O som dos pássaros, das cachoeiras, dos ventos e das cidades da Amazônia disponíveis e licenciados gratuitamente na internet. Esta é a base do “Amazon Wildtrack”, projeto de William Daurício , experiente técnico de áudio e som direto do audiovisual amazonense, disponibilizado na plataforma Freesound e no YouTube 

Desde fevereiro, William circula pelas principais cidades do Amazonas para captar as sonoridades da região. A viagem começou por Autazes ao passar pelo Lago do Auassu e na comunidade indígena Sampaio. Em seguida, foi para Novo Airão na região de Anavilhanas, Tabatinga e suas áreas de igapó e floresta, além da própria cidade. Tefé na comunidade do Nogueira, Parintins e Presidente Figueiredo foram outras rotas junto com a própria capital em locais como o Museu da Amazônia e o Parque do Mindu.  Jutaí será a próxima parada neste mês de dezembro. 

Para conseguir viajar pelo Amazonas e captar os sons, William conseguiu bancar os custos ao ser contemplado no Amazonas Criativo, edital da Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do governo estadual. Mas, engana-se quem pensa que, agora, o projeto chega ao fim. “O Amazon Wildtrack é permanente e seguirei fazendo durante os meus trabalhos pelo interior e pela própria capital”, disse.  

A ESTRATÉGIA PARA A CAPTAÇÃO 

William revelou que a ideia para o Amazon Wildtrack surgiu após muitos usuários de fóruns do setor tentarem encontrar sons da Amazônia em plataformas do gênero. “Na Freesound, por exemplo, tinham apenas uns três ou quatro arquivos. Pouco antes do edital, coincidiu que adquiri um gravador ambisônico, formato de som imersivo e possível de finalizar em Dolby Athimos, o atual padrão de cinema”, declarou. De acordo com William, o projeto é focado para a parte técnica de audiovisual, de pós-produção, além de rádios novelas ou projetos do tipo, além, claro, de quem queira ouvir à vontade na internet. 

Fugir de locais barulhentos e com a menor interferência humana possível é uma das estratégias de William para captar os sons. Muitas vezes, porém, não é possível, sendo necessário, às vezes, um pedido de colaboração de moradores da região para diminuir o volume do rádio ou da televisão. Seja nas viagens exclusivamente para o Amazon Wildtrack ou a trabalho, o gravador é um companheiro de William que sempre o saca quando nota a possibilidade de um som interessante. 

“Procuro captar o máximo de tempo possível para que a pessoa que baixar utilize o momento em que quiser. No mínimo, costumo deixar entre 10 e 20 minutos, mas, em média, dura uma hora. Já cheguei a ficar três horas em um local, mas, também já deixei gravador em uma árvore uma noite inteira e foi até melhor”, disse William.  

PENSAR O SOM 

Claro que um projeto tão ambicioso no meio da Amazônia terá perrengues e imprevistos. Em Tefé, distante 521 km de Manaus, William contou com o apoio com Orange Cavalcante e Geliel Soares, nomes importantes ligados ao audiovisual na cidade, e viajou junto com eles para uma região de igapó com uma embarcação de rabeta. “Na hora de retornar, notamos que o motor estava sem gasolina. Foi necessário remar por por 1h30 para voltar. Detalhe: tudo isso sob uma chuvarada”, lembrou o produtor. 

Com quase uma década de trabalho na cena local dedicados tanto a produções audiovisuais como na área de eventos, William Daurício trabalhou recentemente na websérie “Singulares” sobre cantoras e compositoras amazonenses e seus processos criativos. 

“De uns anos para cá, o interesse e a demanda por profissionais especializados em sons diretos cresceram no audiovisual local. Nota-se que a qualidade do som dos filmes melhorou bastante, porém, falta ainda a percepção de que não basta ter este profissional para obter um som bom: é preciso levar em conta fatores como a locação, figurino, o jeito como pensam o filme. Pensa-se no filme apenas na obra visual e nem tanto sonora. Com isso, ocorrem conflitos até pela frustração do que se imagina para aquele momento. Também não basta apenas o som direto, mas, também o cuidado com a pós para trabalhar o que foi captado”, declarou. 

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