A noite de entrega do Globo de Ouro resvalou no tédio por diversos momentos. Exceto pela vitória de “O Grande Hotel Budapeste” contra o favorito “Birdman” na disputa de Melhor Filme Comédia/Musical, todas as outras categorias relacionadas a cinema tiveram resultados esperados. Se ainda é cedo afirmar que o prêmio da Imprensa Estrangeira em Hollywood foi uma prévia do Oscar 2015, a tendência apontada na noite deste domingo (12) em Los Angeles mostra um cenário previsível até lá.
Isso significa o favoritismo absoluto de “Boyhood” na temporada de premiações. Produção levou os três prêmios esperados que fosse ganhar (Melhor Filme de Drama, Melhor Diretor com Richard Linklater e Melhor Atriz Coadjuvante para Patricia Arquette), confirmando a força desse projeto adorado tanto pela imprensa especializada quanto pela própria classe artística americana por trazer a maturidade cada vez mais esquecida por uma Hollywood infantilizada.
“Boyhood” cresce ainda mais pela divisão de forças entre “O Grande Hotel Budapeste” e “Birdman”. Quando se esperava a vitória do longa de Alejandro González Iñarritu após conquistar as categorias de Melhor Ator Drama (Michael Keaton) e Roteiro, a aventura de Wes Anderson tirou a estatueta de Melhor Filme de Comédia/Musical. Se “Budapeste” garantiu a vaga no Oscar de uma vez por todas, “Birdman” sofreu um revés inesperado, abalando a confiança de uma polarização com a obra de Linklater pela estatueta dourada.
DIREÇÃO
A própria conquista de Richard Linklater como melhor diretor fortalece o caminho de “Boyhood” rumo ao Oscar de Melhor Filme. O consenso na indústria e imprensa especializada pelo trabalho excepcional do cineasta por conseguir controlar uma produção ao longo de 12 anos e elevar ainda mais a qualidade já vista na excelente trilogia “Antes do Amanhecer” impede a chance de qualquer outro diretor conseguir competir em pés de igualdade com Linklater. Se joga contra Iñarritu o fato do compatriota mexicano Alfonso Cuáron ter ganho a mesma categoria no ano passado, os votantes da Academia e dos sindicatos americanos vão enxergar a chance de premiar Wes Anderson em Melhor Roteiro Original como uma compensação pela derrota nesta categoria.
ATUAÇÕES PRINCIPAIS
Para Melhor Ator, Michael Keaton está com a faca, o queijo, o vinho, os talheres e o que você mais quiser nas mãos para levar todos os prêmios. A possibilidade de fazer ressurgir um ator para o estrelato e a chance de vê-lo fazendo os ótimos discursos nas cerimônias de premiações encanta Hollywood. Eddie Redmayne até poderia ser uma pedra no sapato do ex-Batman, porém, a sensação de ser muito jovem com uma carreira inteira por construir e uma atuação clássica para vencer o Oscar (cinebiografia de figura adorada pelo público com intensa interpretação física) soa convencional demais.
Já Julianne Moore está imbatível na categoria de Melhor Atriz. Muito disso se deve a três fatores: 1) a necessidade de premiar uma intérprete respeitada sem ainda ter vencido um Oscar; 2) a ausência de concorrentes de peso pelo fato dos principais filmes terem como protagonistas figuras masculinas; 3) opção da atuação clássica com intenso trabalho físico em vez da escolha de um papel forte como o feito por Rosamund Pike em “Garota Exemplar”.
ATUAÇÕES COADJUVANTES
O carinho de toda a comunidade cinematográfica de Hollywood por J.K Simmons deve levá-lo ao primeiro Oscar da carreira. Nem mesmo os elogiados trabalhos de Mark Ruffalo em “Foxcatcher” e Ethan Hawke por “Boyhood” devem mudar o panorama apresentado no Globo de Ouro. Sente-se a necessidade de premiar o grande destaque de “Whiplash” pelo fato de não se saber quando ele terá uma outra oportunidade tão boa na carreira, além, claro, de ser um ótimo trabalho.
Patricia Arquette, então, é mais do que barbada como atriz coadjuvante. Nem a onipresente Meryl Streep e muito menos a simpática Emma Stone serão capazes de conseguir bater a intérprete da mãe de Mason. Será ainda a oportunidade de representar o respeito por toda a persistência do elenco de “Boyhood” por voltar ano após ano para gravar o filme.
ROTEIROS
Os três grandes filmes da temporada de premiação disputam o prêmio de Roteiro Original: “O Grande Hotel Budapeste”, “Boyhood” e “Birdman”, este último vencedor da categoria no Globo de Ouro. Mesmo com a conquista, a Academia pode querer compensar a derrota de Wes Anderson em direção. Já o texto de Linklater, por ser menos esquemático, corre bem por fora.
Entre a turma dos adaptados, os ingleses “O Jogo da Imitação” e “A Teoria de Tudo” dominam a briga com chances mínimas para “Garota Exemplar” surpreender.
ONDE PODE SAIR AS SURPRESAS
A vitória de “Como Treinar Seu Dragão 2” no Globo de Ouro mostrou a força da produção da Dreamworks na disputa. Porém, ao contrário de 2014 quando “Frozen” dominou a categoria, “Uma Aventura Lego” pode surpreender pelos elogios ostensivos da crítica americana e por fugir do tradicional tanto na questão técnica como no roteiro sarcástico e inteligente. A escolha no Oscar vai depender muito sobre quão convencional será a Academia.
Já em Melhor Filme Estrangeiro, o russo “Leviatã” pegou embalo na crise de relacionamento entre Vladimir Putin e Barack Obama. Saber se a categoria no Oscar terá esse peso político levado em conta pode fazer o ganhador se repetir. Por outro lado, a temática de “Ida” sobre os traumas do nazismo sempre foi muito bem vista pela Academia e a fotografia em preto e branco chama a atenção para o domínio técnico excelente do diretor Pawel Pawlikowski. Ainda tem as zebras vindas da Argentina e Suécia, respectivamente, “Relatos Selvagens” e “Força Maior”. Por definir.