Bastou um certo alguém com cara de durão usando um tapa-olho dar as caras na cena pós-créditos de Homem de Ferro para o mundo nerd e a indústria do cinemão hollywoodiano começarem a surtar com o que viria a ser o primeiro passo para estabelecer o Universo Cinematográfico Marvel (ou Marvel Cinematic Universe, o MCU).
Às vésperas da estreia de Vingadores: Era de Ultron e enquanto a fase 3 do MCU não chega, trazendo novos heróis como o Pantera Negra e a Capitã Marvel, chegou a hora de dar uma olhada em quem se deu bem nos filmes solo da franquia até o momento – e quem ainda gostaríamos de ver ganhando uma versão em carne e osso.
Quem da turma dos Vingadores se deu bem sozinho?
Robert Downey Jr. trouxe uma arrogância e charme especiais a Tony Stark em Homem de Ferro (2008), garantindo assim um começo com o pé direito na construção do Universo Marvel dos cinemas. A combinação de ação e humor em tom realista, mas, ao mesmo tempo, intimamente ligado com os quadrinhos (não confundir realismo com o tom niilista quase gótico em que a DC parece investir, por exemplo), e a boa direção de Jon Favreau fizeram do playboy milionário o primeiro case de grande sucesso do estúdio.
Embora o Homem de Ferro seja definitivamente o primeiro herói a se dar bem em sua investida solo no MCU, o mesmo não se pode dizer dos seus filmes seguintes: enquanto o segundo se qualifica, pelo menos, como divertido (e tem o trunfo de apresentar a Viúva Negra), o terceiro é uma bagunça completa.
O fato é que, pós-Homem de Ferro, os filmes solo da fase 1 da Marvel Studios (isso inclui O Incrível Hulk, Homem de Ferro 2, Thor, Capitão América) parecem mais preocupados em formar terreno para a reunião que aconteceria em Os Vingadores (2012), o que acabou limitando um desenvolvimento melhor dos personagens em geral. O Thor, por exemplo, ainda não ganhou um longa que explore bem o universo fantástico por trás do herói – embora o segundo filme, Thor: O Mundo Sombrio (2013) chegue perto disso.
Mesmo assim, há um “super” que se sobressaiu e realmente se deu bem no universo todo, contrariando prognósticos e conquistando até mesmo gente que não ia bem com a sua cara (eu incluso): o Capitão América. O alter ego de Steve Rogers, desde o começo, corria o risco de ser prejudicado pelo patriotismo inerente ao personagem desde sua origem nas HQs. Curiosamente, foi justamente o seu modo de ver o mundo simples que lhe rendeu bons filmes: Capitão América: O Primeiro Vingador (2011) é essencialmente uma história de origem com ar vintage, e o Rogers de Chris Evans é vivido com tamanha humanidade que torna crível um personagem que beira a ingenuidade em sua vontade de simplesmente fazer a coisa certa.
Já Capitão América 2: O Soldado Invernal (2014), o melhor filme do MCU depois de Guardiões da Galáxia, se beneficia justamente da personalidade do protagonista ao jogá-lo num universo de conspirações em meio à S.H.I.E.L.D., em que Rogers funciona como um contraponto aos jogos de mentiras constantes de Nick Fury e cia. O resultado é digno de um longa de espionagem aos moldes de Três Dias do Condor (1975) – e não à toa Robert Redford integra o elenco.
Assim sendo, vitória para Capitão América e Homem de Ferro (com ressalvas). Foi mal aí, Thor.
Quem merecia um filme pra chamar de seu?
Falando em Capitão América, não, Kevin Feige, não adianta dizer que O Soldado Invernal foi “praticamente” um filme da Viúva Negra. Desde que ofuscou Tony Stark em Homem de Ferro 2 e roubou a cena em Os Vingadores, a espiã vivida por Scarlett Johansson apenas cresceu ainda mais aos olhos do público, passando de personagem desconhecida por quem não é familiarizado com as HQs a uma das heroínas mais queridas da franquia. E mesmo assim, Johansson não teve a oportunidade de ter um filme pra chamar de só seu – e provavelmente nem vai ter.
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Um filme da Viúva Negra poderia ter sido a primeira investida da Casa das Ideias em um longa protagonizado por uma mulher (o que só deve acontecer com a Capitã Marvel, em 2018). Imagine um longa apostando no mesmo clima de espionagem e ação de Capitão América 2, e se valendo ainda da dubiedade da personagem e suas habilidades badass. Como coadjuvantes, dois outros heróis ainda poderiam ganhar um pouco mais de destaque, compondo o background da S.H.I.E.L.D.: Maria Hill (Cobie Smulders), também ainda não vista em toda sua potencialidade, e o Gavião Arqueiro (Jeremy Renner), aproveitando a deixa de Os Vingadores de que há uma ligação entre ele e a espiã ruiva no passado.
Se a Viúva Negra parece a opção mais óbvia para reivindicar seu filme solo, a outra talvez não seja tanto assim. O Hulk já teve duas encarnações no cinema, uma na pele de Eric Bana sob a direção de Ang Lee e a outra sendo vivido por Edward Norton sob a batuta de Louis Leterrier. Com o fracasso de ambos os filmes, parece improvável que a Marvel vá arriscar novamente num filme solo do personagem – e histórias dos quadrinhos como Planeta Hulk, que poderiam render um longa diferente, provavelmente custariam tanto quanto um Avatar de James Cameron, e sem retorno garantido. Além disso, recentemente Mark Ruffalo, o atual Hulk, declarou que parte dos direitos autorais do personagem ainda são da Universal, o que representa um empecilho para a Marvel. Sendo assim, por que não investir na “versão feminina” do monstrengo verde: a Mulher-Hulk?
Nas HQs, Jennifer Walters, prima de Bruce Banner, se transforma na Mulher-Hulk depois de receber sangue do primo numa transfusão de emergência, e assim adquire as mesmas habilidades de superforça e aquela pele verde charmosa. Ao contrário de Banner, no entanto, Walters é capaz de se controlar e manter seu intelecto e consciência quando se transforma. Além disso, a personagem é uma excelente advogada, que faz seu trabalho frequentemente inclusive na sua forma verde. Que tal um drama criminal explorando tanto os poderes jurídicos e intelectuais quanto físicos da Mulher-Hulk?
O próprio Hulk e, quem sabe até o Demolidor, figura recorrente nas histórias da Mulher-Hulk, poderiam fazer uma aparição também. Vale lembrar ainda que, nos quadrinhos, Walters presta seu papel como conselheira legal para ambos os lados da Guerra Civil, e também já integrou o time dos Vingadores. Ou seja: um histórico para justificar sua integração no universo cinematográfico da Marvel já existe.
Por último, vamos ao caso Homem-Aranha: a Casa das Ideias já anunciou que o filme do herói mais querido da vizinhança no MCU será protagonizado por um Peter Parker adolescente. Mas precisamos mesmo ver um Parker high school de novo? Mesmo que a origem do herói provavelmente não vá ser recontada (porque todo mundo já sabe e ninguém aguenta mais), uma boa pedida seria passar o legado do Aranha para Miles Morales, que assumiu o alter ego do herói no universo Ultimate das HQs.
Morales é um adolescente também, mas com um contexto diferente de Parker: ele é hispânico, nascido no Brooklyn e deve lidar com a criminalidade inclusive no seio da própria família, o que o leva a um dilema se ele seria ou não digno de ser um herói. Assim como Peter Parker, Morales poderia cativar o público e dar novos ares ao Homem-Aranha. Mas como isso não vai acontecer tão cedo, resta torcer para que o próximo Peter Parker das telonas faça valer o posto.
E você, quem você acha que merecia também um filme solo pra chamar de seu no MCU?