Made in China, a nova comédia da Globo Filmes, tem um DNA televisivo e talvez até rendesse mais se fosse um humorístico semanal na TV. O filme do diretor Estevão Ciavatta, marido da estrela Regina Casé, tem um tom muito livre e disperso, uma premissa que não sustenta o interesse por toda a duração da história e uma narrativa meio episódica, e assim poderia ser facilmente adaptado como seriado cômico da Globo.

O filme começa com imagens de gigantescos containers, nos quais os nomes dos atores aparecem sobrepostos de forma criativa. É um mau sinal quando os créditos de abertura acabam se destacando como uma das partes mais interessantes do filme… Enfim, o destino desses containers é a SAARA (Sociedade de Amigos das Adjacências da Rua da Alfândega) do Rio de Janeiro. Aquela grande área comercial do Rio é um verdadeiro microcosmo refletindo a confusão da globalização: lá convivem brasileiros, libaneses, judeus e, claro, os chineses que conseguem vender seus produtos a um preço impossivelmente barato. A loja chinesa do senhor Chao (Tony Lee), aos poucos, começa a roubar a freguesia do estabelecimento de Nazir (Otavio Augusto), localizado em frente. Lá trabalha a vendedora Frances (Casé), que não vai deixar isso barato e começa a tentar descobrir o segredo dos negócios chineses. Com o tempo, brasileiros e orientais descobrem que não são tão diferentes assim.

Antes disso, porém, o espectador verá muitas piadas com os estereótipos brasileiros e chineses e as diferenças culturais – não faltam chineses trocando o “r” pelo “l” nem a história de que eles comem cachorros, claro… Pena que só o conflito central do filme não seja o bastante para justificar uma hora e meia de duração, então surgem as tramas paralelas. Vemos o filho do seu Nazir, vivido por Luiz Lobianco, tentando seduzir a vendedora gostosa da loja do pai, papel de Juliana Alves. Vemos a filha do senhor Chao, a chinesa Din Din (Yili Wang), se esforçando para virar carioca, chegando até a se tornar “popozuda”. E ainda vemos as negociatas estranhas de Chao, mostradas com um pouco de mistério e com direito a bandidos com ares de máfia chinesa de um filme de Jackie Chan. Porém, num demonstrativo da displicência do roteiro, esse mistério não leva a lugar nenhum.

Num humorístico semanal, essas tramas e esses personagens talvez pudessem ter mais oportunidade de se desenvolver e até de arrancar algumas risadas. No formato de um longa, essa mistura se revela desfocada e aborrecida. O filme se torna ainda mais desconexo quando, do meio para o final, começam a ocorrer saltos cronológicos na narrativa, com “pulos” de mês em mês.

A produção foi rodada em meio à comunidade e o filme não deixa de mostrar Regina Casé caminhando pelas ruas da SAARA e interagindo com a multidão de pessoas que passa por ali. Porém, algumas cenas perdem essa autenticidade e dão a impressão de terem sido feitas em estúdio, como a luta entre o senhor Chao (ele é chinês, então deve saber lutar…) e o personagem Carlos Eduardo, interpretado pelo divertido Xande de Pilares. Nesses momentos, o espectador se sente como num cenário do Projac, e o longa parece uma filial do “Esquenta”, programa apresentado por Regina Casé e dirigido por Ciavatta.

Além disso, uma das opções mais bizarras do longa é a de frequentemente legendar em chinês as cenas em que os personagens conversam… em chinês! Se a intenção era causar humor, então essas cenas fracassam terrivelmente, pois as legendas na parte de baixo da tela só distraem o espectador, que já não está entendendo nada mesmo, muito menos o porquê dessas letrinhas estarem aparecendo.

No fim das contas, Made in China é mais um filme a celebrar a magia do brasileiro e a união dos vários povos e imigrantes que constituem a nação. Mas faz isso de uma maneira única, colocando todo mundo para sambar e valorizando o maior produto nacional, os peitos e bundas das brasileiras – é sério, isso realmente acontece na história. Não são intenções desprovidas de mérito, exceto esta última, é claro. Porém, o filme carece de um maior estofo e de um roteiro mais caprichado e coeso. O resultado final é mais uma comédia morna e desinteressante, cujo maior pecado é o de não se parecer com cinema. Parece mais um monte de esquetes de um programa de TV colados juntos.

Nota: 3,0