A advertência de Machado de Assis aos leitores mais impiedosos de seus contos segue justíssima: pelo menos, eles são curtos. Naturalmente, o mesmo se aplica ao formato de curta-metragem. Mas a duração apertada, mais que remédio, pode ser mesmo um mal em casos como o de “Ela Mora Logo Ali”. 

Nem tanto pela sensação de faltar algo. Também não é o caso de caber adendos à história. A questão é mais sutil. É que, na decupagem, sobram planos demais e tempo de menos. 

O começo é exemplar do que digo. Em uma tentativa, talvez, de fazer caber todo o material filmado, os planos são quase que empilhados uns sobre os outros enquanto conhecemos nossa protagonista, uma vendedora ambulante que trabalha num semáforo. Em casa, ela cuida do filho acamado e transforma “Dom Quixote” – que conhece através de uma passageira do seu ônibus de cada dia – em história de ninar. Quando a tal passageira some misteriosamente, ela precisa descobrir o final do livro por conta própria, da maneira que for. 

História simples, mas que cativa. O que parece faltar a “Ela Mora Logo Ali” é, antes, economia. Talvez fosse o caso, por exemplo, de apresentar nossa protagonista no semáforo em um único plano, já ao final do trabalho, esperando pelo seu ônibus. Ou coisa que o valha (não vamos bancar o roteirista que o espaço não é para tal). 

De todo modo, cenas como a da biblioteca certamente poderiam ser encurtadas. Nela, o filme tenta de tudo – desde um gracejo com a revendedora de cosméticos até um comentário social com a revelação de que alguns livros foram apreendidos – e consegue muito pouco. 

Mas se o tempo é curto e os planos se espremem, o mesmo não se pode dizer de Agrael de Jesus no papel principal. Ela, sim, sobra na tela: cômica, trágica, forte, frágil, o pacote completo da experiência humana nesta Terra. Ou, em outras palavras, uma mãe brasileira.