Em uma semana dura após a Ancine não selecionar nenhuma produção da Região Norte no edital de Novos Realizadores, o alento chegou em forma de união dos realizadores de audiovisual do Amazonas. O Palacete Provincial, localizado na Praça da Polícia, Centro de Manaus, sediou na noite de sexta-feira (20) uma reunião para debater a proposta de uma associação de profissionais do setor em nível estadual. Realizada de forma híbrida, o encontro teve a participação de aproximadamente 35 pessoas, sendo 21 presencialmente. 

“Um movimento que ganhou rosto”. Assim definiu Flávia Abtibol, principal incentivadora para que a reunião fosse feita. As articulações começaram logo após a divulgação do resultado preliminar do edital da Ancine, na quarta (18), dentro do Fórum do Audiovisual Amazonense, grupo de Whatsapp com 94 membros ligados ao setor. “A vontade de ter uma associação própria, formalizada e capaz de representar os profissionais do audiovisual do Estado sempre existiu, mas, faltava organização para tirá-la do papel. Precisamos ser mais efetivos para ocupar os espaços e ter a atenção que merecemos”, disse. 

RESGATE OU NÃO DA ACVA 

Izis Negreiros apresentou a situação atual da ACVA. Foto: César Nogueira

A retomada ou não da Associação de Cinema e Vídeo do Amazonas (ACVA) foi o principal ponto do debate. Fundada em 2003 após reunião com aproximadamente 20 profissionais na Casa de Música Ivete Ibiapina, no Centro, a ACVA atuou de forma mais intensa no diálogo com o poder público para iniciativas de formação, políticas de editais, luta para criação e manutenção de festivais na primeira década do século XXI.  

Por ela, passaram nomes importantes como Sérgio Andrade (diretor de “A Floresta de Jonathas” e “Antes o Tempo Não Acabava”), Chicão Fill (proprietário da produtora Amazon Film), Saleyna Borges (assessora audiovisual da Amazonas Film Comission por mais de uma década), Izis Negreiros (diretora e produtora de curtas locais como “Santo Casamenteiro”), Júnior Rodrigues (hoje, Z Leão e criador do Festival do Minuto e Curta 4), entre outros. 

A partir dos anos 2010, a ACVA perdeu a força: se no auge chegou a ter 50 associados, na reta final, em 2013, tinha apenas seis membros ativos. As razões para a decadência variam entre questões organizacionais e de dívidas, porém, para Izis Negreiros houve um motivo maior. 

“Quando vieram os editais das políticas de regionalização do cinema brasileiro, cada um dos profissionais do audiovisual amazonense foi para um lado. Isso é o contrário do que uma associação precisa, pois, ela funciona pensando no coletivo e há uma necessidade do comprometimento dos participantes” justifica Izis. A diretora e produtora, aliás, tornou público que não pretende inicialmente entrar na nova associação; segundo ela, primeiro, irá analisar se a classe artística local está amadurecida para esta nova etapa. 

OS PRIMEIROS PASSOS 

Reunião comandada por Flávia Abtibol formou duas comissões de trabalho para agilizar processos de criação da nova associação. Foto: César Nogueira

Os registros burocráticos da ACVA, ainda assim, seguem ativos, permitindo readaptações para um recomeço. Desta forma, optou-se pela formação de dois grupos de trabalho: 

  1. Comissão para o Levantamento das Informações Burocráticas e Econômicas da ACVA. Integrantes: Augustto Gomes (diretor de “Zana”), César Nogueira (co-fundador da Artrupe Produções), Heraldo Daniel (diretor de “O Clã das Jiboias”), Flávia Abtibol (diretora de “Dom Kimura”), Izis Negreiros e Márcio Braz (ex- o diretor de Cultura da Manauscult). 
  2. Comissão para a Reformulação do Estatuto da ACVA: Ana Lígia Pimentel (diretora de “Sete Cores da Amazônia”), Bruna Cúrcio (diretora de “Salir Adelante”), Heverson Batista (técnico de som de “O Barco e o Rio”) e Sérgio Andrade. 

Neste trabalho, informações importantes serão apresentadas para a viabilidade ou não da retomada da ACVA, incluindo, questões de débitos em aberto. A reestruturação do estatuto também terá o desafio de se adaptar aos novos tempos – como salientou Márcio Braz, a própria nomenclatura da associação – Cinema e Vídeo – já não abrange totalmente um mercado repleto de transformações advindas dos meios digitais.  

A previsão é de que haja todas estas respostas até fevereiro para a definição dos próximos passos. “Temos urgência nestes processos. Precisamos assumir as rédeas das nossas lutas para não depender apenas das ações importantes já realizadas pela API (Associação dos Produtores Independentes) e CONNE (Conexão Audiovisual Centro-Oeste, Norte, Nordeste). É necessário combater a invizibilização história do nosso cinema”, completa Flávia. 

Foto da Capa: Augustto Gomes