1987 foi um bom ano para o gênero terror: vários clássicos que angariaram uma legião de fãs com o tempo e filmes que se tornaram cults foram lançados neste ano. Como recordar é viver, vamos agora relembrar alguns trintões especiais, clássicos lançados naquele ano de 1987 e que continuam tendo uma vida muito longa nas reprises e no coração do público. Fica as recomendações, pessoal, para quem nunca os viu ou deseja ver de novo. Então, feliz trigésimo aniversário para…


Hellraiser: Renascido do Inferno

O primeiro filme com o icônico personagem Pinhead – e em minha opinião, o único bom – marcou época e impressionou o público com sua mistura de efeitos nojentos, violência, visual sadomasoquista e temática sexual. A produção britânica marcou a estreia do autor Clive Barker como diretor, e por causa do seu visual e da sua história provocante – mulher insatisfeita ajuda seu amante, que fugiu das torturas eternas de Pinhead e seus amigos cenobitas, a recuperar sua “carne” – representou uma lufada de ar fresco em meio a um cenário repleto de Sextas-Feiras 13 e Horas do Pesadelo que já começavam a saturar o publico. O final é mais trash e bobo do que o começo instigante e assustador – é como se Barker tivesse gasto seu orçamento todo no início e no meio do longa. Mas Hellraiser continua um cult, tendo gerado inúmeras sequências e com uma refilmagem sempre perigando sair. Vai ser difícil ter o mesmo impacto do original, no entanto.


O Predador

Este icônico filme – que vai até ganhar uma nova sequência em 2018! – é o caso clássico de experiência imprevisível. Na época em que vivemos, os trailers e comerciais dos filmes praticamente nos contam a história toda a ser vista. O Predador surpreendeu o público porque começa no estilo Comando para Matar (1985), um típico festival de ação do astro Arnold Schwarzenegger, na floresta, quando vemos a equipe militar comandada pelo astro ir às selvas da América Central numa missão de resgate. Depois, vira um Sexta-Feira 13, um slasher movie dos bons quando os soldados começam a morrer um a um, vítimas de um assassino invisível. E no seu último ato, o filme se transforma no final de Alien, um duelo visceral e primal entre o herói de Schwarzenegger e o caçador alienígena do título. Essa é a minha porção favorita dele: É quando o filme some com praticamente todos os diálogos e sinais de civilização e nos transporta, via imagens, a um tempo primordial no qual o homem precisava lutar contra algum bicho pré-histórico. O terço final de O Predador é Cinema, com C maiúsculo. E o visual do Predador, uma obra-prima dos efeitos práticos e da magia da maquiagem de Stan Winston, é a razão pela qual ainda estamos falando deste filme trinta anos depois, e a prova de que a computação gráfica nunca vai criar nada tão impactante dentro do gênero terror.


Uma Noite Alucinante

Para fazer a continuação do seu cult A Morte do Demônio (1983), o cineasta Sam Raimi e o ator Bruce Campbell tiveram um pouco mais de dinheiro, efeitos um bocadinho melhores e, acima de tudo, uma disposição de mesclar horror com humor. E o mais incrível, fizeram de uma forma na qual um não atrapalha o outro: é impossível não ficar com medo de alguns momentos de Uma Noite Alucinante, e não rir com o clima demente em outros. A segunda parte da história do herói Ash (Campbell), lutando contra os ataques dos mortos e demônios dentro da cabana, tem de tudo: uma namorada decapitada que retorna, uma mão possuída, uma criatura no porão… E em meio a tudo a isso, a atuação insana de Campbell e a câmera também possuída de Raimi fazem dele uma das experiências mais incríveis da história do gênero. Afinal, deve ser o único filme na história do cinema que mostra o ponto de vista de um globo ocular, voando pelo ar e caindo dentro da boca de uma mulher…


Coração Satânico

O melhor filme desta lista também é uma mistura de gêneros: começa como filme neo noir e termina como horror. A história do detetive Harry Angel (Mickey Rourke numa das suas melhores atuações), contratado por um milionário misterioso para encontrar o cantor Johnny Favourite, desaparecido há muitos anos, começa como todas as histórias de detetive que o espectador já viu. Angel é descendente direto dos personagens de Humphrey Bogart. Mas quando sua busca o leva a Nova Orleans, terra do vodu, o filme fica progressivamente mais assustador, a direção de Alan Parker e a trilha sonora de Trevor Jones ficam cada vez mais intensas, claustrofóbicas, até chegar a uma cena de sexo banhada a sangue – que precisou ser editada por causa da censura da MPAA, o órgão de classificação etária dos Estados Unidos – e ao clímax, inesquecível, que muda todo o filme na nossa cabeça e nos deixa com um arrepio na espinha. Tendo a atuação de um assustador Robert De Niro como cereja do bolo, Coração Satânico é uma verdadeira viagem ao inferno, uma das mais intensas que o cinema já mostrou.