Seria uma história digna de filme: nascido no Rio de Janeiro, um importante produtor do cinema brasileiro chega a Manaus ao lado do amor de uma vida, fixa residência e faz uma extraordinária carreira na região. O resultado disso é um olhar respeitoso e próprio sobre toda a complexidade da Amazônia. 

O protagonista desta história atende pelo nome de Jean Robert César, responsável por grandes obras como o longa “Le Jaguar” (1995), as minisséries “Mad Maria” (2004), “Amazônia, de Galvez a Chico Mendes” (2006) e “Dois Irmãos” (2017), o curta-metragem “15 anos de Ópera” (2011) e os documentários “Teatro Amazonas – Uma ópera dans la jungle”, “500 – Os Bebês Sequestrados pela Ditadura Argentina”, “Histórias da Fome no Brasil”, “Amazônia – Heranças de uma utopia” e “Vidas Descartáveis”. 

Infelizmente, na noite da última quinta-feira (19), o cinema brasileiro e, especialmente, o amazonense se despediu de Jean Robert após sete anos de uma incansável luta contra um câncer ósseo. A doença, entretanto, não o impediu de seguir até os últimos dias de vida em criar, planejar obras e mais obras capazes de transformar olhares sobre a Amazônia. Tanto que, em 2022, assinou a produção da exposição “1º Festival Norte de Cinema Brasileiro”, no Museu de Imagem e do Som, no Palacete Provincial, em cartaz até o próximo dia 30 de janeiro. 

Tamanha luta e talento cativaram amizades e admiração de profissionais do audiovisual amazonense. O Cine Set ouviu alguns destes nomes nesta singela homenagem a Jean Robert César. 

Jean Robert foi um importante produtor brasileiro que escolheu viver na Amazônia, onde passou mais de 20 anos da sua vida e fez boa parte da sua carreira. Ele foi um pioneiro no trabalho de produção das facilitações de filmagem na região, que inclui busca de locações, serviços e recursos humanos. Esse trabalho ajudou a estruturar um modelo de negócios para o cinema e o audiovisual no Amazonas que hoje é bem consolidado e posso dizer único na região amazônica.

Se observarmos os números do observatório do Cinema e do Audiovisual Brasileiros – OCA (que infelizmente está desatualizado), o Amazonas tem ocupado há alguns anos a terceira posição entre os estados que mais recebem equipes de filmagem, atrás apenas de São Paulo e Rio de Janeiro.  Hoje, equipes de cinema e TV do mundo inteiro vem filmar no Amazonas e encontram aqui um cenário profissional de serviços e de recursos humanos. Isso não é pouco e decorre diretamente da atuação e presença do Jean Robert aqui. Ele foi produtor de muitos filmes estrangeiros e nacionais realizados na região.  

Além disso, seu trabalho em parceria com a TV Globo contribuiu para colocar a Amazônia em horário nobre na TV aberta em várias ocasiões. Foi produtor da minissérie “Mad Maria”, baseada na obra de Márcio Souza, da minissérie “Aruanas”, da microssérie “Dois irmãos”, entre várias outras.

Para além de toda essa presença enquanto produtor, Jean era uma pessoa muito afável e generosa. Por diversas vezes, participou de atividades em instituições de ensino por onde passei, conversando com alunos e contribuindo com sua experiência. Sua partida precoce é muito triste.  

Meus sentimentos aos amigos e à família. 

Gustavo Soranz

Sócio-fundador da Rizoma Audiovisual

O Jean era uma referência na nova geração de produtores e realizadores do audiovisual. Ele sempre atuou com base em muita pesquisa, leitura e atenção à realidade local, mergulhando no cinema e literatura amazonense. Dialogou e debateu com muitos realizadores do audiovisual, furando bolhas enquanto atuou por aqui. Todo este arcabouço ficava nítido nas minisséries, novelas, filmes nacionais e internacionais que coordenou e produziu na Amazônia.  

Como amigo pessoal do Jean, o que mais sentirei falta é a noção de realidade e a leitura apurada de como se relacionam e atuam os agentes locais do setor cultural – produtores, diretores, gestores governamentais, coordenadores de políticas públicas, etc. Para ele, com tanto tempo vivendo aqui, a dinâmica era muito clara, sabendo como e onde se encaixar e o que falar.  

Tudo isso sempre contribuindo e sendo intenso em tudo o que fazia. E justamente esta intensidade do Jean fará muita falta.

Danilo Egle

Coordenador Técnico da Rede Rhisa

O que posso dizer é que o Jean Robert nos deu a sua expertise, ajudou a formar técnicos e profissionais que o mercado audiovisual nacional e internacional precisam. Eu o conheci em 2003 em uma produção local. A partir daí, uma relação profissional se tornou uma grande amizade. 

Quem teve a oportunidade de trabalhar e aprender com o Jean deve entender que essa convivência foi uma oportunidade única de aprendizado, de entendimento de como produzir audiovisual na Amazônia é diferente e especial. Agradeço muito a parceria que tivemos. 

Paulo Cezar Freire

Fundador da Produtora OlhaJá Filmes

Estou arrasado. Era um grande amigo, irmão, parceiro, profissional de altíssimo nível. Conheci o Jean há 15 anos durante a produção da série da TV Globo, “Amazônia, de Galvez a Chico Mendes”. Naquela época, eu tinha acabado de fazer um documentário sobre o aniversário de 125 anos do Teatro Amazonas e ele também pretendia gravar imagens por lá. O Jean pediu uma cópia para mostrar para a produção ver e cedi.  

Começamos a nos aproximar falando de projetos de memória, buscas de acervo e, com o tempo, a amizade se transformou em parceria de trabalho. Juntos, inscrevemos propostas para editais. Como um bom produtor, o Jean era proativo, dotado de um conhecimento cinematográfico muito grande e sempre resolvendo problemas. Este know-how aliado à criticidade dele serviam para orientar e guiar caminhos. Um grande talento. 

Nossa última parceria foi um documentário contando minha história, já concluído em parceria com a produtora Plural Filmes, de Florianópolis. Infelizmente, ele não estará aqui para lançá-lo. 

Roberto Kahane

Diretor de "Como Cansa Ser Romano nos Trópicos"

Conheci o Jean em 2003 logo quando ele chegou a Manaus. Sabia dos trabalhos anteriores dele, especialmente, “O Jaguar” e me chamou a atenção como era um cara conciso, incisivo e que adorava conversar. Era surpreendente o conhecimento dele sobre a Amazônia – muitas vezes, trazia informações que nem quem é natural da região tinha ideia. 

Através do conhecimento de estratégias organizacionais e de planejamento relativos a negociações de set, políticas públicas e dinâmicas próprias do setor, o Jean se tornou símbolo da construção do mercado de audiovisual local. Era um olhar de fora para dentro vendo de dentro. Ele sabia dos nossos potenciais e sempre foi um amigo honesto durante todo o tempo em que estive à frente da Amazonas Film Comission. 

No fim da vida, ele foi embora fazendo o que amava: trabalhando, falando de projetos e produções. O Jean fará muita falta. É daqueles caras que não deveria morrer nunca. 

Saleyna Borges

Coordenadora de produção na Cara de Gato Filmes

Admirava muito o senso de empreendimento e trabalho do Jean. Era um cara realmente lutador, batalhador. Veio para Manaus quando ainda não havia muita expertise no setor para receber produções, especialmente, as internacionais. Ele foi um grande realizador neste sentido. Sinto muito pela passagem. 

Sérgio Andrade

Diretor de "Antes o Tempo Não Acabava"

É uma perda muito triste. O Jean Robert era um profissional extremamente competente em sua função, discreto e muito respeitado. O Amazonas perde uma de suas referências, mas fica o legado e o exemplo a ser seguido. 

Zeudi Souza

Diretor de "O Buraco"

O Jean foi um dos sócios-fundadores da ACVA (Associação de Cinema e Vídeo do Amazonas – criada em 2003). Sempre esteve envolvido e incentivando muito a todos. Trouxe novas perspectivas de mercado, fortalecendo o audiovisual amazonense.  

Izis Negreiros

Diretora de "Santo Casamenteiro"