A união das marcas Disney e Marvel tem rendido os mais bem-sucedidos filmes de super-heróis dos últimos anos, e agora ambas as companhias começam investir na área da animação também. Operação Big Hero, baseado numa série infanto-juvenil em quadrinhos da Marvel, é um filme do gênero para crianças, divertido e movimentado, e traz no seu centro um herói que consegue ser fofinho e adorável de um jeito que o Homem-Aranha ou o Homem de Ferro nunca conseguiriam ser.

Na animação dirigida por Don Hall e Chris Williams e que tem fortes influências orientais, vemos uma cidade batizada com o estranho e infeliz nome de “San Fransókio”, mistura de San Francisco com Tóquio e onde há uma verdadeira multiplicidade de etnias e culturas – é interessante ver como, desde Blade Runner: O Caçador de Androides (1982), a ficção-científica prevê a “orientalização” dos Estados Unidos… Enfim, nesta cidade vive o garoto Hiro, fanático por robótica e ciência e criador de um robô inovador. Pena que o melhor uso que Hiro consegue imaginar para sua criação é colocá-la para lutar num “clube da luta robótico”, uma atividade fora-da-lei.

Hiro então é repreendido por seu irmão Tadashi, que quer vê-lo usar seus conhecimentos para algo mais útil. Tadashi leva Hiro para conhecer a Universidade e seus amigos, e tenta ajudar seu irmão a criar algo realmente importante para que consiga entrar na instituição. Porém, uma tragédia acaba modificando a vida de Hiro. Para lhe ajudar a lidar com ela, ele conta apenas com a ajuda do robô Baymax, que foi criado por Tadashi com propósitos médicos. Baymax tem uma cobertura inflável branca e olhos pretos expressivos, e é prestativo e meio atrapalhado. É ainda graças ao robô que Hiro descobre a sua invenção sendo usada por um misterioso vilão, e o garoto então decide transformar Baymax e seus amigos num grupo de heróis destinado a combatê-lo.

Visualmente, o filme é belíssimo, mostrando a cidade com toda a sua profusão de luzes de neon à noite e expondo a natureza dos poderes dos seus heróis de forma clara. A sequência na qual dois personagens atravessam um portal, em dado momento da narrativa, também enche os olhos com suas cores e seu visual etéreo. E ao longo do filme, vemos sutis e divertidas referências visuais: um velhinho surge com um capacete na exposição de ciências que parece aquela invenção maluca do Doutor Brown em De Volta Para o Futuro (1985), e uma figura vista num quadro tem uma boa semelhança com o famoso Stan Lee, um dos criadores do universo Marvel… Além disso, as sequências de ação também são ágeis e movimentadas.

Apesar do humor e da ação, no centro de Operação Big Hero percebe-se uma história de contornos mais sérios: no fundo, é a história de alguém aprendendo a superar o luto. O filme não deixa de mostrar o lado negro do seu herói, e ao longo da trama vemos como o vilão – cujo visual, curiosamente, lembra muito o do Mister M, aquele mesmo do Fantástico – e Hiro têm motivações semelhantes.

Quem ajuda Hiro a superar seus problemas e seu próprio lado negro é o Baymax, um personagem que conquista o protagonista e o publico de forma total. Seu comportamento robótico causa muitas risadas, assim como a sua transformação em herói, com direito a uma armadura estilo Homem de Ferro que o torna capaz de voar e lutar. De repente, aquele personagem encantador vira um lutador feroz, e depois volta a ser fofinho. Os animadores também são inteligentes a ponto de deixa-lo literalmente com o coração à mostra: é um por uma abertura no peito, a qual Hiro tenta acessar com força numa cena dramática, que o robô tem a sua programação ativada ou modificada. É sempre interessante notar essas estratégias de filmes animados para fazer com que nos afeiçoemos a essas figuras irreais, e no caso de Operação Big Hero, esse processo funciona muito bem.

A relação entre Hiro e Baymax torna o filme algo terno e, em alguns momentos, comovente, e faz com que a experiência funcione, mesmo estando longe de ser perfeita ou mesmo tão marcante. Ao longo da história algumas das viradas da trama são previsíveis, e exceto pelas cenas entre Hiro e Baymax, o filme nunca ultrapassa o nível de uma diversão agradável. Quando se fala em filme animado de super-herói, a referência ainda é Os Incríveis (2004) da Pixar – Operação Big Hero não tem uma história tão interessante nem personagens tão marcantes, mas é divertido acompanhar a aventura dessa dupla improvável de heróis. As maiores qualidades do filme são a de possuir um forte centro dramático na sua história, e a de celebrar a inteligência e, por que não, a “nerdice” de seus personagens. O herói é o menino inteligente e criativo, capaz de imaginar o que não existe e “pensar por outro ângulo” – não à toa, esse é um dos lemas do filme. É bom ser nerd hoje em dia, ainda mais quando a Disney e a Marvel se unem para dar confiança às crianças.