A primeira lição a ser tirada de “The Teacher’s Lounge” é que o sistema educacional alemão é realmente superior. Ou isso ou eu que fui um péssimo estudante, porque os alunos da sétima série da Sra. Nowak (Leonie Benesch) estão aprendendo equações que eu não lembro de ter sequer vislumbrado um dia.

A segunda lição é que, mesmo na bagunça, os alemãezinhos são muito ordeiros. Eu nunca vi uma turma tão bem comportada, mesmo quando se voltam contra a professora. Parecem mais uma organização sindical do que uma classe pré-pubescente.

Do contrário, o que mais há para ser tirado daqui? A abordagem câmera-na-mão-e-imagem-lavada-na-sala-de-aula já foi vista em diversas edições de festivais mundo afora. A novidade talvez seja os ares de ataque de pânico que a trilha sonora carregada de dissonância tenta transmitir, realçada pela face sempre exasperada de Leonie Benesch. O magistério na era da crise de ansiedade internética? Talvez fosse uma abordagem interessante, mas nada é muito desenvolvido nesse sentido.

O que há é a sala dos professores como microcosmo de uma Europa cindida: ninguém confia em ninguém, a paranoia corre solta e todos têm medo de admitir que são racistas. Quando uma onda de roubos atravessa a escola onde a idealista Sra. Nowak leciona, é claro que o rapazinho de nome Ali seria o primeiro suspeito.

CARINHA EXCESSIVA DE FESTIVAL

Mas eis que “The Teacher’s Lounge” muda o foco das picardias estudantis para as contravenções do seu corpo de funcionários. Nowak toma uma decisão questionável: grava um vídeo às escondidas na sala dos professores. Acaba capturando o que parece ser uma prova incriminatória de roubo contra a Sra. Kuhn (Eva Löbau). A Sra. Kuhn nega a acusação, mas também não parece muito disposta a conversar. Para piorar, o pequeno Oskar Kuhn é um dos alunos da classe de Nowak.

Daí todo tipo de complicação moral se sucede, conforme a Sra. Nowak se vê perseguida por alunos, pais e até mesmo professores. “Kafkaesco” é uma daquelas palavras usadas a torto e a direito por aí, mas o longa até que sugere um clima de perseguição absurda típico do escritor tcheco. No entanto, essa não parece ser a maior preocupação do diretor Ilker Çatak. Seu filme transita naquela linha do naturalismo afetado e estridente à la Xavier Dolan, sem ser capaz de resolver satisfatoriamente nada do que articula.

Até certo ponto, não é um problema. Conforme os obstáculos se empilham no caminho da nossa professorinha, ficamos firmes ao seu lado. Mas lá pelas tantas a gente começa a se perguntar se o verniz de festival é tudo que “The Teacher’s Lounge” tem a oferecer. Parece que sim.