Em um ano de produções amazonenses circulando com intensidade nos festivais nacionais e internacionais, o cinema do Estado continua desbravando novas janelas de exibição. O streaming do Itaú Cultural, desde junho deste ano, abre espaços para filmes da Região Norte em uma seleção intitulada ‘O Ser Amazônico’ com curadoria do Matapi – Mercado Audiovisual do Norte. Na última sexta-feira (24), dois novos curtas chegam ao serviço: “Maria”, de Elen Linth, e “Sons do Igarapé”, de Victor Kaleb.
Produzido pela Eparrêi Filmes, “Maria” retrata a história de Maria Moraes e seus processos de resistência enquanto travesti na cidade de Manaus. O documentário referenda as pesquisas em direito à cidade, conflitos urbanos e discriminação por endereço em abordagem conjunta à poética da personagem que também é roteirista junto com Elen Linth no projeto. A protagonista também recebeu um prêmio pela atuação dela no filme.
A carreira de “Maria” traz participações no 11º FOR RAINBOW, Mostra Ela na Tela, Mostra Fronteiras Imaginárias do Festival Visões Periféricas, 3º Petit Pavé – Festival de Cinema Independente de Curitiba, 12º Encontro Nacional de Cinema e Vídeo dos Sertões (PI), Mostra Emponderadas, dois prêmios V Recifest: Festival de Cinema da Diversidade Sexual e de Gênero, Goiânia Mostra Curtas, entre outros. Também faturou júri popular da Mostra do Cinema Amazonense 2017 e do júri do Festival Olhar do Norte 2018.
Já o musical “Sons do Igarapé” é o primeiro curta-metragem de Victor Kaleb, da Artrupe Produções Artísticas. A obra traz a história de um casal morando isolado que encontram um ser sem pêlos.
Segundo o realizador, a ideia é trabalhar as questões sobre as conexões e relacionamentos humanos com a música sendo elo fundamental deste processo. No elenco, além do próprio Kaleb, estão Fabiano Baraúna e Jessyca Paiva.
OUTRAS NOVIDADES DO STREAMING
A seção ‘O Ser Amazônico’ ainda terá o lançamento do curta paraense “Matinta”, dirigido por Fernando Segtowick e Adriano Barroso. A produção inspira-se na lenda de Matinta Perera, a bruxa amazônica que se transforma em pássaro agourento.
Na história, um pescador chega em casa e encontra a esposa com febre, tosse e uma das pernas cheia de manchas negras. Sem saber o que fazer, ele procura orientação de sua mãe, que conhece os remédios da floresta. Fatos estranhos e novas enfermidades começam a aparecer na comunidade.
O cinema nordestino também terá espaço no Itaú Cultural Play: serão lançados quatro obras de Chico Liberato, cineasta baiano considerado um dos pioneiros do cinema de animação no Brasil. Além do icônico Boi Aruá (1984), primeiro longa-metragem neste formato realizado na região, a mostra dedicada ao diretor traz Ritos de Passagem (2014) e os curtas-metragens Carnaval (1989) e Amarilis (2016).
As novas atualizações de filmes do Centro-Oeste começam com Das raízes às pontas (DF), premiado pelo Júri Popular no Festival de Brasília, se tornando uma referência no debate sobre preconceito racial e afirmação identitária em escolas e espaços educacionais de todo o Brasil. Dirigido por Flora Egécia, o documentário traz depoimentos de duas mulheres negras que dão forma a uma reflexão sobre reconhecimento e ancestralidade.
Por sua vez, o documentário Real Conquista (GO) vai além da trajetória biográfica de uma ativista para alcançar uma dimensão coletiva – a das lutas por moradia no Brasil, um drama permanente das grandes cidades do país. A combinação entre os testemunhos atuais e as imagens de arquivo fortalecem essa perspectiva do filme dirigido por Fabiana Assis.
Para concluir a ampliação do catálogo, entra em cartaz O mistério da carne (DF). O filme, com direção de Rafaela Camelo, mescla funk, pautas LGBTQI+ e uma indefinida atmosfera religiosa para retratar os dramas da sexualidade. No documentário, uma professora narra para seus alunos o episódio bíblico em que Cristo lava o pé de seus discípulos. Entre risos, bocejos, pregações e um casal que se acaricia, Camila e sua amiga Giovanna trocam mensagens pelo celular. O filme foi exibido no Festival de Sundance, mais importante vitrine do cinema independente no mundo.