Agora que a polêmica esfriou, que lemos os e-mails constrangedores da Sony, que presenciamos a atitude acovardada da gigante de Hollywood, que até o presidente Obama já deu o seu pitaco, A Entrevista parece ser apenas mais um filme da dupla descolada oficial de Hollywood, Seth Rogen e James Franco.

Depois da estreia promissora com É o Fim (2013), os diretores Rogen e Evan Goldberg retornam com um trabalho pouco inspirado, mas que acertou espetacularmente no alvo: uma sátira ao ditador norte-coreano Kim Jong-Un, comandante do regime mais fechado e exótico do planeta. E é o retrato caricatural, implacável, do déspota, causador de toda a polêmica, a principal pedida do filme – talvez a única.

Dave Skylark (Franco) é apresentador de um programa de TV bastante popular nos Estados Unidos, notório principalmente pelas entrevistas bombásticas com celebridades – por sinal, gancho para algumas das melhores cenas do filme, como as “revelações” de Eminem e Rob Lowe –, mas que é ridicularizado por todos os jornalistas sérios. Seu produtor, Aaron Rapoport (Rogen) decide arranjar uma entrevista capaz de redimir a atração, e a oportunidade que surge é a melhor possível – um documentário sobre Kim Jong-Un revela que o ditador norte-coreano é na verdade um grande fã do programa.

Mas a entrevista com o Líder Supremo não interessa apenas a Dave e Aaron: o FBI, na forma da bela agente Lacey (Lizzy Caplan, ex-colega de Rogen no seriado Freaks & Geeks) vê nisso a chance de eliminar o facínora, missão que agora cabe à dupla loucaça.

Com seus complexos de filho mimado, desprezado pelo pai, e fã de Katy Perry, Jong-Un, na interpretação hilária de Randall Park, é de longe a melhor coisa do filme. Ele também demonstra uma ótima química com Franco, criando algumas gags de primeira nas cenas do tanque e da entrevista. A bela militar Sook (Diana Bang) também brilha, levantando um pouco as cenas do apático Rogen. No conjunto, porém, A Entrevista soa como um frustrante apanhado de piadas pouco originais e potencial desperdiçado pelo roteiro. A interação entre Franco e Rogen, que já rendeu ótimos momentos em Segurando as Pontas e É o Fim, parece estar dando sinais de cansaço, com os dois atores mais repetitivos e desinspirados do que nunca.

Também há problemas de ritmo, principalmente no início, quando o filme aposta em excesso no vigor cômico dos dois. Estando perto do auge recente de Rogen e Franco, porém, A Entrevista ainda guarda flashes esporádicos daquele brilho que nos fez adorar, em primeiro lugar, comédias como Superbad – É Hoje! e o já citado Pontas. Muito poucos, porém, diante do que o filme poderia ter sido, e muito pouco, principalmente, diante de todo o bafafá mundial provocado pela ofensiva online de Jong-Un. Não era para tanto. Rogen, Franco e Goldberg, porém, agradecem o hype.