Caio Pimenta analisa o provável duelo entre Anthony Hopkins e Chadwick Boseman na disputa pelo Oscar 2021 de Melhor Ator.
PRIMEIRO, OS DEMAIS CANDIDATOS
Antes da gente entrar nos favoritos ao prêmio, vamos falar de quem tem chances de disputar o Oscar de Melhor Ator. Dois nomes estão muito perto das indicações.
Riz Ahmed, por exemplo, tem tudo para ficar com uma das vagas pelo trabalho visceral em “O Som do Silêncio”. O filme já está disponível na Amazon Prime e dá para entender o porquê da atuação estar sendo tão elogiada. Outro bem próximo da nomeação é o Steven Yeun, de “Minari”, filme que vem ganhando espaço nas últimas semanas.
A última vaga traz uma briga bem acirrada.
O Delroy Lindo aparece com mais chances por “Destacamento Blood”. Seria uma forma de homenagear o ator que encontra o melhor papel da carreira no filmaço do Spike Lee. Já o Gary Oldman caiu um pouquinho e já não parece nome certo na disputa por “Mank”. Porém, como o filme do David Fincher, é candidato forte para liderar as indicações não dá para descartá-lo. O Lakeith Stanfield tem potencial de crescimento com “Judas e o Messias Negro” assim como o Kingsley Ben-Adir, por “One Night in Miami”. O Mads Mikkelsen, por “Another Round”, Colin Firth, de “Supernova”, Tom Hanks, de “Relatos do Mundo” e até o Ben Affleck, de “O Caminho da Volta” correm por fora.
Desta turma, acho que o Delroy Lindo fica com a vaga, mas, não me surpreenderia do Gary Oldman acabar tomando a vaga do Steven Yeun. Porém, nenhum deles deve levar a estatueta, afinal, a briga está acirrada entre Anthony Hopkins e o Chadwick.
Agora, quais os pontos fortes e fracos de cada um deles?
AS CHANCES DE ANTHONY HOPKINS
Ganhador do Oscar da categoria em 1991 pelo fantástico Hannibal Lecter de “O Silêncio dos Inocentes”, o Anthony Hopkins tenta a segunda estatueta da carreira pelo trabalho em “The Father”.
No longa dirigido pelo Florian Zeller, o ator interpreta um sujeito lidando com os problemas decorrentes do mal de Alzheimer com perdas da noção da realidade e um vai e vem constante da memória, enquanto a filha dele, vivida pela Olivia Colman, tenta dar ao pai a melhor vida possível ao mesmo tempo em que se despede dele em vida.
Depois de um tempão fazer suspenses de quinta categoria e ser o pai do Thor da Marvel, o Anthony Hopkins parece que voltou a boa forma desde o ano passado quando interpretou Bento XVI em “Dois Papas”. Desde a exibição em Sundance no início de 2020, ele tem sido elogiado por onde passa; a frase mais comum de se ler na internet sobre a atuação é que a melhor desde justamente “O Silêncio dos Inocentes”.
Com 82 anos e a gente no meio desta incerteza da pandemia e do próprio futuro do cinema, essa pode ser a última chance dele vencer o Oscar. E o Hopkins irá contar com toda a máquina da Sony Pictures Classics, afinal de contas, essa é a única real oportunidade de “The Father” sair vencedor de uma das categorias principais do evento. A produção, dificilmente, irá levar Melhor Filme e Direção. Uma segunda estatueta para a Olivia Colman parece ainda precoce.
Mas, tem um rival no meio do caminho para impedir esse segundo Oscar.
AS CHANCES DE CHADWICK BOSEMAN
O choque pela morte para lá de cedo do Chadwick Boseman foi o momento mais triste da cultura pop neste horrível 2020. Um cara que transcendeu o mundo dos filmes de quadrinhos para se tornar ícone de crianças e jovens negros mundo afora.
E, neste ano, com dois grandes filmes, ele daria aquele salto tão desejado para as estrelas de Holywood de também ser reconhecido pelos seus pares no maior prêmio da indústria, o Oscar.
Inicialmente, imaginava-se que ele poderia concorrer em dose dupla em Ator Coadjuvante pelo soldado mítico de “Destacamento Blood” e pelo músico indomável de “A Voz Suprema do Blues”. Porém, foi só o drama musical do George C. Wolfe começar a ser visto que se percebeu que o Boseman roubava a cena a tal ponto de fazê-lo ser uma escolha natural da Netflix para Melhor Ator.
Evidente que a comoção pela morte do Boseman é um fator que pode ser decisivo. Vale a gente lembrar as vitórias póstumas do Peter Finch, por “Rede de Intrigas” e do Heath Ledger, por “Batman – O Cavaleiro das Trevas”.
Por outro lado, o James Dean, outro ícone pop, foi indicado depois de ter morrido por “Vidas Amargas” e “Assim Caminha a Humanidade”, mas, não venceu na categoria. Assim como o Spencer Tracy, de “Adivinhe quem vem para Jantar”, e também o Massimo Troisi, de “O Carteiro e o Poeta”.
Com o Delroy Lindo e o Gary Oldman sem grandes chances de vitória, a Netflix deve direcionar toda a artilharia dela em Melhor Ator, uma categoria que ela ainda não venceu, para o Boseman. Além da comoção pela morte, há também o aspecto de ser um intérprete negro voltando a ganhar Melhor Ator após 15 edições, algo especialmente relevante dentro do contexto social dos EUA e também dentro da Academia.