Dirigido pelo britânico Joe Wright, “O Destino de Uma Nação”, cinebiografia de Winston Churchill, recria o momento decisivo do primeiro ministro em lidar com a pressão política no período de guerra. Apesar de contar com a ótima interpretação de Gary Oldman, o diretor não desenvolve um longa de profundidade como pede o período histórico retratado. O episódio em questão segue desde a tensão pela resignação demandada do então primeiro ministro e a indicação de Churchill para o cargo, dado a possibilidade de invasão da Grã-Bretanha pelo exército nazista depois da explosão da Segunda Guerra Mundial, até a pressão colocada sobre o recém-nomeado em fechar o acordo de paz com Hitler para unir-se ao território do Terceiro Reich.

O roteiro de responsabilidade de Anthony McCarten, conhecido pelo trabalho em “A Teoria de Tudo”, é o grande furo do filme. O roteirista e produtor não soube aproveitar o que tinha em mãos e falha ao criar um enredo superficial, cheio de diálogos sem personalidade quase unicamente apoiados nas frases de efeito ditas pelo estadista em vida. Parece que a intenção era gerar emoção a qualquer custo, como exemplo a cena sofrível em que o político sem saber que decisão tomar, vai a uma estação de metrô e após comoção com os populares pergunta o que fariam em seu lugar. A sequência extremante melodramática, é, para dizer no mínimo, desnecessária. Diria até que um desrespeito à personalidade do político e, também, as implicações e efeitos do que foi feito durante a Batalha de Dunkerque.

Já a direção de Joe Wright parece basear toda a construção narrativa em um único personagem, o foco total no protagonista acaba levando o cineasta a cair na superficialidade de todo o resto. A impressão que se tem, é que a única preocupação do diretor era fazer o personagem e o trabalho de Oldman oscarizável, como se o mais importante fosse a performance e não o peso da personalidade retratada.

Roteiro falha ao deixar de lado todos os outros personagens para se concentrar apenas em Churchill

É indiscutível o excelente trabalho de maquiagem e a recriação de todos os detalhes para recontar o período em questão, mas esse só tem sua eficácia em razão da interpretação competente de Gary Oldman, que soube reproduzir com destreza uma das figuras políticas mais relevantes na história, marcada pela sua fisionomia e trejeitos. Sem exageros na expressão, e atento as peculiaridades da figura, o ator entrega um Churchill humanizado, sem exibição excessiva. Porém, apesar do notável desempenho do veterano, a narrativa não estabelece complexidade ao protagonista, por vezes é ineficiente em transmitir a seriedade das tramas que o envolviam.

Além disso, não há qualquer outro personagem sólido na obra que entregue o apoio necessário para o protagonista. O elenco de suporte é extremamente frágil e desperdiçado, sem um verdadeiro destaque, apesar das várias possibilidades. A secretária pessoal do primeiro ministro durante a guerra, Elizabeth Layton (Lily James), é introduzida sem cuidado, tenta-se atribuir algum valor à personagem, mas finda com uma participação de pouco significado. A cena em que Elizabeth toma nota do que o estadista diz durante o banho é um claro exemplo disso. Já a esposa de Churchill, Clementine (Kristin Scott Thomas), se perde em cenas que não levam a lugar algum, e qualquer tentativa de refletir a cumplicidade entre o casal não prospera.

Mesmo com uma história poderosa, direção e roteiro falham em entregar um longa do nível da importância de Churchill. “O Destino de Uma Nação” é um trabalho morno, que não inspira e nem fascina o espectador. O filme não consegue criar a emoção esperada, e apela para um drama novelesco. Infelizmente, o longa não passa do mediano em seu conjunto, e não foi dessa vez que Joe Wright se mostrou um cineasta de consistência.

 

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