Chicão Fill é um dos mais atuantes produtores audiovisuais do Amazonas. Envolvido na atividade desde 2001, sua produtora Amazon Film recebe e presta serviços a produções nacionais e internacionais que vêm filmar na Amazônia. Em 2015 Fill lançou seu primeiro filme como diretor, o documentário Amazônia: O Jogo da Bola, sobre a história do futebol na região e como ela influenciou no desenvolvimento mundial do esporte.

No próximo dia 21 de junho, Amazônia: O Jogo da Bola será exibido no Canal Brasil, às 20h (horário de Brasília), e depois será reprisado no dia 27, às 13h30. Aproveitando esse novo marco dentro da carreira do filme, o Cine Set conversou com Chicão Fill sobre seu trabalho, a produção do documentário e a paixão pelo futebol.

Cine Set: Primeiro, fale um pouco sobre o filme. Como nasceu esse projeto?

Chicão Fill: É um filme documental, para o qual eu pesquisei durante praticamente cinco anos. Decidi logo de cara que seria um documentário e depois de muita reflexão, cheguei à conclusão de que deveria ser um longa. A intenção era lançá-lo na época da Copa do Mundo, mas não consegui. Foi uma produção independente, a minha produtora que bancou, então tive um pouco de dificuldades. Mas consegui deixa-lo pronto depois da Copa. É uma reflexão histórica, baseada numa pesquisa científica de um francês, que há 300 anos veio à Amazônia e descobre, segundo ele, um “jogo de pés com uma bola que pulava contra a lei da gravidade”. Era o cientista Charles de La Condamine, e ele examinou isso junto aos índios Cambebas, e acabou conduzindo a uma revolução. Nasceu o ciclo da borracha e ela vai servir para as junções das máquinas da segunda Revolução Industrial. Essa borracha vai fazer pular a bola de trapo europeia, ajudando a dar origem ao futebol de regra inglesa.

Cine Set: É um tema muito interessante. Como você o descobriu?

Chicão Fill: Olha, eu sou daqui. Minha mãe é filha de seringueiros, meu pai é filho de coronel seringalista. Então, a borracha fez parte da minha vida. Sou novo ainda, de 1970, mas desde que nasci sei o que é a vida de um seringueiro, o que era um coronel da borracha… Eu já tinha um fascínio. Sou de Itacoatiara, mas fui criado na beira do mercadão. Graças a Deus ainda joguei bola e aquilo ficou. Depois que virei produtor recebi aqui outros produtores que vieram fazer filmes sobre eventos de futebol na Amazônia, sobre o Peladão, e sempre esqueciam essa essência. Então um dia decidi fazer um filme sobre a bola e cheguei a essa pesquisa, e o Márcio Souza a endossou muito bem no filme. E graças ao filme fui convidado para ir à Inglaterra, ao museu de Manchester, para exibi-lo lá e eles ficaram impressionados.

Cine Set: Imagino. Afinal, foram eles que inventaram o futebol, com grande participação daqui!

Chicão Fill: Isso tem tudo a ver com os ingleses porque foram eles que inventaram o futebol de regra. E eles foram muito presentes aqui na nossa história, não é? Então, além daquele lado primitivo que eu retrato no filme, o da descoberta, também entro no futebol de regra inglesa, colocando Manaus como uma das primeiras cidades que o recebeu. Quando a bola de couro, antes de trapo, começa a pular, nasce a ginga, a bola de cabeça, ocorre todo um processo de modificação e de modernização do futebol. Foi um processo mundial e foi a seringa da Amazônia que tornou possível. Digamos que essa é a “história nunca contada” [Risos].

chicão fill amazonas o jogo da bolaCine Set: Fale sobre as filmagens. Quando começaram?

Chicão Fill: Bem, eu pesquisei por cinco anos, começando e parando, olhando livros. Não havia muita coisa, como se pode imaginar. Pesquisei o momento de glória no Parque Amazonense, a construção do Vivaldão, do bairro da Glória, do RioNal de 1980, que eu ainda peguei. Comprei também o livro “O Ladrão do Fim do Mundo”, do americano John Jackson, sobre contrabando, do inglês que roubou daqui 70 mudas. Tudo isso eu usei pra montar, foi roteirizando. Chamei o Oscar Ramos para ser nosso diretor de arte e consultor de produção.

As pesquisas do La Condamine, consultei com o Márcio Souza. Passei 2 anos também para encontrar o expert em futebol inglês, o professor Gaspar Vieira. Ele faz uma participação espetacular no filme. Então, foi uma junção de vários talentos, todos com muita propriedade pra falar. Fora que ainda tem o Ronaldo Santos, Valdir Correia, uma série de gente.

E chegamos até a Copa, com a polêmica da Arena da Amazônia. Fazemos uma crítica. E eu termino o filme dando uma volta no tempo, até os índios Cambebas. Foi um filme feito com paixão, acho que o Brasil vai conhecer uma nova versão do futebol, vamos pedir licença do Brasil pra apresentar essa história nunca contada, aposentando aquela do Charles Miller. Aqui, em 1896, os ingleses já jogavam bola, a que pulava, na praia de São Vicente. E os milionários, barões da borracha e empresários da época, por gostarem, também trouxeram chuteiras, calções… E como tinham um sistema de apartheid, os ingleses não se misturavam com os amazonenses, então começaram a surgir os escretes.

Aqui, o futebol era de elite, diferente de quando surgiu no resto  do Brasil. E só depois democratizou, dando origem a vários escretes. O filme mostra todo esse processo histórico. A história do futebol aqui é muito bacana. O jovem amazonense que hoje torce para Vasco e Flamengo não sabe que o Nacional daqui foi campeão brasileiro em 1969. Então, é uma paixão que estava guardada e foi contada no audiovisual.

Cine Set: Sobre a exibição no Canal Brasil… Como foi viabilizada?

Chicão Fill: Participei do Cinefoot [Nota do Cine Set: Festival de Cinema de Futebol] no Rio de Janeiro e concorremos.  Lá, o pessoal do Canal Brasil assistiu e gostou e me pediram uma cópia. Estabelecemos um contrato com ele de veiculação exclusiva na televisão.

Cine Set: E quanto aos próximos passos do filme?

Chicão Fill: O filme já foi lançado em Manaus ano passado, agora vai passar na televisão. Temos convites das Olimpíadas, com um pessoal interessado em exibir. E também temos novos projetos de filmes sobre futebol, e algumas TVs da Europa estão interessadas. E do filme vai nascer um livro, que está em desenvolvimento.


Não esqueça: Amazônia: O Jogo da Bola passa dia 21 no Canal Brasil, às 20h (horário de Brasília).