Com muita metalinguagem e o estilo marcante de sempre, Wes Anderson faz o aguardado retorno ao mundo das adaptações de Roald Dahl, após um intervalo de 14 anos desde “O Fantástico Sr. Raposo”. “A Maravilhosa História de Henry Sugar” marca o início de uma série de quatro adaptações da obra do autor para a Netflix, todas sob a direção de Anderson. Além disso, também representa a primeira colaboração entre o renomado diretor e o talentoso ator britânico Benedict Cumberbatch (“Doutor Estranho“). 

No filme, Henry Sugar (Benedict Cumberbatch) é um homem rico que, um dia, entediado em uma festa, entra na biblioteca de um amigo e encontra um caderno contando a história de um homem que conseguiu desenvolver a habilidade de ver de olhos fechados ou através de qualquer um. Henry fica surpreso com a descoberta e inspirado em adquirir a mesma habilidade para poder ver através de cartas e, consequentemente, e ganhar mais dinheiros com apostas em cassinos. 

“A Maravilhosa História de Henry Sugar” já começa com o próprio Roald Dhal (Ralph Fiennes), o autor do conto original, narrando a história de Henry Sugar. Durante o restante do filme, os personagens narram a história enquanto ela acontece, geralmente olhando e falando diretamente para a câmera com diálogos rápidos e detalhados, expressando pouca ou quase nenhuma emoção. Além disso, não existem locações famosas ou cenários complexos, mas sim o uso de cenários desenhados e animados que lembram, em alguns momentos, uma peça de teatro ou cenários de obras de desenhos animados. Isso tudo contribui para tornar esse um filme mais leve e engraçado em comparação aos outros trabalhos de Anderson. 

 Adaptação Única

Composições simétricas, atores falando com a câmera, cores pastéis em cenários artificiais e estilizados, ou seja, o estilo clássico e já admirando do diretor estão presentes em “A Maravilhosa História de Henry Sugar”. No entanto, o que é diferente aqui, é o foco especial no desenvolvimento dos personagens. Aqui, ele traz uma produção que parece focar mais nas pessoas. Isso ajuda a explicar o uso de cenários artificiais e monólogos longos. Apesar do desenvolvimento rápido do curta, ele consegue passar uma jornada da vida dos personagens, principalmente de Henry Sugar. 

Além de Cumberbatch que brilha e encanta no papel do protagonista, no elenco temos grandes nomes como Ralph Fiennes (“O Grande Hotel Budapeste”), Ben Kingsley (“Gandhi”) e Richard Ayoade (“Submarine”). O grande destaque aqui vai para Dev Patel (“The Green Knight”), que, em sua breve participação, conseguiu roubar holofotes e deixar aquele gostinho de quero mais. Vale observar ainda também que em “A Maravilhosa História de Henry Sugar” todos os atores principais fazem, pelo menos, dois personagens diferentes. 

Com o passar dos anos, Wes Anderson ficou conhecido pelo seu estilo único, que é facilmente reconhecível em todas as suas obras. No entanto, isso fez com que seu trabalho como diretor fosse reduzido, aos poucos, a algo vazio e facilmente reproduzido. Um bom exemplo disso são os falsos trailers feitos por IA de como seriam filmes famosos dirigidos por Wes Anderson, que mostram uma visão um tanto quanto imprecisa do que seria seu trabalho como diretor nesses filmes. 

Porém, nenhuma Inteligência Artificial teria feito uma adaptação tão única, tanto em estilo quanto na narrativa, quanto Wes Anderson faz nesse curta. Seu estilo vai além de algo que pode ser visto, mas está no sentimento que “A Maravilhosa História de Henry Sugar” nos traz de algo que é, ao mesmo tempo, tranquilo e caótico, sempre preciso.