Abordando temas extremamente atuais e relevantes como o racismo, fascismo e supremacia branca, o ganhador do Oscar de melhor Curta-Metragem por “Skin” (2018), o diretor e roteirista israelense Guy Nattiv lançou o longa homônimo, aclamado pela crítica durante o Festival de Berlim de 2019. Em sua obra, o cineasta aborda de maneira sensível, humana e tocante, a jornada em busca de redenção de um homem doutrinado para cometer atos de extrema violência, disseminando o ódio através do discurso neonazista.

Na trama, o protagonista Bryon Widner – interpretado de forma brilhante e visceral por Jamie Bell (“Billy Elliot”) – é um supremacista radical dos EUA. Apesar de suas ações sanguinárias e extremistas, Bryon se mostra cansado de seu modo de vida regado a crimes e devassidão. O protagonista vê na relação com Julie (Danielle MacDonald), mãe de três meninas, uma forma de construir laços afetivos e ter uma família.

“Skin” narra os caminhos de Bryon em busca de redimir seus crimes, mudar de vida e apagar as diversas tatuagens referente à supremacia branca que carrega no rosto e no corpo. O longa é baseado na vida do ex-skinheads Bryon Widner, integrante de uma gangue chamada ‘Vikings’, responsáveis por uma série de ataques e assassinatos de negros e imigrantes.

A obra de Nattiv é uma pérola do gênero, capaz tocar, incomodar e emocionar na mesma intensidade. O ponto alto da produção é nunca soar grandioso em sua narrativa ou ter a pretensão de ser único. Guy Nattiv não vai na contramão dos clássicos do gênero, usando artifícios já conhecidos da temática. “Skin” é um belo filme por narrar uma história real, contando com atuações verossímeis de seus intérpretes. No primeiro ato, somos apresentados a Bryon Widner que, apesar de seu jeito assustador, tem um lado humano e dócil no momento em que está com seu cão Boss ou quando defende três meninas após uma agressão.

Se em “Billy Elliot” Jamie Bell revelou todo seu talento para o drama, em “Skin”, o ator é coroado como a grande estrela do filme. Bell está completamente entregue ao seu personagem em uma atuação visceral, pesada, conseguindo mesclar cenas de puro ódio e amor com a mesma intensidade.

O roteiro contribui muito para a construção de seu protagonista, mas, é nas mudanças faciais do ator que vemos o quanto ele é grande. Jamie traz um personagem perdido, humano, doutrinado para cometer atos de pura violência em uma vida amoral, baseada em um discurso de ódio. Infelizmente, o roteiro derrapa em utilizar Julie como o único laço afetivo que instiga Bryon a mudar de vida. Ao final, fica claro que o protagonista tinha outra pessoa que lutou por ele e com o qual ele criou um laço tão grande quanto Julie e suas três filhas.

O filme não soa didático em nenhum momento, mas peca por romantizar alguns atos de seu protagonista ou por se tonar pouco real na metade do segundo ato. Apesar do roteiro ser um pouco mais florido em alguns pontos, a montagem salva em momentos cruciais, principalmente, com o ótimo uso de flashfowards, que aguça a curiosidade de quem assiste. A jornada de retirada das tatuagens assustadores de Bryon reflete a coragem, a força e a resiliência de seu personagem. Em seu desfecho, “Skin” deixa uma mensagem esperançosa de uma vida construída em tempos de ódio, regenerada.

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