O penúltimo dia da Mostra de Cinema de Tiradentes não foi mesmo dos mais inspirados. Após o fraquíssimo “Alegorias”, fomos “brindados” na Cine-Tenda com este “A Vida São Dois Dias”. Em comparação ao longa anterior, o latente cuidado na feitura das imagens e sons que este longa de Leonardo Mouramateus denota foi recebido com suspiros de alívio. Mas a coisa logo desandou ao ficar claro que o filme seria, antes de qualquer coisa, um banquete de afetações. 

A começar pela janela em 1.33, passando também pelos whip pans e pelos diálogos pseudo-espirituosos. É tudo calculado para passar a ideia de uma certa esperteza blasé, mas o esforço por trás da empreitada é visível. 

A bem da verdade, o ator Mauro Soares é uma boa presença em tela. Em papel duplo, ele se sai melhor como Rômulo, o relaxado mestrando com aspirações artísticas. Rômulo não é muito bom no que faz, mas pelo menos é feliz. Do outro lado do Atlântico, em Portugal, está seu irmão Orlando, também interpretado por Soares. 

Orlando é do tipo turrão, duro. Talvez a culpa esteja mais no roteiro do que na atuação de Soares, mas a verdade é que não é das coisas mais aprazíveis acompanhar as cenas do rapaz. O pior é que a maior parte da trama é dedicada a Orlando, que precisa reabilitar sua relação com o irmão após a publicação e repentino sucesso de um livro de Rómulo. 

A trama se desdobra em um vai-e-vem que até que prende nossa atenção intermitentemente, mas a irritação é mais forte. Os hipsters em cena podem até ter seus olhos de cachorro morto, mas o cansaço maior é o nosso.