Preciso iniciar esse texto com o seguinte enunciado: ‘Não leia a sinopse’.
“Se Algo Acontecer… Te Amo” é um curta de 12 minutos disponível na Netflix. Procure e dê o play direto, repito: ‘não leia a sinopse’; ela dá um descarado spoiler.
Dito isso, devo dizer que assim o fiz. Me foi recomendado o filme, eu o busquei e assisti imediatamente. Para minha grata surpresa fui tomado por uma sensível, delicada e intensa história que envolve muitos sentimentos. Como pode um filme tão curto, uma animação, melhor dizendo, sem absolutamente nenhuma fala, emocionar tanto?
Procuro sempre depositar um olhar muito cuidadoso quando assisto a filmes de animação, muito mais do que quando assisto às live-actions habituais. Explico: sendo o cinema uma arte de fundamental importância do diretor, aqui, é a oportunidade para que ele possa orquestrar milímetro por milímetro do que se quer apresentar, de estruturar o roteiro de acordo com o traço desejado, dependendo de uma equipe e programas de edição sem se preocupar em locações, dias de chuva, sol e etc. É o seu momento.
CARTA NA MANGA
O desenho, segundo a própria diretora artística e animadora, Youngran Nho, tem traços e aspectos inacabados para dar uma ideia de ‘vazio’. Desta forma, “Se Algo Acontecer… Te Amo” cumpre muito bem as ideias que se propõe. Eu diria que assisti a uma obra melancólica, daquelas de deixar um nó na garganta, fazer a gente chorar e ficar pensando depois. Sem me ater muito no que este filme fala, preciso dizer que existe um imbróglio político muito específico para além do que assistimos.
Os Estados Unidos são um país de vasto histórico em violência por armas de fogo e este é um ponto crucial e que, de cara, somos apresentados, porém, ao passo que nos é revelado os próximos acontecimentos, vamos nos atendo num mar de emoção que, pessoalmente, não me lembro de ter me envolvido tanto. Eu não me emocionava desse jeito desde “Josué e o Pé de Macaxeira” (2009) de Diogo Pereira Viegas, curta de animação de também exatos 12 minutos.
“Se Algo Acontecer… Te Amo” tem direção de Michael Govier e Will McCormack e a uma canção comovente chamada “1950” da cantora King Princess. As cores, os símbolos e o recurso das sombras sobre as personagens para nos remeter a um passado e presente foi um recurso extremamente inteligente, pois, sem esta ‘carta na manga’ talvez a animação tivesse que dispor de mais tempo para nos explicar o que fica muito claro em poucos gestos e olhares profundos dos amorosos desenhos.
Filme fundamental e necessário em tempos de tanta violência crescente no mundo em que vivemos.