Na minha adolescência, Arquivo X teve um peso emocional enorme: foi o primeiro seriado de TV que realmente acompanhei com fidelidade. A espera por um novo episódio era aguardada com altas expectativas a cada semana, principalmente aqueles voltados para a famosa mitologia conspiratória que Chris Carter construiu com qualidade nas primeiras temporadas. Vale ressaltar que nesta época, a internet ainda engatinhava e por isso os episódios eram assistidos na frente da televisão. Não havia sites de download ou redes sociais, nem mesmo o finado Orkut tinha dado suas caras. Para fazer debates e discussões na rede, apenas em fóruns de debate ou canais específicos da série no MIRC, mesmo que muitas vezes você já pegaria o bonde andando.

Apesar das dificuldades, era uma época boa. Até porque quase não existiam sites especializados em séries, não havia spoilers nas redes e você era surpreendido pelas revelações que o episódio proporcionava. Lembro até daquelas loucuras que fã realiza: deixava de me encontrar com meus amigos apenas para ver a reprise do episódio, a qual já tinha assistido horas antes. O motivo? Apenas porque o Canal Fox (que transmitia a série no Brasil em canal fechado) colocava entre os intervalos da reprise, a propaganda do próximo episódio. Duravam meros 20 segundos, mas era o suficiente para me levar a conjecturar sobre os mistérios dele até a semana seguinte.

Olhando hoje, esta loucura tinha seus motivos: Arquivo X ainda é um entretenimento televisivo de grande qualidade, assim como teve uma importância fundamental de quebrar certas barreiras na televisão na década de 90, o que ajudou a estabelecer seu nome na cultura popular. Até então, poucas séries enveredavam pelo caminho do horror e suspense com sucesso – apenas Kolchak e os Demônios da Noite e Twin Peaks obtiveram sucesso junto ao público. Existia uma mentalidade que a sociedade americana não se interessava por estes assuntos na TV. Logo, ele abriu fronteiras entre os seriados para falar sobre fenômenos sobrenaturais como monstros, fantasmas e alienígenas juntamente com  conspirações governamentais.

Neste ponto, Chris Carter e sua equipe de roteiristas criaram o grande diferencial da série para mim: Instigar o mistério pelo desconhecido; mostrar que nossos medos residem naquilo que não conseguimos explicar e discutir a paranormalidade dentro de uma contrapartida científica, sendo estes dois pontos representados pelos seus protagonistas: Fox Mulder, o sujeito que acredita no desconhecido e Dana Scully, aquela que busca a explicação na ciência para os fenômenos.

Esta dramaturgia bem elaborada permitiu o reconhecimento não apenas dos fãs como da própria crítica, inclusive ganhando o Globo de Ouro de melhor série dramática em 1998. Criou outros personagens que ficaram no imaginário como Skinner, Os Pistoleiros Solitários, Krycek, os informantes Garganta Profunda e X, além de um dos grandes vilões da televisão: O Canceroso, uma espécie de Darth Vader do mundo Conspiratório. Sem contar, a magistral música tema de Mark Snow e uma equipe talentosa de roteirista como a dupla Glenn Morgan e James Wong, Howard Gordon, Darin Morgan e Vince Gilligan, este último criador da aclamada Breaking Bad.

Após nove temporadas, dois filmes, um Spin-offs, livros e HQs, a Fox aproveitando os tempos saudosistas, resolveu investir em mais uma nova temporada depois de 13 anos. Com a estreia da nova temporada que vai ao ar no próximo domingo, o Cine Set faz um pequeno especial de Arquivo X para mostrar os motivos que fizeram o seriado se tornar marcante para diversas gerações nos mais de 20 anos desde o seu lançamento. Se a verdade continua lá fora? Talvez sim, só que mais importante que ela é a nostalgia de retornamos ao maravilhoso mundo do desconhecido.

por Danilo Areosa

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O tempo voa: já faz mais de vinte anos que eu descobri Arquivo X numa exibição numa tarde de domingo na Rede Record. E comecei logo pelo começo: o episódio-piloto, uma história maluca sobre um pessoal sendo abduzido por ETs numa cidadezinha qualquer dos Estados Unidos – depois descobri que tinha sido filmado em Vancouver, no Canadá, por razões econômicas. O clima do episódio era frio, tinha muitas cenas numa floresta, e os dois atores principais formavam um casal muito bonitinho! O rapaz, eu já conhecia: já o tinha visto em Twin Peaks, vestido de mulher (não perguntem) e num suspense com Brad Pitt chamado Kalifornia (1993). Já a moça eu não conhecia, mas posso dizer que foi amor à primeira vista (Ah, Scully…).

Fiquei vendo aquilo e então pensei: “Puxa, isto aqui é muito legal”. Algum tempo depois, no canal Fox que pegávamos via parabólica, vi que ia passar Arquivo X e assisti ao episódio com um assassino monstruoso que se esticava por lugares apertados e comia os fígados das suas vitimas. Fui fisgado.

De lá para cá, vi toda a série – os 200 episódios – VÁRIAS VEZES. Li sobre ela e vi programas de bastidores. Vi os dois filmes de Arquivo X no cinema.  Ainda adoro muitos episódios e ainda considero a série um marco na TV. E, claro, me decepcionei com alguns deles e com alguns desenvolvimentos que a série trouxe perto do seu final. Mas foi só ouvir falar que Arquivo X iria retornar, na forma de uma mini-temporada de 6 episódios, e uma explosão involuntária aconteceu no meu cérebro, acompanhada daquela musiquinha de abertura. Pensei: “Claro que preciso ver isso!”. Os novos episódios começam a ser exibidos a partir deste domingo, dia 24 – o canal FOX vai exibir simultaneamente com os Estados Unidos, na virada para o dia 25.

Por que essa comoção toda? Bem, é porque Mulder e Scully me conquistaram, me parecem reais, sofri e me diverti com eles por nove anos e, enquanto David Duchovny e Gillian Anderson estiverem prontos para interpretá-los, estarei lá para ver. A conexão entre personagens de um seriado e seu público é muito forte. Mesmo que as últimas temporadas não tenham sido tão boas e os filmes tenham decepcionado, a conexão permanece.

E porque “eu quero acreditar”, como diz o pôster do Mulder: entre outros fatores, é o desejo do ser humano por acreditar em “algo mais” que mantém o seriado vivo, mesmo 14 anos depois do seu fim. Todos nós queremos acreditar que existem ETs, vida após a morte, até em monstros… E queremos acreditar que os novos episódios de Arquivo X serão, pelo menos, bons a ponto de não mancharem o legado da série – não espero por novos clássicos, mas se vierem serão benvindos!

Para relembrar essa conexão, acompanhem-nos nesse pequeno especial sobre a série. Espero que relembrar clássicos episódios e tramas despertem tantas boas lembranças nos nossos leitores quanto despertaram em mim.

por Ivanildo Pereira