O Festival de Cannes 2016 começa nesta quarta-feira (11) e a expectativa está na corrida pela Palma de Ouro, o prêmio máximo do evento. O Brasil, aliás, está na disputa com o novo filme de Kleber Mendonça Filho, “Aquarius”.

A equipe do Cine Set elegeu quais filmes considera os melhores vencedores do prêmio em Cannes:

Marlon Brando em Apocalypse Now

André Maués
Filme escolhido: Apocalypse Now (1979)

Em 1979, o diretor Francis Ford Coppola já havia entregado duas grandes obras-primas na forma de “O Poderoso Chefão” (1972) e “O Poderoso Chefão: Parte II” (1974), além do clássico “A Conversação” (1974), o qual inclusive tinha levado a Palma de Ouro em Cannes alguns anos antes. Assim, as expectativas eram altas para o seu próximo filme, ambientado durante a Guerra do Vietnã e cujas filmagens na selva se tornam antológicas pelas dificuldades enfrentadas. Mas, de forma impressionante, Coppola não apenas superou as expectativas como conseguiu realizar talvez o maior filme de guerra já feito, uma reflexão pessimista e angustiante, com imagens aterradoras, sobre como conflitos armados são capazes de despertar o pior lado das pessoas. E com isso ele conquistou a sua segunda Palma de Ouro em menos de dez anos.

Caio Pimenta
Filme escolhido: A Conversação (1974)

Incrível o brilhantismo de Coppola nos anos 1970. Dois “O Poderoso Chefão” e “Apocalypse Now” são os clássicos mais conhecidos do mestre da New Hollywood, enquanto “A Conversação” acaba quase sempre relegado a segundo plano. Cannes reconheceu este belo filme feito durante o auge da paranoia americana dos grampos telefônicos na época da crise do Watergate. Com a maior atuação da carreira de Gene Hackman, a obra merece ser vista e revista por qualquer um que ame cinema.

Camila Henriques
Filme escolhido: All That Jazz (1980)

It’s showtime! “All That Jazz” faz parte de uma espécie de entressafra do musical hollywoodiano, que teve seu auge entre os anos 1930 e 1950 e que, com a Nova Hollywood e a decadência dos grandes estúdios, virou evento isolado. O filme de Bob Fosse em nada lembra os exemplares mais coloridos do gênero: é uma obra melancólica, autobiográfica e totalmente confessional. O filme dividiu a Palma de Ouro com “Kagemusha – A Sombra de Um Samurai”, em um ano que tinha ainda “Muito Além do Jardim”, “Salve-se Quem Puder”, “Meu Tio da América” e o nosso “Bye Bye Brasil”. Que um musical de Bob Fosse ganhe um prêmio que poderia ser de Godard ou Resnais pode até parecer uma afronta ao olho nu, mas não se engane: o musical norte-americano nunca foi tão denso como nesse filme de 1979.

Danilo Areosa
Filme escolhido: O Quarto do Filho (2001)

“O Quarto do Filho” é a minha escolha, muito em razão da sensibilidade como Moretti trabalha o luto e a perda de um ente querido. Adoro filmes que exploram as dores da “alma” de uma forma sensível e de reflexão, que evitam transformar temas tristes em estudos depressivos. É uma pena que o filme de Moretti geralmente é esquecido por parte da crítica, talvez em decorrência de ter usurpado o prêmio principal em Cannes do cultuado “A Professora de Piano” de Haneke. Em linhas gerais, um filme bonito e poético que nos leva a refletir sobre a situação real do ser humano e sua dificuldade em lidar (e aceitar) a morte. Um tipo de cinema humanista cada vez mais raro de se encontrar em tempos cínicos e pessimistas.

Ivanildo Pereira
Filme escolhido: Paris, Texas (1984)

Muitos grandes filmes ganharam a honraria máxima de Cannes, mas para mim um dos melhores permanece sendo o clássico oitentista de Wim Wenders “Paris, Texas” (1984). Ali, o diretor alemão une a sua sensibilidade europeia com a forma e a estética do cinema americano – bebendo até no western. E escala um dos atores mais cult de todos os tempos, o sensacional Harry Dean Stanton, e também a poderosa Nastassja Kinski, para dar vida à uma história tocante de perdão, o conto de um homem que fez uma besteira muito grande e precisou caminhar muito, muito mesmo, até conseguir pedir desculpas. Em minha opinião, uma obra praticamente perfeita.

Pulp Fiction: Tempo de Violência, de Quentin Tarantino

Lucas Jardim
Filme escolhido: Pulp Fiction – Tempo de Violência (1984)

O segundo longa de Tarantino elevou os quadrinhos chulos e os romancezinhos de banca de jornal ao status de pura arte, ainda jogando boas doses de música sessentista e violência na mistura. Sedimentando o papel que o cinema independente iria exercer no mainstream americano a partir dele, o filme parece o irmão caçula e hiperativo dos ganhadores da Palma – e com o qual a gente conversa mais.

Sequência da Fontana de Trevi em A Doce Vida, de Federico Fellini

Renildo Rodrigues
Filme escolhido: A Doce Vida (1960)

Não é só o ponto mais alto na carreira de Fellini: “A Doce Vida” é um desses monumentos do cinema, um filme que concentra tantas boas ideias, tantas cenas icônicas, tantas frases e atuações definitivas que fica difícil falar a respeito sem soar como um membro de um culto. O périplo do jornalista de fofocas Marcello Rubini (Marcello Mastroianni) pela noite escura de seduções, perfumes e vazio existencial de Roma é de uma beleza, poesia e contundência que só se produziu raras vezes no cinema.