos Rhaenys o suficiente, para saber se ela seria uma escolha melhor de liderança, enquanto Viserys poderia se dedicar a maquete de Valiria. Sua fraqueza é o embrião da guerra civil.

Por fim, este foi o episódio de jogadas de Corlys Velaryon (Steve Toussaint). A Serpente do Mar buscou todos os recursos visando a ascensão, parecendo tão desesperado quanto alguém que deve fortunas ao banco de Braavos, o que não é o caso, mas é bom ter a percepção de como agiria se fosse o príncipe consorte, sinal de que precisamos urgentemente de mais interações e diálogos entre ele e a rainha que nunca foi. 

Os showrunners Ryan Condal e Miguel Sapochnik parecem querer destinar surpresas a cada final de episódio, veremos como eles retratarão as reações a decisão de Viserys. Com certeza, Rhaenyra e Corlys tem algo a nos oferecer na próxima semana. E só pelo desenvolvimento dos dois e da quebra da leitura sobre os personagens, é que este episódio mediano vale a pena. 

*Coisas que não fazem sentido na trama: o que aquele septo faz ali, se ele só seria construído por Baelor em 161 dC?