A despedida de Logan (Brian Cox) no terceiro episódio da última temporada de “Succession” chocou a todos pelo acontecimento inesperado de vermos ir embora o protagonista muito antes do fim da série. Desta vez, no grandioso “American Decides”, o oitavo capítulo, é impossível não sairmos sem o sentimento tanto de déja-vu como de temor pela repetição do erro. 

Estamos na eleição mais importante da história recente dos EUA colocando o democrata de origem latina Daniel Jimenez (Elliot Villar) contra o representante da extrema-direita com todo o pacote retrógrado na ação e discurso Jeryd Mencken (Justin Kirik). O diretor Andrij Parekh ambienta muito bem a dimensão do acontecimento ao focar na constante tensão de todos ao redor: nunca a redação e os corredores da ATN foram tão pesados como agora em que cada ação pode determinar o futuro do país. A cada notícia externa como um incêndio e ataques, eletriza-se ainda mais um clima insuportável de que tudo pode desmoronar. 

LOGAN PROFÉTICO 

Se tudo depende de pessoas completamente instáveis, mimadas e nada sérias (cada vez mais proféticas as palavras de Logan para os filhos no último encontro, diga-se), espere pelo pior. O jogo de poder sobre a compra ou não da WayStar pela GoJo e, acima de tudo, os próprios dilemas pessoais dos Roys se sobrepõem aos interesses do país, colocando Roman (Kieran Culkin) como grande apoiador de Mencken, enquanto Shiv (Sarah Snook) preza pelo bom senso e pragmatismo na defesa da democracia com Jimenez. Ele mostra que novamente voltou a ser o escroque de sempre ao simplesmente se lixar sobre os riscos do extremista na Casa Branca, defendendo na cara de pau fake news como se não houvesse amanhã. 

E o que dizer da personagem de Sarah Snook? Por melhor que sejam suas intenções aqui, Shiv se mostra uma peça fácil de ser passada por cima, sendo humilhada por tudo e todos – nem mesmo Greg (Nicholas Braun, excelente) cai em uma tentativa de intimidação, provocando uma dura derrota para ela e, consequentemente, para a democracia dos EUA – aliás, o primo dos Roys demonstra a cada dia que se tornou um dos piores da turma aliando desfaçatez, insensibilidade e frieza.  

Retornando a Shiv, a queda passa por todos os fronts seja na descoberta do segredo da parceria com Matsson (Alexander Skarsgard) ou com Tom (Matthew Macfadyen, que temporada é essa, meu caro?), o qual volta a humilhá-la mesmo diante de uma revelação positiva para ele. 

REALIDADE NÃO TÃO DISTANTE 

Kendall está no meio do caminho e em um dilema que o deixa entre a cruz e a espada: apoiar Mencken é garantir a WayStar nas mãos da família, enquanto se opor é estar do lado certo da história e da democracia, fora evitar riscos à filha. Jeremy Strong traz este conflito para a tela com brilhantismo ao aparecer quase sempre duro como uma rocha, olhando para baixo mais do que o costume e visivelmente assustado com a dimensão do que tem em mãos. Somente as velhas desavenças entre os irmãos o transforma como vemos na fantástica sequência em que sabe da não ligação de Shiv para Nate (Ashley Zukerman). 

Sem esquecer o bom humor para quebrar esta tensão pura como ocorre no medo de Greg em não se viciar em cocaína ou no bizarro debate sobre frango e bife, “America Decides” recorda os momentos desesperadores de 2016 e 2018 com as eleições, respectivamente, de Trump e Bolsonaro em que EUA e Brasil viraram de ponta a cabeça para caírem nas mãos de sujeitos desequilibrados.  

Para piorar, o republicano responsável por tentar o impensável até anos atrás – um golpe de Estado em Washington – tem boas chances de retornar à Casa Branca em meio a um sistema eleitoral antiquado e confuso dos norte-americanos e emissoras iguais à ATN dispostas a dar apoio e visibilidade para figuras abjetas da política, mesmo sabendo de todos os riscos inclusos nesta estratégia. Porém, como diz Connor (Alan Ruck), para ricaços como ele que continuariam com vidas de luxo, qual o problema? Loucura total, como constata o sem noção do Matsson.