Hollywood adora histórias para mostrar ao espectador médio como o seu problema é nada diante daqueles retratados nos filmes. Para dar maior crédito, os estúdios adoram pegar dramas reais mirabolantes, investir uma graninha e fazer o povo chorar com diversos artifícios manjados (trilha sonora açucarada, frases de efeito e atores consagrados em personagens com forte exigência física são as mais comuns). Tudo claro dentro de uma receita embalada com mensagens inspiradoras para levarmos para as nossas vidas e alçarmos aquele projeto para um status de obra fundamental.

Se tudo der certo, o Oscar está aí para valorizar essas produções. Que o digam “À Procura da Felicidade”, “Tão Perto, Tão Forte”, “Um Sonho Possível” e “Uma Mente Brilhante”. “Livre” é o representante da turma em 2014. Baseado na vida da escritora Cheryl Strayed, produção retrata a jornada feita por mais de 1.100km na Costa Oeste dos EUA. Durante o caminho, ela reflete sobre a morte da mãe e como entrou em uma depressão profunda e vício em drogas pesadas.

O começo de “Livre” sugere uma produção interessante em que a montagem possui fundamental importância pela forma como intercala o período no deserto e flashbacks sem uma ordem cronológica. Isso possibilita ao espectador ter noção do que ocasionou Strayed a fazer algo tão radical à medida que o tempo avança, sendo surpreendido por certas atitudes que não tínhamos ideia logo no início da trama. O mérito do montador Martin Pensa, porém, acaba sendo sabotado pelo tom adotado no filme.

Responsável pelo competente “Clube de Compras Dallas”, o diretor Jean-Marc Vallée erra ao querer mostrar uma história de superação com tons de autoajuda durante o trajeto pelo deserto. Clichês como a série de pessoas boas no caminho de Strayed com algum tipo de auxílio seja para a travessia ou para a vida e alegorias pobres sobre as dificuldades de se atravessar um rio ou uma pedra no meio do caminho como forma de vencer as barreiras da vida permeiam “Livre”. Como se não bastasse, frases de efeito de grandes escritores aparecem na tela sempre que possível para salientar ainda mais a mensagem e a pegada moralista – por que o tiozão do churrasco considera excessivo levar tantos preservativos? Camisinha pesa? – soa antiquada.

Depois de um período apagada, Reese Whiterspoon mostra empenho para construir uma personagem complexa, em especial, na parte dos flashbacks quando Strayed se desconstrói. Já quando a trama vai para o deserto, a atriz se esforça, porém, sobram caras e bocas e, claro, um momento de choro ajoelhada para ser exibido no Oscar. Quem realmente rouba a cena é Laura Dern ao viver a mãe da protagonista. A ingenuidade alegre mesclada com a força trazida por ela comove o público ao ponto de se entender a dimensão da tragédia posterior à morte dela.

Quase que sendo obrigado por ter que transmitir uma mensagem, “Livre” decepciona por se entregar fácil ao tom de autoajuda. Pouco para um filme com bons nomes e capaz de render uma análise mais abrangente da protagonista do que apenas aceitar seu caminho para um purificação espiritual.

NOTA: 5,0