Caio Pimenta apresenta os motivos que fazem Tom Cruise merecer a indicação em Melhor Ator por “Top Gun: Maverick”.

Antes de falar da polêmica deste ano, vamos voltar algumas décadas atrás para contar a relação entre Tom Cruise e o Oscar. Até um determinado momento, o astro e a Academia tinham uma relação para lá de positiva. 

O galã entrou no radar da temporada de premiações com “Negócio Arriscado” ao ser nomeado ao Globo de Ouro de Melhor Ator em Comédia/Musical em 1984. O primeiro “Top Gun” não rendeu nomeação para o astro, mas, faturou uma estatueta em 1987. No mesmo ano, viu o colega de elenco em “A Cor do Dinheiro”, Paul Newman, vencer Melhor Ator pela primeira vez na carreira.  

Dois anos depois, protagonizou “Rain Man”, grande vencedor da cerimônia de 1989. Aqui, entretanto, ele podia lamentar mais, afinal, teve a atuação esnobada em detrimento ao Dustin Hoffman, o ganhador de Melhor Ator. Cruise, finalmente, consegue a primeira nomeação por “Nascido em 4 de Julho”. Seria um desempenho perfeito para vencer Melhor Ator, porém, havia um Daniel Day Lewis no caminho com “Meu Pé Esquerdo”. 

Se “Questão de Honra”, “A Firma” e “Entrevista com Vampiro” não renderam as indicações esperadas, “Jerry Maguire” vingou o Tom Cruise. Ali, porém, o carisma não bastou e a derrota foi para o Geoffrey Rush, de “Shine”.  

Mesmo com a aura de Stanley Kubrick, “De Olhos Bem Fechados” rendeu abaixo do esperado e Tom Cruise passou longe de ser cotado para a temporada de premiações. A maior chance da carreira de ganhar o Oscar não demorou a vir com o excepcional desempenho em “Magnólia”. A Academia, entretanto, preferiu ficar com o Michael Caine no esquecível “Regras da Vida”.  

Dali em diante, o Tom Cruise nunca mais veio a ser indicado ao Oscar. E olha que ele fez o brilhante vilão de “Colateral” em que viu o parceiro dele de cena, o Jamie Foxx, nomeado, mas, ele não. Da metade dos anos 2000 para cá, ele focou em ser um astro de ação na série “Missão Impossível” e em sucessos como “No Limite do Amanhã”, “Jack Reacher” e “Oblivion”. Maior bilheteria de 2022, “Top Gun: Maverick” é o melhor filme desta safra. 

E este sucesso escancara os três principais motivos para a indicação do Tom Cruise não ser considerada um absurdo. 

O MAIOR ASTRO DOS NOSSOS TEMPOS 

Que me perdoem Tom Hanks, a Meryl Streep ou até o Leonardo DiCaprio, mas, não existe hoje nenhum astro de cinema como o Tom Cruise há tanto tempo nesta posição. A estrela de “Top Gun” remete a uma aura que os grandes nomes de Hollywood de antigamente tinham capazes de levar os mais variados públicos para o cinema somente pela presença dele. 

Tom Cruise é aquele tipo de estrela capaz de mobilizar o planeta, não importando onde esteja – basta lembrarmos das passagens dele pelo Brasil ou ao parar o último Festival de Cannes para lançar justamente “Top Gun”. Isso tudo sendo feito de modo ininterrupto em uma carreira com mais de 40 anos. 

O próprio Oscar já se rendeu a esta força popular do Tom Cruise ao chamá-lo para a abertura da cerimônia de 2002. Pode parecer algo trivial, porém, ali, era um Estados Unidos ainda abalado pela tragédia do 11 de setembro e a presença e discurso do astro era focado em trazer a esperança com uma mensagem de superação e força do cinema para ajudar o país a se recuperar.  

Para um evento acusado cada vez mais de estar elitizado e desconectado do grande público, a presença de Tom Cruise seria um aceno para esta audiência e um reconhecimento a um verdadeiro ator que faz jus à alcunha de astro. 

PAIXÃO PELO CINEMA 

A relação de amor do cinema com o Tom Cruise é recíproca: hoje, ele é uma das estrelas que mais lutam para manter o interesse das pessoas em irem às telonas. O próprio “Top Gun: Maverick” é uma demonstração disso. 

A continuação estava prevista para estrear em 2020, porém, a pandemia acabou com os planos. Durante grande parte daquele e do ano seguinte, pressões da Paramount Pictures para lançar o longa no streaming não faltaram, porém, a estrela bateu o pé e segurou o lançamento o quanto pode. A aposta deu certo como provou a bilheteria de US$ 1.4 bilhão ao redor do planeta. 

Mas, não foi só isso: “Top Gun” só está chegando agora nos serviços de streaming, praticamente um semestre depois da estreia nos cinemas. Tudo para preservar a janela de exibição nas telonas, algo inimaginável para a realidade atual.  

Falando de COVID-19, vale lembrar o pito que o Tom Cruise deu na equipe do novo “Missão Impossível”. Durante um período ainda crítico da pandemia, um áudio vazado dos bastidores traz o ator dando uma senhora bronca em profissionais que não tinham cuidado com o uso de máscaras e poderia colocar a produção em risco.  

O episódio arranharia a reputação de qualquer um em tempos de redes sociais, porém, a situação foi bastante elogiada tanto pelo cuidado sanitário como pela dedicação a que se entrega aos seus projetos tanto como ator quanto como produtor. Com 60 anos de vida e quatro décadas de carreira, ele poderia muito bem se dar ao luxo de não se preocupar mais com isso igual tantos colegas, mas, o amor e a entrega absoluta pela profissão o impedem de agir assim, algo que merece sempre ser reconhecido. 

O GRANDE NOME DO CINEMA DE AÇÃO 

A obsessão do Tom Cruise ganha ares ainda mais espetaculares quando falamos das sequências de ação. Em vez dos tradicionais dublês ou dos fundos verdes para o CGI tomar conta, o astro encara os riscos até o limite. 

Basta lembrar dele pendurado no Burj Khalifa, em Abu Dhabi, o prédio mais alto do mundo, em “Missão: Impossível – Protocolo Fantasma” ou do lado de fora de avião em “Nação Secreta”. Em “Efeito Fallout”, Cruise pilotou helicóptero em baixa altitude, mas, também se feriu ao saltar de um prédio para o outro. Para “Top Gun: Maverick”, o astro desafiou a Força G e comandou caças. No próximo longa da carreira, ele irá para o espaço para gravar na Estação Espacial Internacional. 

Quando você compara com astros mais novos como Tom Holland, Dwayne Johnson, Vin Diesel ou Ryan Reynolds que passam longe de algo do tipo, é um feito ainda maior. E isso se alia a um personagem que cai como uma luva ao astro com ele entregando todo o carisma e uma história que, de certa forma, homenageia não apenas o longa original como a própria trajetória do Tom Cruise no gênero. 

Aqui, aliás, reside minha principal defesa da indicação do Tom Cruise: nomeá-lo por “Top Gun” é um reconhecimento a esta trajetória ímpar no cinema atual e construída ao longo de décadas. Seria uma volta mais do que justa ao Oscar de um ator de alto nível e dedicado como poucos na indústria.  

Seria uma indicação que será lembrada para sempre diferente de uma seleção trivial de um Hugh Jackman, Paul Mescal, Adam Sandler, Gabriel LaBelle ou Will Smith.