A Última Ressaca do Ano dirigido pela dupla Will Speck e Josh Gordon tinha potencial para ser uma daquelas comédias amalucadas que vão até as últimas consequências para mostrar uma festa caótica que sai dos trilhos da normalidade para os caminhos da insanidade. Quem cresceu na década de 80 tinha referências divertidas em relação a temática como A Última Festa de Solteiro (1984) estrelado por um insano Tom Hanks e Fábrica de Loucuras (1986) protagonizado por Michael Keaton – com cabelo na época – cuja sinopse guarda similaridades com o filme em questão. E não faz muito tempo que Projeto X – Uma Festa Fora de Controle (2012) mostrou que as comédias juvenis atuais, quando querem, podem ser divertidas em abordar a situação.

Por isso, é uma pena constatar que o trabalho da dupla de cineastas apesar de repleto de boas intenções – tipo o garoto que durante o ano todo é desordeiro e resolve ficar bonzinho no mês natalino para receber o presente do Papai Noel – naufrague na sua tentativa de fazer o público rir.

Nele, os irmãos Clay (J.T.Miller, de Deadpool) e Carol (Jennifer Aniston) disputam o controle de uma empresa de tecnologia deixada pelo pai. A filial de Nova York administrada por Clay – um desses personagens porra-louca neste tipo de comédia –não está cumprindo as metas de final de ano, apresentando um crescimento fraco. A irmã – prestes a se tornar CEO – ameaça fechar as portas e demitir mais da metade dos funcionários. Visando conquistar um novo cliente de uma grande empresa (Courtney B. Vance), que implicaria em garantir a manutenção da empresa e de seus empregados, Clay busca ajuda de Josh (Jason Bateman), seu braço direito, e Tracey (Olivia Munn) para organizar uma festa de confraternização do arromba para mostrar que sua empresa sabe valorizar os funcionários.

A Última Ressaca do Ano é praticamente o encontro do clássico sitcom The Office com Se Beber, Não Case. Une o universo excêntrico do mundo executivo dos empresários e trabalhadores do seriado com as situações nonsenses de besteirol que ganham um espiral de destruição e surrealismo iguais a da franquia cinematográfica. Um dos pontos positivos é que o roteiro diferente das outras comédias de gênero, consegue alinhar as diversas subtramas apresentadas no início do filme. Pode-se até questionar se os arcos narrativos dos personagens principais e secundários são desenvolvidos satisfatoriamente – a maioria ganha um tratamento superficial -, porém, o texto jamais deixa a situação em aberto como é comum encontrar nas comédias americanas recentes, permitindo uma conclusão  ser oferecida para cada arco apresentado.

Neste aspecto, a produção acerta pela ótima montagem, que graças a sua agilidade, jamais deixa o espectador ficar entediado. Mesmo utilizando alguns recursos cinematográficos batidos do cinema americano, eles funcionam para manter a dinâmica do enredo na transição das várias subtramas. Não faltam recursos visuais que ajudam o público abraçar o ritmo da narrativa de forma agradável, seja através das referências ao mundo pop que são construídas pela transição de músicas e da câmera lenta pontual, oferecendo uma sensação de desordem da festa anárquica organizada por Clay.

Se estes elementos ajudam o filme jamais cair no marasmo, infelizmente a produção é carente em desenvolver melhor suas piadas e timing cômico. O roteiro dos novatos Justin Malen e Laura Solon não oferece situações cômicas com certa regularidade. Há momentos divertidos que proporcionem boas risadas? Sim, eles existem, contudo, ocorrem de forma esquemática, funcionando mais pelas referências que realiza a cultura pop – há citações divertidas a Game Of Thrones, Esqueceram de Mim e vários outros filmes e músicas. Até o argumento principal do filme é desenvolvido insatisfatoriamente: a festa que promete ser insana fora dos padrões da normalidade, não ganha esta dimensão de “caos” pelas situações apresentadas pelo roteiro. Neste sentido, a obra empalidece diante das loucuras vistas em outrora nos citados A Última Festa de Solteiro e Projeto X, que souberam criar situações absurdas e surreais dentro dos seus respectivos filmes.

É uma pena que neste quesito, o longa-metragem muitas vezes tire o pé do acelerador em relação ao sarcasmo e politicamente incorreto quando poderia chutar o pau da barraca da moralidade em momentos chaves. Quando realiza isso, rende belas risadas como na cena que faz referência a um órgão sexual esculpido em gelo durante a festa. Fora estas cenas, o texto é pouco engraçado se tornando repetitivo em vários momentos.

Estranhamente, o roteiro acerta mais na construção dos personagens secundários e suas situações – principalmente por jogá-los diretamente ao caos da trama – do que em relação ao trio protagonista, que por sua vez, é mantido distante do espiral de confusão. Logo, Bateman, Munn e T.J.Miller jamais ganham empatia junto ao público referente aos conflitos de seus personagens. Com isso quem se sobressai são alguns coadjuvantes: a versátil Kate McKinnon brilha como a chefe de RH um tanto quanto excêntrica. É o terceiro filme da atriz lançado este ano que não condiz com o seu talento – os outros dois, são Caça-Fantasmas e Gênios do Crime. Courtney B. Vance (uma das melhores atuações do seriado American Crime Story) surpreende pelas boas variações na atuação humorística, enquanto Jennifer Aniston se destaca como uma divertida vilã, ainda que este papel lembre bastante o mesmo personagem que a atriz fez em Quero Matar Meu Chefe.

A Última Ressaca do Ano é uma comédia que até consegue envolver o público com seu ritmo ágil, funcionando como uma distração espirituosa. Porém, desperdiça uma ótima oportunidade de revelar as neuroses e excentricidades do mundo profissional em uma festa maluca. É como uma ressaca ruim pós-festa, você não vê graça ou diversão, tornando o resultado final falho em provocar o riso no espectador.

*Texto original alterado para substituir a equivocada expressão humor negro.