Parece combinado, mas, há quase um ano falei da carreira de Will Smith na ocasião do lançamento de “Golpe Duplo”. Em uma lista com as cinco melhores atuações da carreira dele (clique aqui) mencionei o fato da encruzilhada em que meteu a carreira: ser um astro de Hollywood ou um ator com ambições artísticas sérias. “Um Homem Entre Gigantes” pode até aparentar uma escolha pela segunda opção, mas, um olhar mais atento mostra que é a primeira alternativa a predominante.

“Um Homem Entre Gigantes” tinha tudo para ser um ótimo filme: a história de um médico nigeriano enfrentando a NFL, a Liga Nacional de Futebol Americano, após descobrir os danos causados pelas concussões em atletas. O alto índice de mortes nestes jogadores liga o sinal amarelo pela capacidade de provocar uma prejuízo incalculável financeiro e social para o esporte mais lucrativo dos EUA.

Como essa breve sinopse já sugere e o título em português escancara, “Um Homem Entre Gigantes” poderia ser um belo filme do eterno conflito ‘Davi Vs Golias’ azeitado por uma pegada crítica forte ao mostrar como esses casos eram encobertos ou banalizados pela NFL. O filme, infelizmente, está a serviço de Will Smith. E apenas isso. Toda a trama gira em torno do médico Dr. Bennet Omalu e nada mais. Repare como qualquer subtrama é mal desenvolvida. Ver um sujeito como Alec Baldwin sem a menor utilidade em cena ou a talentosa Gugu Mbatha-Raw sendo par romântico sem o menor desenvolvimento da personagem é lastimável. Outros como Luke Wilson e David Morse passam quase despercebidos.

Sendo assim, é uma pena que o Dr. Omalu de “Um Homem Entre Gigantes” seja um sujeito tão unidimensional. A busca no endeusamento do médico se assemelha ao feito por Angelina Jolie em “Invencível”, com Louis Zamperini. Chega a ser patético a forma com que o roteiro do filme trabalha o protagonista sempre de maneira ingênua, sem entender a complexidade do que implica aquela descoberta quanto às pressões existentes para impedir que tal fato venha à tona. Não é à toa que várias vezes precisamos ouvir alguém dizer sobre como grande é a NFL e o futebol americano nos EUA, parecendo tratar o espectador como estúpido.

Como acompanhamos tudo a partir do ponto de vista do personagem de Will Smith, o impacto da denúncia e todo o peso dela se dilui em uma drama cheio de momentos piegas e metidos a engradecedores com discursos inacreditáveis de tão ruins – a comparação entre os Estados Unidos e o céu é um dos momentos mais constrangedores do ano.

A culpa pode ser muita da condução do inexperiente diretor/roteirista Peter Landesman (ele comandou apenas um longa-metragem – o desconhecido “JFK – A História Não Contada”). Porém, se você pegar o retrospecto dos últimos filmes de Will Smith verá que a linha de bom mocismo predomina em todos os seus personagens, mesmo nos ‘bad boys’: “Golpe Duplo” é o golpista do bem; “Depois da Terra” o pai em situação extrema na busca por uma boa relação com o filho; “Sete Vidas” um agente do Imposto de Renda atrás de redenção; “Hancock” um anti-herói beberrão de bom coração; “Hitch – Conselheiro Amoroso” o garanhão respeitador;  “À Procura da Felicidade” nem precisa falar e por aí vai. A única exceção da lista é “Um Conto do Destino” em que interpreta Lúcifer, porém, ele somente aceitou fazer o projeto para ‘quebrar o galho’ do amigo Akiva Goldsman.

Essa centralização excessiva no bom caráter no personagem de Will Smith transforma “Um Homem Entre Gigantes” em um filme pálido diante do potencial em mãos. Algo que nem mesmo fizera o irregular “Um Domingo Qualquer”, de Oliver Stone. Para um fato tão importante como o abordado, trata-se de uma escolha medíocre e infeliz.