Com Atividade Paranormal – Dimensão Fantasma, a lucrativa franquia de terror chega a um paradoxo. Trata-se de uma franquia cuja ideia de medo é a de alternar entre vários minutos nos quais nada acontece com cenas com BARULHOS ALTOS para assustar o espectador. Portas sendo abertas ou móveis caindo eram os ingredientes do susto, e os fantasmas e demônios nunca apareciam realmente. Pois neste Dimensão Fantasma, o quinto da franquia oficial – além dos dois derivados já produzidos, um japonês e um hispânico – os produtores prometeram que o público, enfim, “veria a atividade”. Esta frase até constou dos materiais promocionais do filme. Uma promessa vazia, pois no fim das contas a nova produção, que promete encerrar a série, não resolve esse paradoxo e se torna apenas mais um terror com BARULHOS ALTOS e muita computação gráfica.

A franquia, no entanto, não é completamente desprovida de mérito. O primeiro filme, em minha opinião, é muito eficiente e assustador – uma perfeita historinha do trancoso, bem contada e que assustava o espectador pela simplicidade. A ideia básica do diretor Oren Peli, que lhe ocorreu ao ser acordado no meio da noite por uma caixa que caiu do alto de uma prateleira, era explorar como somos vulneráveis enquanto dormimos à noite, e se baseava inteiramente no temor de ter a casa invadida. As sequências, no entanto, sucumbiram a irritantes clichês tolos do gênero: culto satânico; criancinhas sinistras; personagens que perguntam “Olá, tem alguém aí?” no meio da escuridão quando deveriam cair fora; famílias que não abandonam suas casas assombradas mesmo depois de terem visto coisas arrepiantes; e o principal: pessoas que não param de filmar mesmo em situações absurdas, forçando a barra para manter a premissa de filmagem caseira intacta.

Das sequências, a mais bem sucedida foi a terceira, por ter sido filmada de maneira mais esperta e interessante que as demais – o segundo e o quarto são absolutamente horríveis. E é justamente a terceira que serve como base para este Dimensão Fantasma. A história se passa perto do Natal de 2013, quando uma família, os Fleeges, se muda para uma bela e nova casa. Eles encontram uma caixa de fitas VHS e uma enorme e desengonçada câmera dos anos 1980 no lugar. As fitas revelam o condicionamento mental das jovens Katie e Kristen, as heroínas dos dois primeiros filmes, ainda na infância, nas mãos do culto satânico. Não demora muito e a família começa a sofrer com acontecimentos estranhos que parecem visar a filhinha mais nova, Leila (Ivy George). A diferença agora é que, com a câmera, será possível captar a entidade maligna que assombra a família, o já conhecido “Toby” dos capítulos anteriores da franquia.

Um dos mandamentos das histórias de terror é: sempre mantenha o monstro o mais escondido possível. Na hora em que ele é mostrado, o poder da imaginação da plateia se vai completamente, e a imaginação é sempre mais forte que qualquer criatura ou efeito presente na tela. É possível mostrar o monstro e ainda assim manter a tensão? Claro, mas não é o que acontece aqui. O “Toby” é criado inteiramente por computação gráfica e feito para ser visto em 3D – este é o primeiro exemplar da franquia no formato. Mas imaginação foi o que faltou aos cineastas na hora de concebê-lo. Numa hora, ele parece o efeito da invisibilidade do Predador; noutra, parece uma poça do óleo negro do Arquivo X. E em outros momentos, é apenas uma mancha preta voando sobre a câmera. Um rosto que aparece em alguns momentos lembra a criatura de A Entidade (2012). Sinceramente, as pegadas no pó ao redor da cama do primeiro Atividade impressionam bem mais que qualquer computação gráfica deste aqui.

A visualização do “Toby” e o 3D são realmente as únicas variações na fórmula da franquia, então de novo o espectador se limita a ver longos minutos do que parece ser um vídeo caseiro e apenas alguns poucos minutos nos quais algo realmente acontece – para uma franquia tão bem sucedida, é incrível como os filmes Atividade Paranormal, exceto pelo primeiro, são tão chatos e pouco assustadores. O elenco tem papeis bem rasos com que trabalhar – ao menos as interações entre o pai da família Ryan (Chris J. Murray) e o bigodudo Mike (Dan Gill) rendem alguns bem vindos momentos de humor, e a menininha Ivy George sabe fazer cara de maluca. Já o roteiro até introduz um interessante elemento praticamente “temporal” na história, graças às “conversas” entre as velhas fitas de Katie e Kristen e as pessoas no tempo presente – pena que isso não seja mais desenvolvido pela história. E o diretor da vez, Gregory Plotkin, é o veterano montador da franquia, e para seu mérito ele até consegue criar uns visuais interessantes, como o “túnel” na parede, e talvez por sua experiência com montagem, seu filme mantém um ritmo mais ágil do que outros longas da série.

Mas o trabalho do diretor e dos atores não vence a sensação de cansaço da franquia. A essa altura, os filmes Atividade Paranormal já foram dominados por seus clichês e a estrutura da filmagem caseira virou um gesso que mais atrapalha do que ajuda a série – neste aqui, a câmera começa a gravar logo depois de uma morte, a da cena final de Atividade 3, ou seja, o cadáver nem esfria e os cinegrafistas amadores da franquia não resistem a pegar numa câmera.

No fundo, os realizadores deste filme e dos anteriores sabem o que estão fazendo: esses filmes são os equivalentes cinematográficos das brincadeiras do copo ou da “Bloody Mary” – não à toa, esta é referenciada no filme – e cujo objetivo é dar uns sustos nos mais impressionáveis, na maioria das vezes via BARULHO ALTO. Caso este seja realmente o fim da franquia, trata-se de uma morte anunciada: sem propósito narrativo e agora contando apenas com efeitos visuais, finalmente fica claro que a série Atividade Paranormal já perdeu seu “espírito” há muito tempo.