Na ressaca pós-Jogos Mortais, Hollywood precisava de uma nova franquia de terror que se expandisse tão rápido quanto aquela e que custasse tão pouco quanto – e a encontrou em Uma Noite de Crime, que veio ao mundo em 2013, custando pouco mais de três milhões de dólares e arrecadando surpreendentes 89,3 milhões. Desde então, o longa dirigido e roteirizado por James DeMonaco já rendeu duas sequências, ambas também assinadas por ele: Uma Noite de Crime: Anarquia (2014) e, deste ano, o recém-estreado 12 Horas para Sobreviver: O Ano da Eleição – numa decisão aparentemente inexplicável da distribuidora em mudar o título para ainda pior.

Todos os títulos da franquia partem de uma premissa que, embora absurda, propõe uma discussão interessante: para salvar o país da falência, os tais “Novos Pais Fundadores” dos Estados Unidos instalaram a Noite do Expurgo, um período anual de 12 horas em que todo crime é permitido, a fim de que os cidadãos possam “extravasar” suas inclinações naturais à violência e, assim, permitir um ano de paz com economia estável. Em O Ano da Eleição, o Expurgo está enfim ameaçado pela figura da senadora Charlie Roan (Elizabeth Mitchell), que, anos depois de ver sua família toda ser massacrada, concorre à presidência com a principal proposta de acabar com a noite de crime – mas se vê obrigada a lutar pela própria sobrevivência depois de ser traída por aliados.

Se o primeiro filme partia do microcosmo de uma família rica tentando sobreviver a uma invasão em casa, ambas as sequências expandem a ideia e suas consequências, indo para as ruas e explorando como o Expurgo se consolida apenas como mais uma maneira de promover uma limpeza social no país – morrem os pobres e desfavorecidos enquanto os ricos sobrevivem pelo simples fato de disporem de recursos o suficiente para garantirem sua segurança. Não que o longa de DeMonaco embarque em todas as camadas que sua proposta sugeriria desencadear, mas, para o contexto da franquia, até aparenta fazer boas discussões sociais, às vezes pecando até pela falta de sutileza – um dos personagens, no início do filme, simplesmente verbaliza que esse precisa ser o maior Expurgo de todos para limpar o país.

12 Horas para Sobreviver: O Ano da Eleição

Longe de se firmar como um terror que preze pela atmosfera ou mesmo pelos sustos, 12 Horas para Sobreviver é muito mais um filme de ação que, neste terceiro capítulo, abraça de vez o absurdo do seu universo ficcional e balanceia os comentários sociais com uma inclinação ao trash e ao humor camp – o que dizer da cena em que duas garotas cobertas de sangue em vestidos luxuosos são atropeladas por outra conhecida pela alcunha de “Pequeña Muerte”? É nesse equilíbrio que a franquia se sustenta como um entretenimento aceitável, ainda que longe de maiores ambições.

Paradoxalmente, ao fazer sua crítica à violência e ao sistema de castas, DeMonaco faz uso da própria violência com fins de catarse, para que o público se sinta vingado quando os “mocinhos” vencem, daquele jeitinho que Michael Haneke já criticava em seu Violência Gratuita (1997). Há outras problemáticas em jogo também, como a aparente perfeição da senadora Roan, que encarna em si mesma todos os ideais de integridade, e sua incômoda figura de “redentora” perante a uma comunidade negra que opta por uma abordagem mais radical contra as instituições mantenedoras do Expurgo. Mesmo assim, o longa permite um paralelo interessante com a própria corrida presidencial dos EUA deste ano: de um lado, está a imaculada senadora Roan, e de outro, um reverendo que simboliza tudo que há de mais retrógrado na sociedade retratada no filme – qualquer semelhança com um certo Donald Trump não é só mera coincidência.

Apesar da falta de sutileza em muitos momentos, 12 Horas para Sobreviver: O Ano da Eleição é um daqueles casos em que, uma vez que se embarca no surrealismo da proposta, a mistura de eventuais boas cenas de ação, nonsense e breves comentários sociais acaba originando aquela boa diversão descompromissada de um Supercine no sábado à noite.