É até compreensível que “Quero Ser Grande” seja lembrado por ter alçado o até então desconhecido Tom Hanks ao estrelato. Mas o filme não é só isso. A comédia foi um marco para as mulheres do cinema e deveria ser mais celebrada por isso. Lá em 1988, Penny Marshall fez história e foi a primeira cineasta a arrecadar mais de U$ 100 milhões, feito que ela mesma repetiu anos depois com “Uma Equipe Muito Especial”. Marshall nunca foi uma realizadora dada a complexidades. Seus temas sempre foram muito diretos e, talvez por isso, mais identificáveis com o grande público. Contudo, isso não diminui seu trabalho em “Quero Ser Grande”, filme que encanta pela singeleza da direção, que usa o carisma de Hanks até a última gota.

A não ser que você tenha vivido debaixo de uma pedra nos últimos 28 anos, é bem provável que já tenha visto ao menos a cena de Hanks tocando “Heart and Soul” em um piano gigante. O filme conta a história de Josh, um garoto de 13 anos que tem o pedido de virar “gente grande”. O que o garoto não esperava é que, além de ficar mais alto – o suficiente para poder namorar a garota dos seus sonhos -, ele também ficou mais velho. 17 anos mais velho, para ser exato.

Para tirar logo o óbvio da frente, é importante dizer que o filme não funciona sem o carisma de Tom Hanks. Ponto. O ator realmente convence no olhar que é um menino preso no corpo de um adulto e tem um equilíbrio perfeito entre inocência e sagacidade – que seria ainda melhor aproveitado em “Forrest Gump”, filme que cimentou seu status de “guy next door”. Ator oriundo da televisão, Hanks entrega um frescor à produção. Vale lembrar que os astros da época ou eram bonitões demais (Tom Cruise) ou cínicos demais (Bill Murray, Harrison Ford).

O humor físico que o ator confere ao trabalho cai como uma luva na direção de Penny Marshall. A câmera parece adorar Hanks, e a diretora aproveita o carisma do astro para apenas deixá-lo dançar, quase que literalmente. Marshall imprime doçura a cada frame e não faz o espectador esquecer que aquele é um menino de 13 anos com aparência de 30. Por isso, o romance com uma mulher de idade apropriada para Hanks soa perturbador, e o roteiro de Gary Ross e Anne Spielberg parece se esquecer disso, a não ser pelo final, quando a despedida entre Joss (Hanks) e (Elizabeth Perkins) é com um beijo fraternal, que pontua a diferença de idade entre os dois.

Filmes de mudança repentina de idade não são tão diferentões assim, mas o que faz de “Quero Ser Grande” um título superior a “De Repente 30” e “17 Outra Vez”, por exemplo, é que há uma reflexão que faz contrapartida ao arquétipo do Peter Pan. Ao passo que o roteiro coloca Josh trabalhando em uma loja de brinquedos (a maior delas, FAO Schwartz), ganha corpo a trajetória do personagem como um menino que poderia aproveitar mais aquilo tudo em vez de se preocupar com um amor possivelmente não correspondido.

É triste que Penny Marshall tenha sempre que ser mencionada na mesma frase que seu irmão, o falecido Gary Marshall (e é triste que, para constatar isso, eu precise escrever justamente essa frase). Penny nunca foi a cineasta mais brilhante ou inventiva, mas cravou seu nome na história do cinema com “Quero Ser Grande”. É um feito digno de nota, até por ter ocorrido nos anos 1980, quando a indústria do cinema era ainda mais dominada por homens que nos dias de hoje (ou seja…).

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Marshall conseguiu esse espaço ao mesmo passo em que alçou o até então desconhecido Tom Hanks ao estrelato. 28 anos depois de “Quero Ser Grande”, a produção revelou-se datada e pouca coisa mudou para as mulheres do cinema pop/blockbuster – se Nancy Meyers e Nora Ephron conseguiram emplacar sucessos baseados em roteiros próprios, as irmãs Wachowski talvez não teriam conseguido o aval para fazer “Matrix” caso já assinassem com os nomes Lana e Lilly, enquanto Patty Jenkins teve uma série de percalços até finalmente chegar à cadeira de diretora em um filme grande, “Mulher Maravilha”, que será lançado neste ano. Que Marshall tenha conseguido esse feito em um filme extra-franquia e galgado em um protagonista carismático a faz merecer mais que uma nota de rodapé na biografia de Tom Hanks.